quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Hospitais objectores vão ter locais para tirar dúvidas (?!)


Hospitais objectores vão ter locais para tirar dúvidas


Os hospitais com 100 por cento de médicos objectores de consciência vão ter que ter um local próprio e horários para esclarecer dúvidas sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), esclarece uma circular da Administração Central do Sistema de Saúde enviada há cerca de duas semanas às unidades em causa. A razão para o envio do documento teve a ver com a existência de algumas queixas.


No Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, "há várias participações de senhoras que não foram devidamente encaminhadas, pelo menos de forma rápida", explica o coordenador nacional do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, Jorge Branco. "Há algum descontentamento em relação ao atendimento", diz, apesar de não haver quaisquer casos reportados de pessoas que não puderam fazer IVG por causa destes problemas.


Unidades são menos de dez


A circular esclarece que, apesar de não fazerem IVG, nas consultas de ginecologia-obstetrícia dos hospitais em causa tem que haver um local próprio de aconselhamento, que deverá ser devidamente identificado, assim como a hora e os dias de aconselhamento, onde deverá estar presente um profissional de saúde, de preferência um enfermeiro, explica Jorge Branco. É neste local específico que as mulheres que pretendam fazer IVG até às dez semanas terão que requerer "um termo de encaminhamento", onde o hospital em causa refere que se responsabilizará pelo pagamento do acto numa clínica privada. A mulher terá então que levar este documento até ao estabelecimento privado, que, no caso do São Francisco Xavier, é a Clínica dos Arcos.


Jorge Branco não consegue precisar quantas unidades têm a totalidade dos médicos como objectores, uma vez que alguns hospitais contratam pontualmente clínicos do exterior para fazerem IVG. As unidades em causa não chegam a dez - da lista fazem também parte Caldas da Rainha, Évora, São Miguel e Terceira (Açores), entre outros.


Nos primeiros três meses de aplicação da lei, até 19 de Outubro, foram feitos 2404 abortos. Cerca de 60 por cento fizeram-se recorrendo ao método químico (comprimidos) e os restantes ao método cirúrgico, informa Jorge Branco. O presidente do colégio de especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, afirma que esta média está inflacionada pela Clínica dos Arcos, onde se faz "um terço dos abortos", e que só recorre ao método cirúrgico. Por exemplo, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde dirige o serviço de ginecologia, o método químico foi responsável por 94 por cento das IVG. No Garcia de Orta (Almada), este número também ronda os 90 por cento, explica o director do serviço de ginecologia, Manuel Hermida. São poucas as mulheres que desistem da IVG após os três dias de reflexão, mas são quase dez por cento na Maternidade de Alfredo da Costa, em Lisboa, nota Jorge Branco, que é director da unidade. Também são muito poucas as grávidas que pedem apoio psicológico, nota Manuel Hermida: menos de um por cento. O responsável sublinha que não só a maioria das grávidas não requer aconselhamento fora da consulta como, para muitas, os três dias de reflexão são "perturbadores". "Querem despachar porque a decisão está tomada, conscientemente", diz Manuel Hermida. C.G.


Fonte: Público, 04.11.2007

Ver notícias relacionadas aqui (História verídica e dramática de quem fez um aborto voluntário) e aqui (Dúvidas na datação de ecografias).

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