sábado, 22 de setembro de 2007

As políticas de saúde e o fecho de maternidades

Mãe deu à luz no caminho entre Fátima e Leiria

Mais partos na estrada

Os Bombeiros Voluntários de Fátima ajudaram ontem uma mãe a dar à luz uma menina, na berma da auto-estrada do Norte (A1), próximo de Leiria, contribuindo para o número anormal de partos em ambulâncias que se está a verificar este ano.

“Não tenho memória de haver tantos partos em ambulâncias, como agora”, afirma Rui Rama da Silva, do conselho executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP).
A única explicação para este aumento – embora não seja esse o caso de Fátima – é a reestruturação do sistema de saúde e consequente encerramento de várias maternidades.
Segundo dados da Liga, só os Voluntários de Resende ajudaram a nascer seis bebés nas suas ambulâncias nos últimos seis meses.
No ranking de partos em ambulâncias, a corporação da Lourinhã surge em segundo lugar, com três nascimentos, seguindo-se a da Figueira da Foz, irandela, Ansião e Penafiel. “Estamos a viver uma situação anómala e não desejada, que cria enormes dificuldades aos bombeiros”, refere o dirigente da LBP.
A redução do número de maternidades obrigam as corporações a percorrer “muito mais quilómetros e a demorar quase o dobro do tempo nos serviços”, diz Rama da Silva.
E o problema é que “a compensação do aumento dos custos não está ainda definida”. Para o dirigente, “não houve uma avaliação correcta” do que se passa no terreno, antes da reestruturação, e os prejudicados são os bombeiros.
“Estamos a pagar caro em custos financeiros e humanos”, refere Rama da Silva, salientando, no entanto, que a resposta dos soldados da paz a este ‘fenómeno’ tem sido tecnicamente irrepreensível.
GOVERNO RESPONSABILIZA MÃES
O Governo acredita que os partos nas auto-estradas têm menos que ver com o fecho de maternidades e mais com a falta de informação das grávidas.“Vão nascer mais crianças em ambulâncias se as mulheres não tiverem cuidado aos primeiros sinais de trabalho de parto e não tomarem medidas”, disse o director-geral da Saúde, Francisco George, numa entrevista ao CM.
Segundo este responsável, “não há nenhuma criança que nasça em minutos” e “o trabalho de parto não é instantâneo”, pelo que assume sem hesitações a defesa da reforma da rede das maternidades portugueses.
“Vamos descer o número de mortes infantis e perinatais. Dentro de cinco anos, podemos ganhar 200 crianças, que vão deixar de morrer, e para isso teremos de concentrar os especialistas em neonatologia, os pediatras, os anestesistas e os equipamentos”, disse Francisco George.
EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL
É com um brilhozinho nos olhos e a felicidade estampada no rosto que Cristina Pereira, socorrista nos Bombeiros Voluntários de Fátima, recorda o bebé que ajudou a nascer ontem de manhã, a caminho do Hospital de Leiria.A parturiente, de 42 anos, chegou de carro ao quartel com o marido e pediu para ser levada para Coimbra, onde estava a ser seguida por um obstetra. Como as contracções chegavam de cinco em cinco minutos, Cristina e Paulo Vieira, o condutor da ambulância, decidiram transportá-la para Leiria, por indicações do Centro de Orientação de Doentes Urgentes.
A quatro quilómetros do destino, em plena auto-estrada, rebentaram-se as águas e a mulher entrou em trabalho de parto. A ambulância encostou e “não deu tempo para mais nada”.
“A mãe fez força duas vezes e a bebé saiu”, conta Cristina, com a ternura de quem também já foi mãe por três vezes. A bebé, quarta do casal, nasceu às 39 semanas, com 3,4 quilos e uma “cara laroca”. “Foi um momento lindo”, garantiu a socorrista.
PREPARAÇÃO
KIT PARTO
As ambulâncias de emergência médica estão equipadas com o kit parto, que contém artigos esterilizados. O pacote disponibiliza máscaras, lençóis, compressas, desinfectantes, luvas e molas para o cordão umbilical, entre outros artigos.
TÉCNICA
A maioria dos tripulantes das ambulâncias tem preparação técnica para auxiliar um parto de urgência. Mesmo os bombeiros mais novos “têm apuro técnico para essas situações”, garante a Liga dos Bombeiros.
MORAL
O nascimento de um bebé numa ambulância serve de estímulo psicológico aos bombeiros, considera Costa Pereira, comandante dos Voluntários de Fátima. “É um bom incentivo moral para toda a corporação”.
Notícia daqui.

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