“Com salários de 500 euros não posso dar qualidade de vida a um filho”
Em véspera do Dia Universal da Criança, casos de portuguesas que quiseram ser mães
RELATOS
Paula, 32 anos, trabalha e vive em Coimbra e não tem filhos. “Com salários de 500 euros é impossível dar alguma qualidade de vida a um filho”, reage quando se lhe pergunta por que escolheu não ter descendência até ao momento. A instabilidade laboral, o trabalho precário e os abonos de família “ridículos” são as razões para Paula não ter filhos, embora frise que tem vontade de ser mãe.
“A culpa é do Governo”, dispara, assegurando que, se o apoio estatal fosse justo, teria filhos com toda a certeza. “Se fosse como em França, que dão por cada criança um subsídio aos pais durante três anos, se houvesse incentivos, eu teria um filho, mas com salários de 500 euros é uma questão de responsabilidade, porque há coisas incontornáveis, nomeadamente a alimentação e as fraldas”, diz em vésperas do Dia Universal da Criança, que se assinala amanhã.
Com mais um filho tudo muda
Também na casa dos trinta e a trabalhar numa empresa de Aveiro, Ana, casada e com um filho de três anos, conta que, provavelmente, não voltará a ser mãe. Para Ana, ter um segundo bebé implicaria “mudar de casa, mudar de carro e voltar a ter o ordenado congelado por pedir ausências para acompanhar o filho na doença”. “No Luxemburgo, por exemplo, tenho familiares que por erem um bebé recebem de psente 2 500 euros e, mensalmente, um subsídio superior ao ordenado mínimo nacional”, diz a jovem mãe.
O ritmo dos dias de hoje também é um impedimento. “Se eu tivesse mais um filho dava em louca”, diz Ana, referindo que os horários laborais e o ritmo diário não permitem ter tempo para o mais importante: as crianças.
Ana Luísa Amorim, 56 anos, funcionária em Faro numa empresa de capitais mistos, só teve uma filha, mas hoje reconhece que sente “falta de mais um descendente”. A incompatibilidade de horários com os do marido quando ainda trabalhava em Lisboa, a falta de tempo para estar com a filha e o dinheiro “contado” para o colégio são as causas que recorda por não ter tido mais filhos quando era mais nova. “Depois, perdi o comboioe não arrisquei com medo de complicações para a minha saúde e do bebé”, explicou.
Kátia Ferreira, 31 anos e três filhos entre os sete meses e os sete anos, é, nos tempos que correm, um caso raro. O Estado português dá-lhe mensalmente vinte euros por cada filho, mas tem esperança de em 2008 ter aumentos consideráveis de benefícios fiscais depois do recente crescimento da prole.
LUSA
Criado pelas Nações Unidas em 1954
Em 1954 a Organização das Nações Unidas aprovou uma recomendação
para que todos os países instituíssem o Dia Universal
das Crianças. Neste dia deve celebrar-se a fraternidade
e compreensão entre as crianças do mundo inteiro e organizar
actividades adequadas à promoção do bem-estar de todas
as crianças. Ora como foi a 20 de Novembro que a Assembleia
Geral da ONU aprovou a Declaração dos Direitos da Criança
(1859) e, depois, a Convenção dos Direitos da Criança (1989),
nesta data passou a comemorar-se o Dia Universal da Criança.
Fonte:
Metro, 19 de Novembro de 2007
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