Afinal o que tanto preocupa a opinião pública?
Sem ninguém combinar, sem ninguém dizer uma palavra, todos percebemos desde o início, aqui no blogue: não fazia sentido falar do assunto...
Qualquer ser humano percebe o quão doloroso é perder um filho ou uma filha, para mais de tenra idade. Por morte natural, ou, mais terrível ainda, por acidente, ou pior que tudo, em virtude de um crime, de um rapto, de um assassinato, uma vingança, um acto tresloucado. Alguma dessas situações poderá ter acontecido no caso do desaparecimento da filha do casal McCann, Madeleine, desaparecida em Maio no Algarve.
Contudo, por muito doloroso que seja o caso, não podemos, não devemos, transformar um problema e um drama familiar num espectáculo e num circo mediático. Nem podemos tratar de um drama pessoal, por mais trágico ou mediático que seja, como se não houvesse outros dramas, igualmente trágicos, que todos os dias ocorrem, nomeadamente com crianças pobres, de pais pobres, em países pobres. Crianças que todos os dias morrem de doenças que seriam facilmente curáveis com meios básicos, com recursos mínimos, em África, na América Latina, na Ásia. Meninos da rua que estão todos os dias à mercê do crime, da droga, e de todo o tipo de exploração, em grandes cidades, do Brasil às Filipinas, do México à África do Sul. Crianças com fome, crianças sem tecto e sem o mínimo acesso à educação em cidades, vilas e aldeias, por esse mundo fora. Crianças também que vivem, ou viveram não há muito tempo, no meio da guerra, órfãos alguns, vítimas de minas outros, com a infância perdida, quase todos.
E nos estratos sociais com maior nível de vida de muitos países emergentes? E nos países ricos, por todo o mundo ocidental? Crianças que sofrem com a violência doméstica e com as famílias estilhaçadas, crianças e jovens que são rejeitados ou meramente esquecidos pelos pais, crianças e jovens que têm muitas vezes tudo o que o dinheiro compra, mas apenas isso.
Por fim... que maior hipocrisia que a de uma sociedade que se diz terrivelmente preocupada com a sorte de uma menina desaparecida, de 4 anos, mas na qual se luta todos os dias para alargar e facilitar a prática do aborto, como direito, como prioridade social, com toda a naturalidade. Em Inglaterra como em Portugal.
1 comentário:
Bom post João e muito bem visto!
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