Educação da Sexualidade em Meio Escolar - artigo da Dr.ª Teresa Tomé Ribeiro
EDUCAR PARA UM PROJECTO DE VIDA
No passado dia 27 de Outubro, teve lugar na Culturminho em Braga, o segundo Sábado In Familia, subordinado ao tema “Que educação da Sexualidade?” Nestas sessões pretende-se a reflexão e o debate de temas relacionados com a Educação e com a Família.
A orientação da reflexão esteve a cargo de Teresa Tomé Ribeiro, Professora da Escola de Enfermagem S. João (Porto) e formadora de Professores, com trabalhos publicados na área da Educação da Sexualidade. Foi um espaço de diálogo e confronto entre a palestrante e a assistência – jovens, professores, educadores e pais.
Teresa Tomé Ribeiro começou por contextualizar a necessidade da criação da disciplina de Educação Sexual nas Escolas, salientando o contexto social actual, muito repassado de mensagens e sugestões com forte carga sensual e até erótica, sobretudo a nível da publicidade – hoje nada sevende sem «esse atractivo».
Por outro lado, cada vez mais a sexualidade é vista de forma hedonista, como algo do indivíduo e para o seu uso. Tudo isto gera muita informação e desinformação, em que se torna difícil saber o que é e o que não é preconceito, o que é e o que não é tabu. A este clima, soma-se o facto de, em muitos casos, a família ter deixado de transmitir educação nesta matéria, devido à falta de tempo dos pais para estarem com os filhos.
«O grande problema da sexualidade é que as crianças hoje em dia passam pouco tempo com os pais e até mesmo com o resto da família. Há toda uma educação não formal, comunicada através de gestos, palavras, de manifestações de carinho entre pais, irmãos, etc., que as crianças e adolescentes acabam por não receber e que é fundamental para entenderem que existem vários tipos de afectos. Isto leva a que do amor só fiquem com um conceito muito sensual e erótico, aquele lhes transmitido pela televisão, cinema e publicidade…»
Por todas estas razões, defendeu a palestrante, a educação para a sexualidade é necessária, mas convém perceber que mensagens interessa passar. Convém que os pais percebam que competências querem que os seus filhos adquiram a este nível. «Não podem deixá-los sozinhos, sobretudo porque aqui chegados, todas as experiências os marcam, tudo se soma, nada se subtrai».
Teresa Ribeiro sustentou que, neste âmbito, as campanhas até aqui desenvolvidas têm-se centrado muito na indicação dos comportamentos a tomar e na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Ora, esta é uma visão afunilada da sexualidade, porque não perspectiva o indivíduo como um todo, e cujos resultados não têm sido os esperados: aumentou o número de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidezes indesejadas, com a agravante deste aumento se verificar em idades cada vez mais jovens.
Modelo de educação sexual alternativo
Em alternativa, propôs um modelo de educação sexual em que a questão seja abordada a três níveis: biológico, psicoafectivo e de construção de um projecto de vida. Neste modelo, a sexualidade é vista «como uma dimensão da pessoa, que a constrói». Teresa Tomé Ribeiro salientou ainda a importância de não deixar a educação da sexualidade apenas a cargo da escola – afirmando mesmo que, até aos 10 anos, a educação sexual dever acontecer unicamente em contexto familiar. Além disso, é muito importante não se baralharem as etapas de crescimento do indivíduo. Se este, enquanto adolescente, não viver essa fase de modo a perceber o que é a sexualidade e, ao invés, avançar logo para uma vida sexualmente activa, não saberá progredir para a etapa seguinte, da vida adulta. A adolescência foi traduzida como um momento importante para se formar «o perfil do outro que mais gostamos, que melhor combina connosco, a pessoa com quem queremos partilhar a nossa vida».
A oradora alertou para a urgência de os pais ajudarem os filhos a ter um projecto de vida que inclua a dimensão afectiva, e não se ficarem pela questão das opções profissionais, pois a dimensão afectiva «fica para toda a vida». Se for ajudado a formar um projecto de vida, o adolescente poderá lidar mais facilmente com momentos de confronto, como as saídas, a bebida, etc. Um modelo de educação sexual que a veja como parte da educação integral do indivíduo, estruturada nestas três vertentes, é aquele que permite obter resultados diferentes dos alcançados.
Sem comentários:
Enviar um comentário