domingo, 24 de junho de 2007

Dois estilos, duas civilizações

Há dias, o João Paulo Geada publicou neste blogue uma opinião cordata sobre a homossexualidade
(http://algarvepelavida.blogspot.com/2007/06/vamos-falar-claro-sobre-homosexualidade.html).
Não ofendeu ninguém, declarou apenas, com brevidade, um conjunto de verdades acerca do assunto.

Agora, não pretendo desenvolver o tema em si. Quero tratar apenas do contraste chamativo entre o estilo do artigo e o destempero de muitas reacções.

O João Paulo Geada tem razão e poderia defendê-lo com documentos e referências bibliográficas. Talvez noutro momento o faça. No entanto, a proposta para hoje é que cada um prescinda, por uns instantes, dos argumentos que lhe pareçam mais razoáveis e repare apenas nas expressões utilizadas pelos vários interlocutores.

A Fernanda Câncio, dedica duas linhas do seu blogue (Glória Fácil, 22 de Junho) ao artigo do João Paulo Geada, para o qualificar de «grunhice mais genuína e iletrada». Nem mais!

Nos comentários ao «post», encontramos muitas expressões como «parvoíce», «revela uma mente apenas capaz de absorver tralha», «burro», «estupidez»...

É interessante reparar neste contraste. A que se deve, esta diferença na forma de falar?

Por que razão, de um lado, se pretende chegar à verdade, com respeito por todos, e do outro lado as pessoas se sentem revestidas de uma autoridade implícita, que as dispensa de argumentar?

Não vamos julgar as intenções. Talvez os insultos correspondam a um propósito louvável. Provavelmente será esse o caso.

Mas permanece o contraste. Por que razão, as opiniões de alguém, expostas com respeito, não encontram interlocutores à altura, capazes de organizar as ideias sem ataque pessoal?

Pela minha parte, esta diferença de abordagem é tão significativa como o valor lógico das respectivas posições. Foi isso que me levou a escrever esta nota sem entrar directamente na discussão. O estilo, enquanto manifestação de algo mais profundo, já nos dá matéria suficiente para pensar.

7 comentários:

Anónimo disse...

Porque as opiniões desse alguém revelam profunda ignorância e desconhecimento do assunto abordado. Sendo a internet um meio por onde a informação está acessível a tantas pessoas, deveria existir maior cuidado por parte de quem escreve para não influenciar esses espíritos (muitas vezes pobres) com opiniões preconceituosas e que visam "retrocessos civilizacionais". Para a próxima, quando escrever, esse alguém que se baseie em factos e não em preconceitos, caso contrário abstenha-se de escrever. Para grunhos já bastam os que têm o poder de mudar as coisas e não o fazem.

Anónimo disse...

Senhor José Maria André,

Como poderá imaginar, nem toda a gente utilizará linguagem mais agressiva, quer esteja de um lado, quer do outro. Como haverá, por certo, o oposto. No entanto, seria muito interessante, por questões de discussão, poder contar com a informação dos documentos e referências bibliográficas que diz conhecer, sob perigo de se afirmar, mas nunca se mostrar. Por outro lado, e sobre o acto de se insultar ou não, gostaria de lhe perguntar se existe alguma normativa para o critério desta classificação, porque, mesmo não usando as chamadas palavras "feias", pode-se insultar pelo conteúdo da discussão, sobretudo quando se fala numa temática que abrange uma franja da população (10% da população europeia)que sofre interiormente e exteriormente por causa da discriminação a que está votada, de forma quase sistemática. E este sofrimento imagino que ninguém queira provocar a ninguém. Aliás, o senhor mesmo afirmou que, de um lado (imagino que o dos seus colegas de blogue) se procurou apenas chegar à verdade com o respeito por todos (embora não creia que tenha perguntado a esses todos o que é respeitá-los), e do outro as pessoas que se revestem de uma autoridade implícita - será memso assim? Quanto ao estilo, cada pessoa tem o seu, por direito, e não creio que deva ser essa a questão em análise, pois não?

Anónimo disse...

Já agora vejam os dados das Nações Unidas sobre a propagação da SIDA onde está lá muito claro que o grupo dos toxicodependentes, das prostitutas e clientes de prostitutas e dos homossexuais são os 3 de maior risco.

Veja-se em:
http://data.unaids.org/pub/EPISlides/2006/2006EpiUpdateSlide005.ppt#339,1,Slide 1

Em 2005, na Europa Ocidental, os grupos de toxicodependentes e de homossexuais eram os 1ºs praticamente ex aequo em nº de casos de SIDA, aparecendo o grupo dos heterossexuais cerca de 10.000 casas abaixo.

Veja-se em:
http://data.unaids.org/pub/EPISlides/2006/2006EpiUpdateSlide014.ppt
DADOS DE UM RELATÓRIO DE DEZEMBRO DE 2006
ESTA GENTE DA ONU SÃO MESMO UNS GRUNHOS E UNS ILETRADOS !!!!

anarresti disse...

"Por que razão, de um lado, se pretende chegar à verdade, com respeito por todos, e do outro lado as pessoas se sentem revestidas de uma autoridade implícita, que as dispensa de argumentar?".
Não acredito que seja isso que se passa. Quem defende os direitos dos homossexuais há anos que argumenta, apresenta dados para a discussão, procura debater o assunto, torná-lo público, essencial. É isso que continua a acontecer, a todo o momento. E, peço desculpa se me engano, mas textos como aquele que lhe inspirou esta reflexão é que parecem fruto de uma forma de pensar que dispensa o confronto com a verdade científica, o respeito pela diversidade e mostra um imenso desprezo (ou desleixo auto-indulgente) em relação à verdade. De resto, se o texto não suscita um debate elevadíssimo, em que imperam argumentos científicos válidos, em que o nível da discussão é elevado e esclarecedor é porque o texto é de fraquíssima qualidade como documento opinativo. E isto, se o não percebe ou não quer perceber, cava um fosso que dificulta a comunicação. Mas vale a pena tentar comunicar, dispensem-se os tiques de vitimização e a diabolização de quem pensa de maneira diferente da nossa. Quanto a apresentar argumentação para o confronto de ideias os senhores têm muito a aprender com os evangélicos americanos, que podem ser ultra-conservadores e fundamentalistas mas preparam-se muito bem para as questões que usam como bandeira. Até um texto deles sobre o criacionismo merece mais atenção e é muito mais catalizador de debate do que o texto sobre a homossexualidade de que aqui falamos.

Igor Caldeira disse...

Em boa verdade, o senhor Geada ofendeu milhões de pessoas. Não se admire se for ofendido também. Com a diferença de que, quem o ofender, muito provavelmente estará apenas a dizer verdades.

De resto, ao ler o seu post tive uma iluminação. O senhor Geada é a prova de que o Nelo existe.
http://www.youtube.com/watch?v=aZfLYUj0SX8

Anónimo disse...

Não, claro que não ofendeu ninguém... Só disse que os homossexuais não são "normais", que são promíscuos, que levam ao "colapso da família, da dignidade pessoal (???) e da própria família" (nem vale a pena fazer-lhe notar a diferença entre homosexualidade e sodomia, pronto, é a expressão que vem na biblia...). Enfim, são um excremento moral... mas hei, nada de ofensas. Podemos acrescentar que os pretos cheiram mal e os judeus são somíticos, mas sem ofensa, claro.

Anónimo disse...

... É fácil, cómodo e «dá bom aspecto» apontar a dedo aqueles que reagem a calúnias e insultos com palavrões...
Quanto a mim, quero apenas deixar claro para todos que, a coberto de um qualquer pretexto técnico, os comentários à invectiva de JPG de depois de 30 de Junho «desapareceram»... Quão conveniente, não é? Pois, para memória futura, aqui deixo o comentário que, decerto inadvertidamente, «foi apagado»:

«As suas considerações são, elas sim, anormais, porque radicam não na ignorância ou na estupidez (o que poderia ser perdoável, já que cada um é como nasce, não é?), mas na vontade pérfida de transmitir ideias falsas e/ou deturpadas, de modo consciente, com o objectivo de lançar o pânico histérico entre aqueles e aquelas que possam eventualmente acreditar numa argumentação digna de uma retórica podre de séculos. O seu intuito é pois o de ludibriar, pelo que o condeno a si veementemente e à ideologia que perfilha – extrema-direita nazi-fascista, no "melhor" que o III Reich deu à luz. Deveria ser punido pela sua intencionalidade maléfica consciente.»

Veremos se as vicissitudes técnicas prosseguem ou não.