sábado, 16 de junho de 2012

Conferência Demografia e Economia - O Futuro decide-se hoje!


Teve lugar no passado dia 31 de Maio a Conferência “Economia e Demografia – o Futuro Decide-se Hoje”. As várias intervenções coincidiram no diagnóstico de que se trata de um problema grave com causas e consequências vastas e, na afirmação de que, o que importa, antes do mais, é reconhecer, que o problema existe.
Alban D’Entremont, canadiano, Professor de Geografia da População e especialista convidado em vários foros internacionais, chamou a atenção para o facto de a falta de renovação de gerações em Portugal estar a acontecer já à 30 anos, o que assinalou corresponder em termos demográficos a uma geração inteira: “há uma geração inteira que não se renovou”. Dizendo-se surpreso pelo contexto que encontrou em Portugal ao estudar o caso para preparação da Conferência, afirmou que Portugal possui um dos ambientes mais agrestes que conhece á formação de famílias com filhos: “ainda é pior do que a Espanha, realidade que conheço bem”. O professor afirmou que no seu entender existem três tipos de soluções testadas nos outros países: aposta na melhoria da produtividade e aumento de impostos para manutenção do estado social (solução com pouco sucesso pois não foi possível elevar a produtividade como era necessário e o peso da carga fiscal sobre a população ativa é insuportável); aposta na imigração (dificuldades verificadas por um lado na integração mas também na permanência - foram feitos investimentos em formação nalguns países numa população que acabou por regressar aos países de origem) e politicas de família (dado o exemplo do Governo Socialista Francês de François Miterrand que conseguiu inverter os números com uma série de políticas de apoio á família ao nível fiscal, de licenças de maternidade muito alargadas, politica de habitação, abono de família universal,… - os países da Europa que adotaram medidas similares embora com velocidades e alcance diferentes inverteram as suas curvas de natalidade).
Sobretudo focada nas questões da saúde e na importância da manutenção de um sistema de saúde assente essencialmente num sistema de seguro público ou privado que assegure que a condição de estar doente não impossibilite as pessoas de receberem oportunamente o tratamento adequado, Isabel Vaz, especialista no Sector Saúde, chamou a atenção para os crescentes encargos com a saúde que absorvem uma parcela cada vez maior do PIB per capita em todos os países. Este aumento contínuo que se verifica desde sempre está muito ligado às questões da chamada tecnologia, ou seja, da melhoria dos diagnósticos e tratamentos. Assinalou ainda que países com maiores rendimentos gastam mais em cuidados médicos. Este é um aspeto positivo pois “o sistema de saúde produz tempo e qualidade de vida, que é algo que as pessoas valorizam muito”. Chamou contudo a atenção para o facto de ser possível acontecer o que apelidou de uma revolta dos jovens: “a população mais jovem poderá recusar-se a financiar a saúde dos mais velhos, sobretudo se não acreditar na sustentabilidade do modelo social atual (ou seja, que venham a ter acesso ao mesmo direito quando eles próprios forem velhos) implicando enorme tensão social”. A oradora manifestou ainda alguma preocupação pelo que apelidou da concorrência pelos fundos públicos disponíveis em especial para as pensões, o que assume uma particular relevância pelo facto de uma menor população ativa representar uma quebra na capacidade de geração de riqueza para financiar este aumento contínuo. A gestora conclui a intervenção defendendo a necessidade de maior apoio às famílias, à natalidade e à justiça e solidariedade intergeracionais.
Com uma análise exaustiva daquele que é o perfil do atual consumidor e a evolução e diferenças ocorridas no curto prazo, Paulo Caldeira da Kantarworldpanel, assinalou entre outros os três aspetos mais significativos do último trimestre: evolução do consumidor para a procura novas soluções de forma a reduzir custos; a aposta em produtos de marca muito embora o “gap” de preço destes em relação à marca esteja a diminuir e o “Back to Basics” – Foco no básico, aumento da procura dos bens essenciais (arroz, massa, peixe, carne, vegetais e frutas) para a confeção total das refeições, reduzindo a procura de refeições pré-feitas e de refeições fora de casa. Paulo Caldeira referiu-se ainda ao desinvestimento que as cadeias e empresas internacionais estão a fazer no país, relacionado com a nossa queda na dimensão do nosso mercado face aos países ascendentes que possuem grande dinâmica demográfica: “fecham-se cá escritórios e delegações para abrir na Asia ou no Brasil”. O orador terminou assinalando que o padrão de consumo está a regredir e a voltar ao passado, com mudança de hábitos, não havendo crescimento do consumo o que, no curto prazo, está relacionado com o contexto e com os índices de confiança, mas que no longo prazo estará associado ao envelhecimento da população e ao seu menor poder de compra.
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