sábado, 21 de março de 2009
"Tem graça; eu nunca ouvi ninguém elogiar a necessidade básica da fome. Já a do sexo, é elogiada por si; porquê?Até percebo como apareceu a gastronomia, o desenvolvimeno da cozinha de elite; as refeições serem servidas numa mesa, com garfo e faca; enfim, tudo o que está relacionado com a satisfação da necessidade chamada fome e que se desenvolveu enquanto cultura ( ferramentas humanas não adquiridas biologicamente), faz sentido à luz daquilo que conhecemos como humanidade.
Quanto ao sexo, não percebo porque é tão elogiado em si. Acho que andam a discriminar a fome e o sono. Acho também que a humanidade desenvolveu cultura e processos sociais muito dignos para essa necessidade ser satisfeita.
Os cães é que acasalam no meio da rua e quando lhes apetece, mas o Homem inventou a intimidade,o pudor, relações afectivas, compromissos de longa/ média duração; inventou até uma coisa chamada erotismo.
Ora, penso que o "elogio do Sexo" a que se referiu o autor do post, é uma banalização e mesmo desumanização da sexualidade; como se houvesse qualquer problema em NÃO se discutir à mesa e à frente dos filhos coisas que são privadas, íntimas, delicadas e que, se não o fossem, fariam da sexualidade humana algo não muito diferente da reprodução animal praticada pelas bestas e aves do campo...
Se não falamos da fome a toda a hora,nem estamos obcecados em saber como é que ela se satisfaz na prática; explicando os processos quimicos e mecânicos da digestão com detalhes grotescos em tudo o que for sítio e lugar;a miúdos e graúdos; se não nos questionamos quanto à razão de termos refeições civilizadas em vez de comermos no chão ou em disputa como os cães e porcos; por que razão existem tantos doutores que não nos param de incomodar com o imperativo de ter-se de falar "sem tabus" ou "preconceitos" sobre sexo, a todas as horas e lugares?
Ainda por cima, quando só estão preocupados em valorizar o prazer como um direito absoluto e que para a sua obtenção quase tudo é "normal" e saudável?
É verdade que os animais têm a satisfação das suas necessidades de forma mais rápida e sem culpas.
Mas a cultura humana pressupõe algumas restrições comportamentais óbvias. Até para a recompensa ser maior mais tarde.
Apliquem os mesmos "ensinamentos" de alguns pseudopsicólogos sexuais à satisfação da fome, e vejam se faria algum sentido elogiar-se a ingestão de quinze donuts por hora; ou experimentar inalar botas da tropa trituradas pelo nariz, para "diversificar" e "apimentar" as refeições."
Autor: Filipe Pereira na caixa de comentários do Cachimbo de Magritt, a propósito deste post.
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