domingo, 3 de janeiro de 2010

O sismo que se segue



O Instituto de Meteorologia informa que no dia 17-12-2009 pelas 01:37 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Continente, um sismo de magnitude 6.0 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 100 km a Oeste-Sudoeste do Cabo S.Vicente.
Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido em todo o território do Continente, verificando-se que a intensidade máxima foi de V (escala de Mercalli modificada) na região de Lagos e Portimão.
Até ao momento foram registadas cinco réplicas de menor magnitude.
Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados
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A terra tremeu, em Portugal, no mesmo dia em que foi aprovado em Conselho de Ministros o “casamento entre pessoas do mesmo sexo”. Foi o abalo de maior magnitude, 6.0 na escala de Richter, verificado em Portugal nos últimos 40 anos (desde o sismo de 1969), felizmente sem vítimas a lamentar nem danos materiais.

O abalo agora verificado veio despertar a memória de um outro, registado há quase 3 anos, sentido por algumas pessoas, e assinalado pelo Instituto de Meteorologia com a magnitude de 5.9, verificado na manhã do dia 12 de Fevereiro de 2007, precisamente o dia seguinte ao do referendo que liberalizou o aborto em Portugal.

O ritmo dos sismos de maior magnitude em Portugal quase que parece acompanhar os cismas e cisões que têm vindo a ser provocados na sociedade portuguesa pelas sucessivas iniciativas políticas e legislativas no domínio da moral e dos costumes. Quase que se poderia dizer que alguém nos está a tentar enviar alguma mensagem, de forma subliminar, de forma telúrica. Quase que se poderia dizer que a mãe natureza nos está a querer avisar de algo, bem fundo, bem profundo. Mas quase que se poderia dizer também… que talvez seja apenas uma perturbadora coincidência.


Estamos em 2010. Já sancionámos há 3 anos a “interrupção voluntária da gravidez”, depois flexibilizámos, banalizámos e desburocratizámos o divórcio, estamos agora a consagrar legalmente o “casamento entre pessoas do mesmo sexo” e num futuro próximo iremos certamente aprovar a “morte digna e assistida”. Por outras palavras, num curto espaço de tempo, de forma inócua e asséptica, aprovámos o infanticídio (intra-uterino), enxovalhámos e desvalorizámos a família, e iremos dentro em pouco autorizar a eliminação de idosos, doentes terminais ou deficientes profundos via eutanásia. O ciclo completo da vida está por nós a ser transformado num imenso pântano de morte. Isto sucede em Portugal como sucedeu já antes na maior parte dos “países civilizados”. Ou como, muito antes disso, havia ocorrido, historicamente, na Roma Antiga, ou em Cartago, civilizações que tão facilmente aceitavam o infanticídio, o sacrifício humano e a escravatura.

No que se refere ao dito casamento homossexual, causa alguma perplexidade ver o afã de políticos e legisladores em fazer aprovar essa matéria. Seguramente que ela diz respeito apenas a uma ínfima minoria de cidadãos eleitores. Seguramente que para a esmagadora maioria dos portugueses não é matéria prioritária, estará, na melhor das hipóteses em 20º ou 30º lugar no ranking de preocupações do dia a dia. Mas para a classe política dominante esta parece ser matéria muitíssimo relevante e urgente. Causa ainda mais perplexidade o facto de, sendo bem provável que a maioria de portugueses seja contra o comportamento homossexual, ainda assim os políticos, a despeito do seu bom olfacto para fenómenos sociais e para o sentimento da opinião pública, insistam tanto nesta matéria.

Bem sabemos que é útil, neste tempos vazios de ideias, perante a dúvida de muitos cidadãos mal informados, dar uma imagem de modernidade e alinhamento com a Europa dita avançada, onde esses tabus há muito foram quebrados.

Sabemos também que o alinhamento do partido do governo com as posições dos seus congéneres europeus cria pelo menos uma ilusão de coesão entre forças políticas da mesma família, e ajuda a criar uma imagem mais vanguardista do PS português que pode ser vista com simpatia pelo PSOE espanhol e outros partidos da mesma área política, a nível europeu.

Para além dos dividendos de imagem, há que ter em conta a aritmética parlamentar e aqui o PS terá porventura a tentação de despachar o mais cedo possível a questão do casamento gay, pagar tributo à sua ala esquerda interna e à extrema-esquerda parlamentar, tirar o tapete ao BE e depois, mais tarde, seguir em frente, com a consciência do dever cumprido, avançando então para um percurso mais consensual, mais centrista, a caminho de novas eleições ou eventualmente preparando uma coligação governativa com o CDS, uma vez esquecidas estas questões de carácter civilizacional. Será aliás interessante ver como actuam no futuro aqueles partidos que agora se opõem ao casamento gay e verificar qual a estratégia que levarão a cabo um dia que voltem a participar no governo ou que voltem a ganhar eleições. É que não seria a primeira vez que assistiríamos à total passividade dos que votaram vencidos, uma vez de novo no poder, face às mudanças legislativas que herdaram.

O apoio totalmente desproporcionado que a classe política dá ao casamento gay, face ao sentimento geral da sociedade, mesmo entrando em linha de conta com a passividade e indiferença de uma percentagem significativa da opinião pública, só se compreende pela força de grupos de pressão com poder bastante para chegar às cúpulas partidárias. Jornalismo, Arte, Moda, Espectáculo, Diversão, são os suspeitos do costume, mas serão só estes, ou serão essencialmente estes? Existem certamente outras forças, de natureza bem mais transversal na sociedade, que vêm esta e outras questões civilizacionais como uma forma de acantonar a Igreja Católica, de confiná-la em limites progressivamente mais exíguos, e uma maneira de tentar mostrar à sociedade e à Igreja que as posições desta se tornaram irrelevantes e o seu poder de antigamente desapareceu.

Outra perplexidade, neste cenário tão estranho, visto de fora, é o facto de que pessoas tão diametralmente opostas ao casamento como os homossexuais estejam no actual contexto tão obcecados com a necessidade de serem abrangidos precisamente pela figura jurídica do casamento. Num mundo totalmente cor-de-rosa, diríamos que se destinaria a proclamar bem alto o amor, o afecto, a lealdade e a fidelidade. No mundo real, poderá legitimamente questionar-se se as questões fundamentais não serão antes a partilha de bens, a disputa relativa a heranças, o direito a pensões por morte e por doença, pensões e subsídios a pagar pelo Estado, indemnizações a pagar por seguradoras, etc, etc. A ser verdade que boa parte das motivações por detrás deste tipo de legislação é de carácter económico, então a esmagadora maioria dos portugueses, independentemente das suas convicções, estaria a ser manipulada, de forma clamorosa, e estaria a viabilizar-se, à socapa, um fluxo futuro de recursos e transferência de patrimónios em benefício de um sector minoritário da sociedade e em prejuízo dos contribuintes em geral, e das famílias em particular, essas sim fortemente contribuintes, com o seu esforço e a sua dedicação, para a revitalização constante do tecido social e geracional.


Ao virarmos o mundo às avessas, estamos a brincar com coisas sérias. Ao eliminarmos valores estabelecidos de há muito e ao desestruturarmos a sociedade e a família, estamos a brincar com o fogo. É como se, de repente, os semáforos de uma grande cidade passassem a ter vermelho, verde, laranja, mas também azul, branco, rosa, ou como se os sinais de trânsito desaparecessem ou ficassem ao critério de cada um, numa palavra, uma desorganização institucionalizada.

A reengenharia social dos nossos tempos paga-se caro, e a mãe natureza vai fazer-nos pagar com juros os crimes contra a vida e contra a família que levarmos a cabo, e os actos contra-natura que incentivarmos. Mas só Deus sabe quando e quanto teremos de pagar, e só Deus sabe se os vamos pagar com cataclismos naturais, ou somente com a miséria social que criarmos.


Ai dos que chamam bem ao mal e mal ao bem

Dos que fazem passar as trevas por luz e a luz trocam por trevas

Que têm o amargo por doce, e o doce por amargo.

Isaías, 5, 20


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