Há arrependidos do voto?
A confirmar-se esta projecção Portugal não tem futuro. Seremos uma população de idosos sem capacidade de manter um estado de mercado social. Não haverá segurança social sustentável…
Em 2006 nasceram só 105.351 bebés, menos 4.106 que em 2005.
Nos últimos 20 anos as portuguesas tem vindo a ter cada vez menos filhos.
O número médio de filhos por casal desceu para 1,36. Na Europa a média é superior: 1,49 crianças por casal.
O número de idosos com mais de oitenta anos duplicou nos mesmos vinte anos.
A fecundidade em Portugal é a mais baixa da Europa e uma das mais baixas no mundo.
Somos um dos sete países mais envelhecidos em todo o mundo.
Do grupo dos países com euro somos aquele onde o Governo menos apoia as famílias.
Perante esta realidade assusta que os políticos nada façam para melhorar as condições sociais e económicas das famílias.
Assusta que a insensibilidade do Governo no leve a perder imenso tempo com as questões do aborto e pouco faça por aumentar a natalidade.
Não bastam palavras ou promessas. São necessárias medidas práticas de melhoria da qualidade de vida e apoio ás famílias com filhos.
Defendemos que o Estado apoie financeiramente as empresas que criam postos de trabalho mas é inadmissível que quase nada faça para apoiar as famílias.
Apoiar as famílias
Na Alemanha o Estado gasta 2% do PIB em incentivos á natalidade. As famílias recebem um subsídio variável entre os 4.200€ e os 25.000€ em 14 meses.
Na Suécia as crianças recebem até aos 16 anos 114€ mensais. Na Noruega são 122€ mensais até aos 18 anos.
Em Espanha o Governo acaba de anunciar um apoio de 2.500€ para as famílias com um filho que se soma aos subsídios já concedidos pelos governos “regionais”.
No Luxemburgo os pais com uma criança recebem 181€ mensais; se tiverem dois filhos o subsídio sobe para 429€, com 3 para 780€ e com 4 o prémio mensal ultrapassa os 1.130€ mensais.
Todos sabemos que não temos o PIB dos países mais ricos mas não podemos continuar a promover o aborto em vez de apoiar a natalidade.
O aborto e a esterilidade
É inaceitável que se gaste dinheiro no serviço nacional de saúde para fazer abortos e não se invista no tratamento da esterilidade que aflige muitos casais impedidos de ter filhos.
Todos conhecemos casais com problemas de esterilidade que, por falta de resposta no serviço nacional de saúde, são empurrados para clínicas particulares onde são obrigados a gastar imenso dinheiro para tratar a sua infertilidade.
Não é sensato fazer abortos à borla sem cuidar de incentivar a natalidade.
Um relatório do Ministério da Saúde veio revelar que os doentes com cancro esperam em média 3,5 meses por uma cirurgia. Há mesmo hospitais onde a espera pode atingir os sete meses.
O cancro e a Madeira
Os hospitais públicos perante uma situação de aborto a que não podem dar resposta contratam o serviço numa clínica privada. Que insensatez leva a que não façam o mesmo, com a mesma rapidez, quando uma pessoa com cancro corre perigo de vida?
Esta gestão de prioridades do Governo assenta num “politicamente correcto” cego perante a realidade social.
Como é que o nosso Estado obriga os doentes crónicos a pagar os seus medicamentos ou um pai pobre a pagar o antibiótico indispensável a curar uma situação aguda de um filho e passa a ser um mãos-largas a oferecer em total gratuitidade o medicamento abortivo?
Como é que uma mulher que tem um cancro terminal tem de pagar os medicamentos que lhe reduzem as dores e uma grávida tenha medicação grátis para fazer aborto?
Como é possível que o Governo crie taxas moderadoras para as mulheres doentes obrigadas a tratamento cirúrgico e/ou internamento e isente uma grávida porque quer abortar?
Há algo de perigosamente insensato nestes factos.
Sempre defendi o fim da penalização das mulheres obrigadas a optar por uma interrupção voluntária de gravidez.
Como deputado e militante partidário cheguei a afrontar o PSD, tendo sido alvo de um processo disciplinar, em 1983, quando não respeitei a orientação de voto na Assembleia da República.
Apoiei os movimentos pelo SIM nos referendos sobre o aborto.
Portugal ficou mais humano, e penso mais cristão, quando pela vitória do Sim deixou de penalizar criminalmente as “Madalenas” obrigadas a optar pelo aborto.
Este direito das mulheres, a livremente fazerem as suas escolhas, é diferente de uma política insensata que promove o aborto a prioridade absoluta do sistema de saúde.
Mas perante um Serviço Nacional de Saúde que deixa morrer pessoas por adiar cirurgias ou que não apoia os casais vítima de esterilidade talvez Alberto João Jardim esteja a ser mais sensível.
JAIME RAMOS
Médico
(in «Diário de Coimbra» 31 de Julho 2007)
1 comentário:
A referência ao problema do cancro é muito real e verdadeira. Conheço uma pessoa que, por não ter recursos para ir ao privado, teve que ficar em lista de espera para uma cirurgia que só veio a acontecer várias semanas depois. Nessa altura, já estava com mais metástases e veio a falecer pouco tempo depois.
Estas observações deste votante no "sim" são muito pertinentes e mostram bem as aberrações e extremismos que o Governo está a promover aproveitando a onda da vitória no referendo: Um país que facilita e promove o aborto, mas que depois não tem meios para salvar um doente de cancro.
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