domingo, 27 de junho de 2010
É preciso coragem para rever pontos negativos da lei da interrupção da gravidez, defende Miguel Oliveira da Silva, o presidente do Conselho Nacional de Ética
Público: Três anos depois da lei do aborto, que balanço faz?
Miguel Oliveira da Silva: Um balanço muito contido. (....) As preocupações são muitas, muitas.
Público: Nomeadamente...
Miguel Oliveira da Silva: O estatuto de objector de consciência, a percentagem de mulheres que falta à consulta de planeamento familiar, obrigatória 15 dias depois: cerca de 50 por cento falta. Inquietante.
Público: É um sinal de que vão correr risco de novo aborto?
Miguel Oliveira da Silva: Não é um sinal, é a certeza e os próprios dados da Direcção-Geral de Saúde indicam isso. Que há mulheres que fazem dois e três abortos num ano. O que nos levanta questões difíceis do ponto de vista ético. Alguns defensores da despenalização do aborto há três anos - médicos, enfermeiros -, questionam-se sobre se o aborto deve ser gratuito nos segundos e terceiros casos. O espantoso é que os partidos que se opuseram à despenalização há três anos se tenham esquecido de falar nisso na última campanha eleitoral. Dão isto como assente, como um dado adquirido? E mesmo os outros, que estão a favor...
(...)
Público: Então pensa que a lei devia ser alterada?
Miguel Oliveira da Silva: Acho que é importante ter coragem de rever aspectos negativos desta lei. E não vejo ninguém com vontade de lhe mexer, nem os que votaram a favor, nem os que votaram contra.
(....)
Público: Esta é a sua preocupação, três anos depois da lei do aborto?
Miguel Oliveira da Silva: Tenho outra inquietação. O número de abortos está a subir. De 12 mil passou para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009.
Público: Aumentaram os abortos ou a visibilidade do problema?
Miguel Oliveira da Silva: Está a subir o registo legal do número de abortos até às dez semanas.
Público: Era expectável...
Miguel Oliveira da Silva: É expectável que isso aconteça durante dois a três anos, porque são muitas mulheres que vêm do aborto clandestino e que deixam de o fazer às escondidas. Mas vamos ver até quando continuarão a subir. Se os números continuarem a subir, a subir, é o total falhanço do planeamento familiar.
Público: Não é preciso mais tempo para perceber?
Miguel Oliveira da Silva: Pouco mais tempo. No máximo, um ano. Quando tivermos os dados de 2010 em 2011, se a tendência ascendente continuar, alguém terá de ter coragem de dizer que é tempo de pensar sobre isto e que há algo que não está a funcionar em termos de contracepção.
Público: Por ignorância?
Miguel Oliveira da Silva: Ainda por alguma ignorância, também. Se as pessoas não sabem quando têm a ovulação, se há mulheres que tomam três pilulas do dia seguinte no mesmo mês... Três vezes contracepção de emergência num mês? Ninguém tem três ovulações num mês! É ignorância total, abuso, mau uso. A questão é que, além de muita ignorância que ainda existe, temos de saber se o recurso ao aborto vem, nalguns casos, na sequência de uma política irresponsável de contracepção. Acho que quando tivermos quatro anos de lei do aborto é tempo mais do que suficiente de parar para pensar. Não é para mudar a lei. É para avaliar. E não vejo ninguém a querer fazer isso. É surpreendente
Fonte: Público
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3 comentários:
É uma chacina legalmente admitida com a passividade da direita e o regozijo da esquerda política.
O aborto como método contraceptivo.
Melhor do que isto só mesmo o regime nazi e até nisso os hospitais públicos já se assemelham aos campos de concentração de Auschiwtz onde inocentes eram semanalmente mortos "só por mera opção"
Isto é uma vergonha!
Ando eu a pagar impostos para andarem a matar inocentes à conta da irresponsabilidade e da ignorância de muitas mulheres (e homens). E ainda por cima a população está a regredir, com as graves consequências que daí advêm.
Andam a abortar 2 e 3 vezes ao ano. Mas isto cabe na cabeça de alguém? E não há ninguém que ponha um travão nisto?
A lei tem de mudar mas não para os termos que este cavalheiro pretende. Não me esqueço que ele liderou as hostes do sim e que por isso levou o prémio de ser Presidente da Comissão de Ética, logo aquele que ética não tem nenhuma. Primeiro há que retirar a gratuidade do aborto, depois aprovar o Estatuto do naciturno, terceiro criminalizar o aborto a pedido. Não há meias tintas, complacência ou compromissos. Não há meios caminhos. Tudo o que caía fora da lei de 84 (?) é criminalizado.
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