UMA LIBERDADE RESPONSÁVEL E ESCLARECIDA INCOMODA
O aborto deu, dá e dará que falar. E dificilmente se achará bom senso nas opiniões e nas discussões enquanto perdurar o fanatismo, a ignorância e o desrespeito pela vida humana. Da extrema-esquerda à extrema-direita, do agnosticismo à religião, do político ao apolítico, parece que fanatismo e ignorância há em todo o lado, e que se aliam como se de uma união indissolúvel se tratasse.
Vem isto a propósito de algumas opiniões de jornal e em blogues que vou lendo a propósito da análise dos dados da DGS sobre os abortos praticados à pala da nova lei do aborto. Regozijam-se, salvo raras excepções, aqueles que defenderam o “sim” ao aborto até às 10 semanas, por opção da mulher, porque, em Portugal, a mulher adquiriu um direito que outras já tinham noutros países, sobretudo na Europa e na América no Norte, onde se regista o melhor nível de vida e onde a mulher alcançou uma liberdade que antes não tinha (tentação de raciocínio: o aborto dá direito a melhor nível de vida).
Vir, agora, desdizer que 50.000 abortos, nalguns casos repetidos (em 2, 3 e 4 abortos) era como se se dissesse “Calma aí! Afinal, as mulheres não são assim tão responsáveis como se dizia. O aborto pratica-se em qualquer situação. Tem de se pôr travão nisto.” era vir admitir que se estava errado. Ora, dar o braço a torcer ou ser-se suficientemente humilde é difícil e cria uma raiva às pessoas, que não sei porque será isso se todos podemos errar, decorrente até da manipulação de outros. É difícil, portanto, que quem defendeu o “sim” ao aborto livre venha admitir que a lei é um falhanço autêntico. Foram, em dados acumulados, até agora, cerca de 50.000 abortos! (Sem contar com o aborto clandestino, cujos dados, por serem clandestinos, são dificílimos de contabilizar, mas que se poderá adivinhar não causar agora tanta repulsa, dado que o pudor a um aborto está, agora, menos fragilizado.) Isto é um número surpreendente, que nos deverá fazer pensar e actuar.
Eu até compreendo porque é que algumas pessoas, fazendo-se passar pela maioria, não voltam atrás e diz regozijar-se com os resultados da lei. (Eles são efectivamente maus. E completamente desregrados!) E porque assim é?
A resposta é o poder. A mulher tem o poder (não é só o direito, é o poder!) de controlar a mais óbvia das leis da natureza. Tem o poder de se contrapor ao “inimigo”, de se impor, de controlar. Tal como fez o homem durante séculos. E, agora, é a vez delas. (E uma mulher que discorde desta visão feminista está fora da onda, já para não dizer lixada!) O poder é uma ambição desmedida, é um desvario dificilmente controlável. E começam as lutas, as facções, as guerras: eles e elas, nós e eles. Chegados aqui, onde não se regista respeito pelo outro, em que o outro só serve para uso, o mais que há é abuso.
Uma gravidez é um empecilho! Uma gravidez não permite ter um corpo belo e brilhante, impossibilita as mulheres de terem emprego e de o manterem, e consequência disso, de serem autónomas. Uma gravidez implica muita responsabilidade e obriga as pessoas a tomarem um rumo diferente para a vida. Traz despesas e cansaço. Uma gravidez não é conveniente. Uma gravidez contraria o materialismo e o estilo de vida actual. É isto que se pensa. É esta a triste e infeliz realidade.
Dizer que se atingiu o extremo (nos E.U.A. foi pior, admitiu-se mesmo o aborto parcial) pode ser entendido como “Pois. As mulheres não podem ter liberdade.” E, como já estamos a ver, começa o descarrilamento e passa-se do 8 ao 80. Há, de facto, muito medo de perder a liberdade alcançada e medo de ficar para trás.
2.
E, depois, há o contrário, no lado oposto da barricada: o medo do desregramento e a perda do bom senso nas questões éticas que dizem respeito à vida humana, o medo do vale tudo, em todas as circunstâncias. E há, claro, o medo dos abusos, de interpretações que admitam tudo de todas as maneiras. Aqui, depois, também há fanatismos e a impossibilidade de discussão…
3.
Sejamos sérios: em tudo tem de haver bom senso. E porque não há bom senso? Qual é o problema disto tudo? Já o disse, o fanatismo, a ignorância e o desrespeito pela vida humana.
Nenhum homem, nenhuma mulher pode considerar-se livre se não for responsável e se não for esclarecido/a. Hoje, mais do que nunca vivemos num tempo em que sabemos que homem e mulher são iguais em direitos e deveres; que a vida humana não é uma coisa qualquer, que se faz e depois se desfaz; que a família precisa de estabilidade económica, afectiva e apoio, que se precisam de verdadeiras políticas de família, que nos comprometem a todos no futuro; que se sabe como se engravida; que uma educação sexual bem dada em princípios, valores e exemplos é fundamental para se prevenirem gravidezes não desejadas. Mas parece que não sabemos nada disto.
A liberdade só o é se houver responsabilidade e esclarecimento. Se hoje temos tantos meios que nos permitem ser esclarecidos, é difícil entender o porquê de políticas tão inconscientes, de tanta irresponsabilidade, de tanto desrespeito pela mulher, pelo seu direito a ter filhos, sem ser prejudicada por isso, do direito dos próprios homens, cada vez mais ameaçado.
Porque mete tanto medo uma verdadeira liberdade responsável e esclarecida?
4.
A nova lei do aborto é um desastre, uma irresponsabilidade terrível, um abuso do poder, um meio que fragilizou as mulheres, e também os homens, por carecerem de uma política de família que as/os ajude a ter família, a manterem postos de trabalho. E os mais jovens são quem paga a factura. Pois claro! Espero que os -ismos que afunilam as hipóteses de as pessoas se realizarem com filhos tenham os dias contados.
Não acabou o aborto clandestino. O negócio das clínicas de aborto é chorudo. As despesas com o aborto não sofrem os cortes da crise (curiosamente sofrem aqueles que têm família e bocas para alimentar e crianças para educar). O planeamento familiar não funciona. A informação de planeamento familiar ou de educação sexual é dada pela metade. Os pais não têm formação para educar os seus filhos. As famílias são impedidas de terem filhos e de se realizarem com isso. As mulheres que têm filhos ou estão grávidas são prejudicadas por isso. Sim, há mulheres coagidas a fazer abortos. E disto não se fala… Porquê?
Sabemos que sabemos que estamos mal. E sabemos o que fazer: mudar.
2 comentários:
Compreendo a sua visão, e posso até concordar que a lei é má. Mas em todo este post vi sobretudo um testemunho de fé seu. Seria mais interessante explicar porque 50.000 abortos é um falhanço. Seria também interessante esclarecer de forma mais concreta (para além dos programas de incentivo e planeamento à familia, a informação e por ai fora...) o que realmente mudava na lei, ou devo dizer na verdadeira atribuição da liberdade/poder à mulher de escolha, para passar a ser uma lei aceitável para si.
Tudo claro, no sentido de um debate esclarecido.
Caro anónimo, importa-se de se identificar? Respondo depois de o fazer. Liliana
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