Os bebés desenvolvem-se, não se fabricam
Muitas vezes diz-se que um embrião não pode ter direito à vida como una pessoa adulta, já formada. Esta maneira de pensar baseia-se num erro muito difundido hoje: a ideia de que um não nascido é um indivíduo "em construção", mas os seres humanos não são fabricados como os carros.
Assinado por Richard Stith Data: 7 Fevereiro 2009
Em Dezembro de 2005 o New York Times publicou um artigo em que sociólogo Dalton Conley afirmava que "a maioria dos americanos vê o feto como um indivíduo em construção". Esta ideia está de moda entre os partidários do aborto, e explica por que razão tanta gente boa considera absurdos ou irracionais os argumentos utilizados pelos pro-vida.
Pensemos em algo que possa ser feito ou fabricado: una casa, un artigo científico ou um carro. Em que momento da cadeia de montagem podemos dizer que existe um carro? Alguns dirão que o carro existe a partir do momento em que se reconhece a sua forma. Outros atenderão a critérios funcionais: há carro quando se instala o motor ou se colocam as rodas. Haverá também quem pense que só existe carro quando circula pela rua.
No entanto, provavelmente todos coincidiremos numa coisa: ninguém dirá que o carro existe no início da cadeia de montagem, quando o primeiro parafuso se une à primeira porca. A união de duas peças de metal não está relacionada com a ideia de carro.
A ideia "construcionista"
É deste modo que muita gente imagina o começo da vida humana. No início do processo não há casa, nem carro, nem ser humano. Alguns pensam que o bebé deve ter toda a protecção possível, mas só a partir do momento em que está fabricado.
Que acontece quando os nossos amigos "construcionistas" ouvem dizer que um embrião tem o mesmo direito de viver que una pessoa adulta? O jornalista Michael Kinsley reflecte muito bem este modo de pensar no Washington Post: "Custa-me a crer que um punhado de células - mais primitivo inclusivamente que uma lombriga - tem os mesmos direitos que o leitor deste artigo".
Há algo de verdade nesse argumento: nada pode ser una coisa bem definida antes de apresentar a sua forma completa. A forma de uma coisa "em construção" é algo imposto a partir de fora. O que Kinsley não entende é que no desenvolvimento de um bebé, a forma está lá desde o momento da concepção.Por isso, é uma incoerência que algumas pessoas como o ex-candidato republicano John McCain assegurem que há vida humana desde o momento da concepção e, ao mesmo tempo, defendam e apoiem a investigação com células mãe embrionárias.
Humano desde o princípio
Comparar o nascimento de um bebé com o processo de fabricação de um carro pode ser una imagem bonita, mas é totalmente equivocada. Diferentemente do que acontece com as coisas, nós, os seres humanos, não somos fabricados por ninguém. Nem sequer Deus nos fabrica. Não existe um construtor externo, porque a vida humana não se faz, mas desenvolve-se.
Na construção, a forma que define a coisa vai aparecendo de maneira progressiva, na medida em que se lhe vão acrescentando pormenores a partir de fora. No desenvolvimento, pelo contrário, o princípio vital (aquilo que na tradição cristã se chama "alma") está desde o princípio.Os organismos vivos não são formados nem definidos desde fora. Definem-se e formam-se a si próprios. A natureza ou forma de um ser vivo está nos seus genes desde o princípio, e essa forma começa a manifestar-se desde o primeiro momento da sua existência. Os embriões não precisam de ser modelados de acordo com um tipo de ser. Já são eles próprios um tipo de ser.
Para que se torne mais claro proponho outro exemplo gráfico Suponhamos que você tem uma câmara Polaroid e faz uma fotografia única e irrepetível, por exemplo, uma pantera no meio de densa vegetação. Antes de a revelar, um amigo pega na fotografia e rasga-a. Quando você o repreende, ele defende-se dizendo que só via uma mancha confusa. No entanto, você sabe que a pantera estava ali. Inclusivamente mesmo que a não pudéssemos ver.
Qual a razão pela qual às vezes nos parece preferível a ideia do ser humano "em construção" e outras, pelo contrário, pensamos que é melhor a do desenvolvimento? A visão "construcionista" torna-se atractiva sempre que afastamos da nossa mente o pensamento do futuro; é fácil cair no "construcionismo" quando nos fixamos na aparência do embrião ou do feto, sem ter em conta o desenvolvimento intencional.
Ora bem, quando olhamos para trás no tempo comprovamos que a ideia do desenvolvimento é muito mais convincente. Se soubesse que a mancha confusa que aparece na Polaroid é uma pantera, o seu amigo não teria rasgado a fotografia. O mesmo aconteceria se tivéssemos uma fotografia do que alguns julgam ser uma massa de células. Diríamos: "Olha, Pedro, esse és tu!"
"Desconstruir" o incapacitado
A ideia do ser humano "em construção" está também na base do debate sobre a eutanásia. Se um Mercedes começa a ser desmantelado, chegará um momento em que deixemos de dizer que aquilo é um carro. Se a algum de nós nos dessem um motor ou umas rodas, ¿diríamos que é um Mercedes? Evidentemente que não.Porém, a vida humana não funciona assim. A natureza de uma criatura viva perdura independentemente do seu aspecto e da sua função. Enquanto um incapacitado continue a ser algo unificado (quer dizer, enquanto permaneça com vida), aí existe uma pessoa e não simplesmente um punhado de células.
Com efeito, uma pessoa em estado vegetativo continua a ser um ser humano até ao momento da sua morte. É por esta razão, que nos parece trágica a sua situação: porque tem uma natureza humana completamente frustrada. Pelo contrário, os vegetais verdadeiramente não nos causam pena. Não ocorre a ninguém dizer a uma alface: pobre vegetal!
Alguns de nós acabaremos por ser uns incapacitados como consequência de um acidente ou da idade. Não poderemos desenvolver bem a nossa capacidade de falar, de raciocinar, de escolher ou de querer. Então a nossa humanidade estará escondida tal como quando fomos concebidos, mas isso não significa que não estejamos ali.
Richard Stith, ex-professor da Valparaiso University School of Law (EUA).24 de Setembro de 2008
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