quarta-feira, 26 de março de 2008

SOS Voz Amiga



O telefone tocou como sempre, mas do outro lado chegou uma história invulgar: um homem que perdera tudo queria suicidar-se e tinha como último desejo beber à memória da mãe. A voluntária da SOS Voz Amiga brindou com ele e o homem adiou a morte.


A história foi contada por um dos 40 voluntários da linha de atendimento telefónico de emergência SOS Voz Amiga, um serviço anónimo que se destina a apoiar pessoas com problemas conjugais, de solidão, com dependências ou em risco de cometer suicídio.


Quem liga não precisa de se identificar e quem atende não tem nome nem rosto. Apenas uma voz.


O que acontece depois da conversa entre quem ajuda e quem apela é sempre uma incógnita para os voluntários deste serviço que existe há trinta anos.


«Nunca sabemos se conseguimos minimizar a dor e demover a pessoa de cometer um suicídio. Raramente ou nunca voltam a ligar para o serviço a dizer: a conversa levou-me a desistir de morrer», contou à Lusa o coordenador da linha.


Dar o seu tempo para ouvir alguém incondicionalmente é algo que as voluntárias encaram como natural.


«Há outras maneiras de a pessoa sentir o retorno do que dá. Os silêncios, o tom de voz, um sorriso. Há tantos sinais que se vai aprendendo a conhecer», explicou à agência Lusa uma das voluntárias, a Maria.


Maria é professora de Matemática e há 10 anos que faz voluntariado nesta linha, mas toda a vida deu do seu tempo para estar com os outros.


Antes deste serviço esteve em oncologia. Penteava as senhoras que se submetiam a tratamentos de quimioterapia.


«Era uma forma de as mimar e chegar a elas. Depois, a conversa ia fluindo», explicou.


Na linha SOS Voz Amiga, Maria já lidou com muitas situações complicas de desespero absoluto ou de pura solidão. Acontece também por vezes sentir que não conseguiu estabelecer uma ligação com o apelante.


Uma das histórias positivas que ainda se lembra passou-se há algum tempo.

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