Constituir família continua a ser a resposta que colhe a maioria das respostas nos estudos de opinião acerca do que as pessoas desejam para as suas vidas ou ainda o que as pessoas indicam como factor determinante para a conquista da felicidade.
No entanto, os indicadores apontam em sentido bem contrário ao dos desejos expressos em tantas sondagens e estudos de opinião:
- redução do número de casamentos (apesar de uma ligeira subida dos casamentos civis no último ano),
- elevado número de divórcios (quase 30% dos casamentos),
- significativa instabilidade nas uniões de facto,
- aumento das famílias em situação de monoparentalidade (quase 12% das famílias).
Na verdade, a realidade está bem distante da expectativa expressa, do futuro sonhado.
Mas porquê esta divergência entre a meta e o realizado?
Dizia-me um advogado com larga experiência em casos de divórcio que o que mais o perturbava ao fim de muitos anos a lidar com casais desavindos, irreversivelmente desavindos, era a verifi cação que o que marcava a maior parte das discórdias era um punhado de coisa nenhuma: Insignificâncias acumuladas, desencontros e contratempos, silêncios, desencantos, cansaços, que um sorriso, uma palavra, um olhar atento, um segundo de atenção e vontade, teriam eventualmente impedido que a ruptura se instalasse.
Há quem defenda que a família está em crise, como se fosse uma construção abstracta, com vida e vontade próprias, autonomizada de quem a compõe e constitui; que a sociedade contemporânea requer formas mais versáteis e fluidas de vida comum que melhor se adequem à transitoriedade descomprometida das relações interpessoais dos nossos dias.
Contudo, a sociedade, hoje como sempre, depende de comportamentos estruturados e estabilizados, fiáveis, indutores de segurança, promotores da indispensável coesão social.
A crise estará sim nas pessoas que perderam competências de relação, que desaprenderam que amar é também intuir o outro e sentir empatia, que desconhecem e descrêem que a vida comum depende da vontade de em cada dia construir uma vida em comum.
Maria do Rosário Carneiro
Deputada do Partido Socialista
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