terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Testemunho impressionante de vida



Salvador Mendes de Almeida



Salvador Mendes de Almeida sofreu um acidente de moto em 1998 que o deixou tetraplégico. Tinha 16 anos.




Desde então, a sua vida tem sido um exemplo de CORAGEM.




Criou uma Associação de solidariedade e agora escreveu um livro a que chamou “Salvador... Ser feliz assim".




Um testemunho de esperança de um jovem tetraplégico.








Testemunho




Uma experiência vivida na primeira pessoa



No dia 2 de Agosto de 1998, sofri um acidente de mota que me deixou tetraplégico. Na altura do acidente, estava de férias de Verão, no Algarve.



Era madrugada, quando resolvi sair da discoteca, estava cansado, devido ao ritmo acelerado das férias de Verão. Deitava-me todos os dias muito tarde, passava as manhãs na praia e no final da tarde ia jogar futebol com os meus amigos. A noite era obviamente o culminar de um belo dia de verão.



Nessa noite, regressava a casa ao volante da mota da minha irmã, uma Yamaha BW’S de 50cc que não passava dos 45 quilómetros por hora. Adormeci numa das rotundas da Quinta do Lago e embati contra um Placard de publicidade.



Porque razão é que adormeci?



Porque para além do cansaço inerente ao ritmo das férias, bebi álcool e isso contribuiu para aumentar o meu estado de cansaço e distracção.



Após o acidente, seguiu-se um período em que fui permanentemente sujeito a exames médicos, hospitais e intervenções cirúrgicas.Foi-me diagnosticada uma lesão medular a nível C – 3, C – 4, o que significava que doravante eu seria um tetraplégico. O primeiro confronto com a realidade foi muito dura.



A minha família viveu comigo todos aqueles momentos, de sofrimento, de pânico e angústia. Foi e é a minha família que me fortalece até hoje.



Felizmente, possuía os apoios quer a nível afectivo, quer económico, que me permitiam enfrentar esta nova fase da minha vida com algum conforto e segurança.



Com o decorrer do tempo interrogava-me, “como é que era possível um jovem de 16 anos que praticava Jet Ski quase todos os fins-de-semana, jogava rugby, futebol e fazia equitação todos dias, ficar dependente de outros para quase todas as acções de um dia-a-dia normal?” “Como conseguiria aceitar a condição de tetraplégico”?



À medida que constatava a realidade da minha situação de dependência física absoluta, também me começava a questionar:



O que fazer agora da minha vida? Qual o meu futuro daqui por diante? O que poderei fazer face a esta situação? As respostas foram surgindo aos poucos. Na vida cada «coisa» tem o seu tempo certo, nós só temos de ter a exacta percepção da maturidade do tempo para realizarmos os nossos objectivos.



Ordenei a minha vida por prioridades:



Empenhei-me na fisioterapia, para recuperar o maior número de movimentos, disciplina que mantenho até hoje. A fisioterapia ordenada mantém os meus órgãos mais activos, incrementando a minha qualidade de vida.



Prossegui com os meus estudos com muito empenho.



Entendi que teria de tentar levar uma vida o mais próxima possível da normalidade.



E foi assim, que fui conseguindo encontrar o equilíbrio necessário para continuar a minha caminhada ascendente.



À medida que me ia reencontrando, fui descobrindo que tinha possibilidade de fazer algo que me fizesse sentir mais útil e realizado e simultaneamente ajudar os outros. Foi assim, que, a 23 de Novembro 2004, criei a Associação Salvador, com a missão de lutar e zelar pelos direitos e interesses das pessoas com deficiência. É com sentido de compromisso e com enorme prazer que assumo um papel interveniente na defesa das pessoas com deficiência.



Os anos que se seguem são de extrema importância para a associação. Iremos afirmarmo-nos como uma Associação de referência em Portugal. Para isto definimos os nossos 3 eixos com o objectivo de colmatar as insuficiências e contribuir para o desenvolvimento do país na área da deficiência.



Face ao contacto pessoal e à troca de experiências com associações congéneres internacionais, fiquei cada vez mais seguro, de que é não só fundamental, como prioritário, apostar na área da Investigação e Tecnologia.



Sem o contributo indispensável dos avanços científicos e, mesmo verificando uma abertura e mudança de mentalidades, o risco de regressão é permanente e a sociedade civil, juntamente com todos os cidadãos que aguardam por uma melhor qualidade de vida verão goradas as suas expectativas.



O investimento sólido em tecnologia e uma aposta sustentada num bom modelo de investigação garantirá ao país a mudança que se quer visível e imediata.



Ao apostar no Eixo de Investigação e Tecnologia creio seriamente, estar a contribuir para a modernização do país e para o incremento de qualidade de vida dos cidadãos, que como eu, lutam dia a dia pelos mais elementares pressupostos de igualdade.Outra das constatações que tive em diálogo com instituições foi o facto de existirem equipamentos sociais em número suficiente para dar resposta às necessidades que existem. Muito embora, esta premissa seja verdadeira, e existam associações em número suficiente, falta apoio público e privado ao desenvolvimento dos objectivos e propósitos destas instituições. Muitos projectos são abandonados em plena execução e tantos outros são por diversos redimensionados, à medida que escasseia o financiamento necessário à sua plena concretização. Foi com base neste cenário real que a Associação Salvador, não querendo gladiar-se entre apoios, de si já tão diminutos, irá potenciar através de canais de financiamento privado o apoio ao desenvolvimento de projectos de retorno social sólido, pensados e desenhados por Associações da área.




Sem ter qualquer intuito de nos substituirmos ao Estado, pretendemos antes ser um parceiro estratégico e uma alternativa credível ao bom funcionamento do génio criativo da sociedade civil.Desde que ando num cadeira de rodas deparo-me com muitas dificuldades, em especial nas acessibilidades. Portugal é um dos países mais procurados da União Europeia, pela riqueza do seu passado, cultura muito própria, o que o torna muito apetecível para qualquer turista de todo o mundo. Dado o nosso espírito aberto e acolhedor é extremamente necessário termos acessibilidades para todos, a fim de mostrarmos uma sociedade justa e desenvolvida onde todos possam circular livremente e da maneira mais independente possível. Por exemplo: andar na rua em passeios acessíveis, de preferência sem carros a bloquear o caminho, ter acesso aos transportes públicos, conseguir entrar e visitar museus, restaurantes hotéis e organismos estatais sem barreiras arquitectónicas.




Estes são apenas pequenos exemplos das dificuldades que uma pessoa com deficiência tem de ultrapassar para ter uma vida normal, igual à de qualquer outro cidadão sem deficiência. Obviamente que a questão das acessibilidades será um dos estandartes da Associação, transversal ao desenvolvimento de qualquer um dos eixos acima definidos.A Prevenção Rodoviária é outra das áreas criticas no nosso plano de actividades. Fui com orgulho uma das caras na última campanha da Prevenção Rodoviária Portuguesa, e continuarei a sê-lo, até que as estatísticas nos dêem uma razão para parar.Por tudo isto que referi e pela minha experiência de vida, afirmo com toda a convicção que a Associação Salvador é uma instituição que faz falta à sociedade, não só pelos objectivos que se propõem alcançar, mas também pela missão pessoal e profissional que esta representa para mim, em prol de todas as pessoas com ou sem deficiência!


Se desejar contribuir para a Associação Salvador, clique aqui.

1 comentário:

Unknown disse...

Ola hoje vi um rapaz bonito numa cadeira de rodas, no Jumbo de Lx. Então, a minha mãe disse que esse rapaz tinha uma historia especial...curiosa vim a net para saber um pouco mais.....PARABÉNS PELA ATITUDE POSITIVA E POR SERES COMO ÉS!!!

Iva Teves