QUEM APOIA AS FAMÍLIAS EM PORTUGAL?
Os casais estão a ficar escravizados por uma conjuntura que os obriga a terem de trabalhar cada vez mais.
É certo que noutros tempos a vida em Portugal era dura, não havia as comodidades que existem hoje e que, por isso, quase todas as famílias viveram na pele o fenómeno sofrido da emigração que obrigou à separação de muitos agregados na esperança da consecução de melhores condições de sobrevivência para os seus entes queridos. Mas o acesso a mais comodidades não significa necessariamente melhor qualidade de vida. Se assim fosse as gerações de hoje seriam as mais felizes de sempre e isso não acontece.
Hoje, a grande maioria dos casais vive igualmente escravizada em torno da sua situação laboral cada vez mais exigente. Ambos os cônjuges trabalham fora de casa e quando regressam ao lar a empresa doméstica está dotada ao abandono, sem que nada do que é necessário para vivência familiar esteja assegurado. Tanto o marido como a mulher trabalham mais de 10 horas por dia fora de casa, sendo que um estudo recente do INE aponta que as mulheres portuguesas trabalham em média por semana mais 5 horas que as mulheres dos restantes países europeus. No caso dos homens esse diferencial deverá ser ainda maior.
Muitos casais, para fazer face às despesas mensais, têm assumido mais do que um trabalho, depois do primeiro horário laboral ou ao fim-de-semana, com o consequente prejuízo que essa situação acarreta quer para a sua saúde pessoal, quer para o bem e estabilidade de toda a família. Outros, com mais sorte, recorrem a familiares que ainda os podem apoiar.
Os que mais sofrem com esta situação são, como sempre, os elos mais frágeis, ou seja, os dependentes, que o mesmo é dizer as crianças e os idosos, sobretudo aqueles já castigados por outras situações de sofrimento como a doença.
No caso dos idosos, estes vêem-se muitas vezes abandonados, jogados para situações, que em muitos casos, nem os próprios familiares desejariam em situação normal, por não promoverem a dignidade de ninguém, condição a que qualquer ser humano tem direito, independentemente da sua classe social. Constate-se a injustiça desta situação quando vemos que foram esses mesmos idosos, que, assegurando primeiro aos seus filhos, o apoio ao crescimento e à educação, voltam agora a fazê-lo aos netos porque os seus pais, repetidas vezes não o conseguem garantir. Se não há tempo para educar os filhos, muito menos o há para visitar familiares ou amigos e as relações não se fortalecem. E as famílias não têm tempo para ser família.
Neste contexto, aqueles que ainda, nas horas vagas, se dedicam a actividades voluntariosas em prol da comunidade, totalmente gratuitas e sem quaisquer outros interesses, são autênticos heróis, muitas vezes olhados com descrédito por parte dos seus coetâneos que não acreditam que por detrás da sua dedicação não exista qualquer contrapartida.
Este é um dos problemas que mais contribui para que a taxa de divórcios continue a crescer em Portugal e para descida acentuada da taxa de natalidade e a solução para ele reside na alteração do modelo económico que temos em Portugal e na Europa, que está esgotado, estando mais do que comprovado que o mesmo não resulta e apenas nos conduz ao abismo. Mas curiosamente isto não se discute…
O mercado de emprego em Portugal é cada vez mais monopolizado por dois ou três grandes empresários e as pequenas e médias empresas vão encerrando. Vivemos num país que não produz e em que quase todos trabalham no sector dos serviços. A agricultura foi desincentivada, as pescas viram a sua frota ser abatida, as indústrias foram descontinuadas.
A manter-se esta situação, e como país hiper-desenvolvido que somos no campo das novas tecnologias, daqui a algum tempo, quando tivermos fome, restar-nos-á talvez, como única possibilidade, a de nos alimentarmos da nossa colheita digital promovida numa qualquer FarmVille.
A história da humanidade está cheia de grandes civilizações que ruíram e o conhecimento da história dá-nos a vantagem de, a partir desses exemplos, evitar voltar a cometer os mesmos erros. O declínio desses povos começou exactamente pela ruína interna e não por agressões externas. Aprendamos com o passado e escolhamos novos líderes.
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