"O mundo moderno assenta, todo ele e em absoluto, não tanto na ideia de que os ricos são necessários (que é uma ideia sustentável), mas na ideia de que os ricos são dignos de confiança, coisa que (para um cristão) é insustentável.O leitor terá ouvido com frequência, em discussões sobre os jornais, as empresas, as aristocracias e os partidos políticos, o argumento de que os ricos não podem ser subornados.Mas a realidade é que o rico é subornável; ele até já foi subornado. É por isso que é rico.Ora bem, a razão de ser do cristianismo é justamente a tese segundo a qual um homem que está dependente dos luxos desta vida é um homem corrupto: espiritualmente corrupto, politicamente corrupto, financeiramente corrupto.Há uma coisa que tanto Cristo, como os santos cristãos, afirmaram com uma espécie de selvática monotonia: que ser rico é correr um especial risco de naufrágio moral. É difícil demonstrar que matar os ricos, por serem violadores de uma justiça definível, seja uma atitude anticristã. Aquilo que não é certamente uma atitude anticristã é a rebelião contra os ricos e contra a submissão aos ricos.Mas é absolutamente anticristão confiar nos ricos, considerar os ricos moralmente mais fiáveis do que os pobres. Um cristão consistente poderá dizer: «Respeito aquele género de homem, embora ele aceite subornos.»Mas um cristão não pode dizer, como dizem os modernos a torto e a direito: «Um homem daquele género nunca aceitará subornos.» Porque a ideia de que qualquer género de homem pode aceitar subornos é uma componente do dogma cristão. E, para além de ser uma componente do dogma cristão, é também – por curiosa coincidência – uma componente da mais óbvia história humana.Quando as pessoas afirmam que um homem «com aquela posição» é incorruptível, não há necessidade nenhuma de introduzir o cristianismo na discussão. Lord Francis Bacon era engraxador? O Duque de Malborough era varredor de ruas?Na melhor Utopia, tenho de estar preparado para a queda moral de qualquer homem, de qualquer posição, a qualquer momento, em especial para a minha própria queda, da posição que ocupo neste momento."
G. K. Chesterton, in Ortodoxia(nas livrarias)
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