O episódio de hoje dos Simpsons foi muito interessante.
Como sempre uma sátira sobre a sociedade moderna, os seus valores e as suas contradições.
Desta vez, a população de Springfield liderada por uma solteirona quarentona sem filhos (aonde é que eu já vi isto ?) revolta-se contra as crianças.
A ideia era esta: confrontados com os vários distúrbios causados pelas crianças, fruto da sua puerilidade e irreverência, os habitantes de Springfield saturaram-se de vez.
Vai daí, deram o grito do Ipiranga e passaram a apagar da sua cidade, bibliotecas, jardins, escolas, etc. qualquer referência às crianças que passaram a ser marginalizadas e vistas como um perigo ao estilo de vida hedonista dos adultos.
A proposta da tal solteirona, líder deste movimento, era simples e atractiva:
Sem filhos e crianças todos os habitantes poderiam usufruir de mais tempo livre para se dedicarem a passeios, massagens, etc; auferirem mais rendimentos e terem menos despesas e chatices. Numa palavra: viver a vida com melhor qualidade e libertarem-se desse fardo mau para a saúde e mau para a carteira chamado “crianças”.
É claro que a nossa amiga Marge Simpson encheu-se de coragem e resolveu enfrentar a líder deste movimento, criando um outro intitulado “Família em 1º lugar”.
Sucede que, perante a proposta mais atractiva da opositora, à excepção do marido, Homer e dos filhos, mais ninguém aderiu ao seu movimento.
Por outro lado, apoiado por uma poderosa máquina de marketing suportada financeiramente pelos interesses económicos mais fortes, rapidamente a sua opositora liquida por completo qualquer hipótese de sucesso da amiga Marge.
Por fim, Marge dá-se por vencida.
O sacrifício que os filhos obrigam os pais a fazer torna-os pouco aliciantes em face de todos aqueles adultos que querem deixar de ter “empecilhos” para, finalmente, poderem ser livres de viver a vida até ao seu limite.
Sucede que, no dia das eleições, as crianças unem-se e colocando-se à frente do local das votações, oferecem-se para abraçar os eleitores que se aproximavam, enchendo-os de doenças que os impedem de ir votar.
É claro que os únicos que vão votar são o casal Simpson e, por isso, ganha a moção de Marge, voltando tudo a ser como era dantes.
P.S.1- Erasmo de Roterdão, no “
Elogio da Loucura”, diz que a natureza fez com que a loucura das crianças tornasse mais fácil o seu relacionamento com os pais e educadores, ajudando, desta forma, a suportar o que fazem de mal.
P.S.2- Quem tem filhos (e por maioria de razão, quem tem muitos filhos) poderia gastar páginas e páginas a relatar cenas domésticas que têm tanto de exasperante quanto de cómico.
O que se passa é que todos esses sacrifícios pessoais, sociais, financeiros e profissionais, acabam-se por esboroar por completo com o mero esboço de um sorriso e um abraço.
E, contra isso, por mais egoístas que todos somos, nada podemos fazer..
Por isso, é que alguns preferem que essas futuras crianças não cheguem a nascer.
Têm medo de cair na tentação....
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