sábado, 6 de março de 2010

Agora que morreu alguém, podemos falar sobre o que anda a acontecer?

Em Portugal, é muitas vezes assim, parece que tem de morrer alguém para se debater um assunto... Isto é muito, muito triste.
Morreu para evitar agressão de colegas Leandro, 12 anos, é a primeira vítima mortal conhecida de bullying em Portugal. Atirou-se ao rio Tua. Colegas garantem que não é caso único de violência na escola

HELENA TEIXEIRA DA SILVA
Ontem, quarta-feira, Christian não foi à escola. No dia anterior, almoçou à pressa na cantina, saiu aflito para o recreio quando viu, mais uma vez, o corpo franzino de Leandro, primo e amigo de 12 anos, ser espancado por dois colegas mais velhos.
Depois, perseguiu o rapaz que, cansado da tortura de quase todos os dias, ameaçou lançar-se da ponte, ali a dois passos. Perseguiu-o, impediu-o. Por fim, imitou-lhe os passos, degrau a degrau, até à margem do rio Tua. O primeiro estava decidido a morrer: despiu-se, atirou-se. O segundo estava decidido a salvá-lo: despiu-se, atirou-se.Leandro morreu - é a primeira vítima mortal de bullying em Portugal; Christian agarrou-se a uma pedra para sobreviver. Antes, arriscou a vida a dobrar: digestão em curso em água gelada. Eram 13.40 horas. Ontem não foi à escola. Os pesadelos atrasaram-lhe o sono. Acordou cansado, alheado, emudecido. Leandro não é caso único. Ele também já foi agredido. Christian não é o super-homem; não é sequer rapaz encorpado; é um menino assustado, tem 11 anos, não terá 40 quilos, o rosto salpicado de sardas e tristeza. Os olhos dos pais pregados nele, os dele cravados no chão da sala. Não estava sozinho na luta. "Estava eu, o Márcio (irmão gémeo de Leandro), o Ricardo...", este e aquele, os nomes dos amigos como um ditado, ele encolhido, no colo um cão minúsculo a quem insistentemente afaga o pêlo. "Não conseguimos salvá-lo, já estávamos tão cansados". O lamento sabe a resignação e à inquietação de quem veio de outra escola, em Andorra, Espanha, onde "há mais pequena coisa, os professores chamavam os pais", recordam, "preocupados", Júlio e Júlia Panda, pais de Christian, filhos da terra, Mirandela, no cume de Trás-os-Montes, retornados há pouco mais de um ano, trazidos com a crise e o desemprego. Vivem agora na aldeia de Cedainhos, a 15 quilómetros da cidade, lugar estacionado no tempo, onde vivia também Leandro e onde todas as casas, com laços mais ou menos próximos, são casas da mesma família.Escola sem luto nem explicaçãoUm palmo acima, na mesma rua, vive a avó, Zélia Morais. Tem a cozinha cheia netos, mais de dez, netos de todas as idades, os gritos inocentes dos mais novos a misturarem-se na dor dos outros. Sabe tudo ao mesmo fado. É a imagem da desolação, ela prostrada no sofá, o coração com febre. "O meu menino era tão humilde. Todos os dias vinha saber de mim. Todos os dias", palavras repetidas embrulhadas em falta de ar. "E agora?" Agora, responde o filho Augusto, homem de meia idade que a coluna prendeu a uma cadeira de rodas, "agora, nem que tenha de vender tudo, vou até ao fim do mundo para saber quem levou o meu sobrinho a matar-se". A ameaça parece dura, dura um segundo, desfaz-se em pranto. "O meu menino sentava-se aqui comigo, conversava como adulto, era a minha companhia". Os pais de Leandro também vivem ali; não estão. "Estão em casa amiga, passaram a noite no hospital".Ontem Christian não foi à escola. Mas na escola dele - E.B. 2,3 Luciano Cordeiro, onde partilhava o 6º ano com Leandro -, o dia foi normal. Nem portas fechadas nem luto nem explicação. O porteiro do turno da tarde entrou às 15 horas, bem disposto. "Sou jornalista, queria uma entrevista", ironizou. Tiro no pé. O JN estava lá. Perdeu o humor, convidou-nos a sair "já". A docente que saía do recinto também foi avisada, inverteu a marcha, já não saiu. Havia motivos para baterem tantas vezes no Leandro? Responde Christian: "Todos batem em todos".
Notícia daqui.

4 comentários:

Rosalino disse...

Já me tinha referido a este assunto no meu blog logo apôs esta tragica noticia que retirou a vida a esta inocente criança.

Acho o vosso titulo capaz de traduzir fielmente o que sinto tambem.
Mas não quero deixar de fora uma questão que ponho no meu blog. E que acho merece toda a atenção.

Onde anda a educação dada pelos País dos agressores?
Não nos podemos esquecer que grande parte da responsabilidade está no tipo de educação que recebem em casa.
Os País das crainças que agrediram têm uma grande responsabilidadde no meio de toda esta questão.

A escola é formadora em parte da educação da criança.
O estado tambem deve ser interveniente activo.
Pois faltam recursos humanos nas escolas para a vigilancia mais eficaz.

Mas acho que a educação dada em familia é o factor mais importante para toda esta tragédia. E deveriam ser responsabilizados

Desculpem ser directo

Rosalino

Rosalino disse...

Já me tinha referido a este assunto no meu blog logo apôs esta tragica noticia que retirou a vida a esta inocente criança.

Acho o vosso titulo capaz de traduzir fielmente o que sinto tambem.
Mas não quero deixar de fora uma questão que ponho no meu blog. E que acho merece toda a atenção.

Onde anda a educação dada pelos País dos agressores?
Não nos podemos esquecer que grande parte da responsabilidade está no tipo de educação que recebem em casa.
Os País das crainças que agrediram têm uma grande responsabilidadde no meio de toda esta questão.

A escola é formadora em parte da educação da criança.
O estado tambem deve ser interveniente activo.
Pois faltam recursos humanos nas escolas para a vigilancia mais eficaz.

Mas acho que a educação dada em familia é o factor mais importante para toda esta tragédia. E deveriam ser responsabilizados

Desculpem ser directo

Rosalino

MRC disse...

Pois é Rosalino.
Mas o problema é que a família falha em tantos aspectos e depois acaba-se por pedir mais às escolas do que elas efectivamente estão prontas para dar.
Por isso, é que por aqui insistimos tanto no reforço do papel das famílias.
Depois também há outra questão que me parece importante e que tem a ver com a difusão nos media da violência como método de resolução dos conflitos.
É uma questão de educação da família mas também de educação cívica. Basta recordarmos o recente e lamentável episódio entre Carlos Queirós e um jornalista.
Abraço.
As suas visitas e comentários oportunos são sempre bem vindos !

MRC disse...

Pois é Rosalino.
Mas o problema é que a família falha em tantos aspectos e depois acaba-se por pedir mais às escolas do que elas efectivamente estão prontas para dar.
Por isso, é que por aqui insistimos tanto no reforço do papel das famílias.
Depois também há outra questão que me parece importante e que tem a ver com a difusão nos media da violência como método de resolução dos conflitos.
É uma questão de educação da família mas também de educação cívica. Basta recordarmos o recente e lamentável episódio entre Carlos Queirós e um jornalista.
Abraço.
As suas visitas e comentários oportunos são sempre bem vindos !