sexta-feira, 27 de julho de 2007

Sol na eira e chuva no nabal



Estímulos à natalidade e promoção do aborto

Opinion makers da área política e da comunicação social, das artes e do espectáculo, gente bem falante, mentes bem pensantes, personalidades brilhantes passaram 9 anos, desde o referendo de 98, a tentar convencer o país de que precisava do aborto. Essa causa intensificou-se desde que a actual maioria socialista assumiu o poder (absoluto) e levou por diante o referendo. O país, um pouco dividido, algo céptico, bastante hesitante, anuíu, sem grande convicção, a que se reformasse a legislação de forma a desagravar a carga pejorativa simbólica que recaía sobre quem pratica o aborto.

Passaram-se seis meses e o Governo (sem para tal estar minimamente mandatado, diga-se) levou a cabo uma autêntica revolução na Saúde (?!!) de forma a que estejam prontos neste verão todos os mecanismos e dispositivos necessários para optimizar a prática abortista. O país está a postos, Portugal está finalmente... abortalhado. Exactamente, abortalhado. Este neologismo retrata agora a nova realidade que vivemos: um país abandalhado, abrutalhado e, acima de tudo, amortalhado. Sobretudo isso, enlutado.

Sucede entretanto que, perante a incongruência de liberalizar o aborto em pleno crash demográfico, e perante as medidas quase de emergência a serem tomadas na generalidade dos países europeus, em favor da natalidade, este mesmíssimo Governo, não querendo perder as suas credenciais mimetistas e seguidistas de bom menino europeu, veio lançar à pressa sucessivas medidas de apoio financeiro à natalidade e à infância. Subsídios aumentados, ajudas monetárias, melhoria dos abonos, um sortido casuístico de apoios que, embora limitados, só pecam por muito tardios, insuficientes, e também pela contradição com o pano de fundo da política anti-saúde e anti-vida em curso.

Chegámos, portanto, a uma situação verdadeiramente paradoxal na qual se apoia, ao mesmo tempo, a natalidade, e a mortalidade pré-natal, a gravidez, e a anti-gravidez, uma situação na qual se apoia o bébé que chegou na “hora h” e se condena irremediavelmente o bébé que se esqueceu de avisar que vinha. Trata-se de um sistema completamente “à vontade do freguês”: se quisermos a criança, há algum dinheiro como estímulo, se não a quisermos, há todas as condições para abortá-la; se um dia mais tarde quisermos outro, recebem-se incentivos, mas se nos arrependermos, vai-se à clínica, sabe-se lá com quantos meses de gestação, e o Estado aí paga tudo. Adoptámos, enfim, o sistema abjecto do filho-objecto. O filho que só existe no nosso exclusivo interesse pessoal, o filho que só vinga quando, e onde, e se, os ditames de curto prazo dos seus progenitores assim o determinarem. O Estado, esse, assegura todas as condições legais e logísticas que mentes brilhantes e bem pensantes idealizaram para uma sociedade próspera, liberal, avançada... e hipócrita.


Nota de rodapé: no fundo, trata-se aqui da variante humana daquilo que já fazíamos há muito com o ambiente, com a agricultura, com o património cultural, com o litoral... destruir o máximo, e depois apanhar os cacos: plantar videiras com apoios e depois subsidiar o seu arranque, destruir zonas históricas das cidades com mamarrachos e depois gastar a triplicar na recuperação, arrasar a natureza e a paisagem para depois fingir que gostamos dela.espalhando campos de golfe ao “Deus dará”...
E Deus… dará?

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