Tenho uma sugestão!
Nem todos os jornais de grande circulação o fazem. Muitos jornais gratuitos abdicam disso. Os semanários mais respeitados rejeitam-na. Contudo títulos importantes, com grande tiragem, tradição e reputação, facturam muito dinheiro todos os dias com estes anúncios.
Qualquer leitor vai à banca de jornais com toda a naturalidade à hora do café e compra. Não há nada a esconder, o Diário de Notícias traz todos os dias uma página cheia de cuecas, soutiens, rabos com fio dental, seios a extravasar da “embalagem”, contactos de telemóveis, páginas internet, linhas 707 ou 808, texto explícito, fotografias indesmentíveis.
Dir-se-à: isto acontece em todas as partes do mundo, os roteiros turísticos das grandes metrópoles têm n maneiras de veicular os endereços de “escort girls”, é inevitável, etc, etc. Okay, desta vez não vou dar qualquer opinião. Em especial porque não percebo a fundo da matéria, e tenho receio de interpretar mal a questão, ou melhor, de ser mal interpretado... Vou antes dar uma sugestão. Sim... uma sugestão. E uma sugestão dirigida a duas pessoas que escrevem nesse jornal, uma das quais eu respeito e admiro imenso, outra de quem só me apercebi, confesso, aquando do último referendo ao aborto. São eles o Prof. João César das Neves que, repito, muito admiro, e a Dra. Fernanda Câncio.
Eis a minha sugestão.
Gostaria muito francamente que numa das próximas crónicas do jornal, onde escrevem, versassem sobre a matéria acima, e em particular, que esquecessem um pouco o lado literário (no caso da Fernanda) e económico (no caso do João) e se pronunciassem mais sobre o ponto de vista humano, a saber:
- quem são estas raparigas de 18, 20, 25 anos?
- de onde vêm e porquê?
- qual a sua actividade concreta, e quais as suas reais necessidades económicas?
- depois das páginas de emprego e de venda de automóveis usados, o que têm elas para vender que justifique a um jornal ter uma secção “relax”?
- estão elas integradas em empresas legalmente constituídas ou em redes, círculos, triângulos, losângulos...?
- em vossa opinião, qual a melhor forma de lidar com este fenómeno?
Querem aceitar o repto?
1 comentário:
Agradeço muito a sua mensagem e o repto que me envia.
Deixe-me começar por dizer que, ao longo destes muitos anos que tenho de escrita nos jornais, tenho seguido sempre uma regra simples nos meus contactos com os leitores. Respondo sempre, atenta e respeitosamente a todos os que me escrevem. Ultimamente, juntei uma outra regra, de não
entrar em «blogs» e afins. Sei que isso é hoje um movimento muito poderoso, e tenho sido sucessivamente incentivado a criar um ou a entrar noutros. Mas não entro, e acima de tudo, porque não tenho tempo. Mas respondo gostosamente à sua mensagem.
Fui ao blog. e (surpreendentemente, porque não sei lidar bem com essas coisas) consegui ler o seu desafio. E respondo da seguinte forma: quanto à questão de fundo, o uso obcessivo de imagens sexuais na publicidade e informação, tenho escrito várias vezes, e é possível que volte ao tema em breve. Relativamente ao ponto específico que levanta, de saber quem são
essas raparigas, o que as motiva e como se sentem, a minha primeira reacção é achar que nunca me atreveria a escrever sobre isso, porque o que escrevesse seria uma ficção minha, e acho o assunto demasiado sério para contribuir com uma ficção. Eu não sei quem são, o que desejam e como se
sentem pessoas que são usadas desta maneira. Posso tentar imaginar, mas isso seria a tal reacção. Pouco mais posso do que rezar por elas. Mas vou pensar sobre o seu desafio e talvez toque nele um dia.
Se achar conveniente pode colocar esta resposta no blog.
Respeitosamente, com agradecimentos
João César das Neves
Enviar um comentário