domingo, 30 de agosto de 2009

Educação do desejo



Dos 13 aos 16 AnosPara rapazes: a educação do desejo

Por Ana Otte, Doutora em Medicina e Orientação Familiar


O adolescente masculino começa a viver nestas idades transformações a todos os níveis: psicológicas, biológicas e afectivas. Nele também começa a surgir o interesse pelas raparigas, procurando querer a alguém e sentir-se querido. É nesta altura que devemos falar com o nosso filho do amor, entrega e sentimentos, tudo orientado a uma educação ordenada do desejo e da afectividade.
Existe hoje uma grande preocupação dos pais pela educação dos filhos, mas por vezes estabelecem prioridades equivocadas. Podem gastar muito mais energias, tempo e dinheiro para que o rapaz aprenda inglês e informática do que em fazer dele uma pessoa honrada, responsável e íntegra.
Apoiá-lo emocionalmente
Cada rapaz necessita um desenvolvimento harmónico de todo o seu ser, o que implica que os seus pais lhe transmitam valores. Daqui que a educação sexual deve incluir a afectividade, a educação da vontade, dos sentimentos e das emoções. Assim, devem aprender a reconhecer os seus próprios sentimentos, compreender os sentimentos dos demais e partilhá-los, aprender a escutar, descobrir as necessidades de um amigo; aprender a orientar a ansiedade, a ira e a tristeza, saber controlar as emoções; assumir a responsabilidade das decisões e atrever-se a um compromisso. Muitos pais temem que quando os filhos cheguem à adolescência, a influência familiar fique eclipsada pelo círculo de companheiros, convertendo-se em origem dos conflitos. No entanto, o ambiente familiar é determinante: os adolescentes que se sentem unidos à sua família têm menos risco de assumir condutas como o consumo de drogas, álcool, tabaco ou as relações sexuais prematuras. Isso sim, têm que poder contar com algum dos pais em casa em momentos chave do dia, como o regresso da escola, colégio ou instituto, a hora do jantar ou de chegada de outras actividades ou saídas. Os filhos devem saber que se necessitam falar com os pais pelo menos um deles vai estar acessível, ainda que seja pelo telefone, porque a proximidade emocional è, inclusivamente, mais importante do que a física.

Desenvolvimento das características sexuais secundárias
Ainda durante a puberdade, desenvolvem-se no corpo do jovem hormonas sexuais, que aumentam consideravelmente nessa etapa e são responsáveis pelo desenvolvimento definitivo dos órgãos sexuais. As alterações que se vão produzir na estrutura corporal a partir dos 12 anos são especialmente chamativas: o clássico “esticão” que conduz a um enorme aumento do apetite, aparição de pelos na cara, axilas e púbis; a laringe aumenta de tamanho, as cordas vocais alargam-se e produz-se uma alteração na voz. As glândulas do suor são mais activas e produzem um odor desagradável; há que insistir em que têm que cuidar da higiene corporal e não se exporem a que alguém lhes chame a atenção. Finalmente, ocorre o desenvolvimento e primeira actividade dos órgãos genitais. Produzem-se pela primeira vez os espermatozóides capazes de fecundar, aparece o primeiro derrame (polução) de forma natural durante a noite, acompanhado de sonhos eróticos e sensação de prazer.

O despertar da sexualidade
Nestas idades surge com força o despertar da sexualidade, quando ainda não chegou a maturidade psíquica e pessoal. Vontade e conhecimento não são no entanto suficientemente fortes para dominar e controlar o impulso sexual. Com facilidade este potente impulso pode conduzir à masturbação, que consiste em dar a si próprio, solitariamente, o prazer sexual pela excitação voluntária das partes genitais, que se pode converter num hábito quando não se aplica nenhum remédio para dominar esse impulso. Nos anos de desenvolvimento, esta atitude não é um sinal de um desejo sexual exagerado, nem tem efeitos secundários físicos, mas pode estar acompanhado de sentimentos de mal-estar porque o poder sexual não está feito para um só, mas para fazer feliz outra pessoa. O papel dos pais consistirá em desdramatizar e oferecer uma orientação positiva para ajudar a superá-lo: evitar o isolamento, a solidão, a incomunicação, os hábitos de vida muito fechados e introvertidos, assim como música e filmes excitantes.

Dúvidas sobre a homossexualidade
Outra preocupação hoje em dia dos pais é uma possível tendência homossexual do seu filho, desde que o tema deste transtorno afectivo está na rua. A homossexualidade consiste em sentir uma atracção erótica sobre pessoas do mesmo sexo, acompanhado de uma certa indiferença sobre pessoas do sexo oposto. Isto não quer dizer que qualquer pessoa que alguma vez na sua vida tenha experimentado uma relativa ambivalência nas suas tendências sexuais seja gay. Estas tendências aparecem por vezes na adolescência e são passageiras, quando os rapazes estão em pleno desenvolvimento. Inclusivamente, é típico ter sentimentos ambíguos. Os pais devem fomentar uma vida saudável, estimular o contacto com a natureza, desportos, excursões, hábitos de uma boa higiene, horas de sono suficientes, uma alimentação sadia e que tenham um círculo de bons amigos. Mesmo assim, é importante que se esforcem numa luta ascética pessoal, disciplina dos sentidos, da imaginação e força de vontade.

ASPECTOS PARA ABORDAR A EDUCAÇÃO DA AFECTIVIDADE


Ensinar-lhes a interessarem-se pelos problemas dos outros.
Que aprendam a assumir a responsabilidade das decisões tomadas.
Estimular o gosto pelas boas leituras.
Ensinar-lhes a delicadeza no trato com os outros, incluindo o vocabulário.
Serem coerentes na educação, dando exemplo.
Criar um ambiente de confiança.
Ter tempo para eles e saber escutar.
Perdoar e pedir perdão. Os filhos dão-se conta dos defeitos dos pais.
Que saibam que o seu lar é um refúgio, aconteça o que acontecer.

Treinar a vontade
A ninguém lhe escapa que aos rapazes de hoje lhes falta vontade. Isso mesmo podemos verificar nas próprias classificações escolares: se tiram más notas, na maioria das ocasiões é porque não estudam e não estudam porque lhes falta vontade. Para treinar a vontade há que: aprender a dizer que não a pequenas coisas, acostumar-se a se levantar pontualmente, arrumar as suas coisas, fazer a cama ou cumprir um horário. Actualmente “todo o mundo”, e os pais não são excepção, tem medo de dizer que não, medo à autoridade. Mas, a autoridade com carinho faz falta para ajudar ao desenvolvimento de uma pessoa – os filhos – que ainda não está totalmente formada. O característico desta etapa da vida é a insegurança pessoal, que se acentua com o permissivismo e a falta de autoridade de muitos pais e professores. Se tudo é permitido e não há critérios morais, incrementa-se a insegurança e o medo em adquirir compromissos, aparecendo um certo temor ante as dificuldades do futuro.

ASPECTOS PARA ABORDAR A EDUCAÇÃO DA SEXUALIDADE


Que tenham critérios para saber distinguir entre o bem e o mal.
Que não se envergonhem de não agirem como “todo o mundo”.
Que conheçam o significado da sexualidade humana.
Que saibam tudo o que está relacionado com a procriação humana.
Que conheçam também a biologia da mulher.
Que conheçam os inconvenientes da anticoncepção artificial.
Que aprendam a respeitar as peculiaridades psico-sexuais das raparigas.
Que os pais sejam oportunos e verdadeiros nas conversas sobre a sexualidade.
Que conheçam os amigos dos filhos.
Que saibam com quem e aonde vão.
Enfrentar a realidade do mundo
Os nossos filhos vivem em três mundos distintos: o mundo que os pais lhes descobrem, o mundo dos seus próprios sentimentos e desejos e o mundo do ambiente que os rodeia. A sociedade propõe-lhes como um direito humano viver ao máximo a própria sexualidade, apelidando de problemáticos os adolescentes que ainda não tenham tido relações sexuais. Assim, lojas e máquinas de venda automática apresentam-lhes preservativos de todas as cores e para todos os gostos, tal como se fossem caramelos. Neste ambiente é compreensível que os jovens estejam desorientados: o que lhes contam os seus pais não só é contrário aos seus desejos e sentimentos, mas também se contradiz com o que vêem e ouvem diariamente. Nós pais devemos falar com eles e fazer-lhes ver a realidade: o homem excita-se com facilidade e reage a estímulos mais viscerais, senda a implicação psíquica menos profunda que na mulher e deixando menos marcas na actividade sexual.

A educação pela espera equivale à educação da paciência e da fortaleza
A mulher quase sempre sai a perder, não só porque é mais idealista e a sua entrega é mais profunda, mas também porque é ela a que sofre as consequências de uma possível gravidez. Este facto deve ser compreendido pelos adolescentes, se verdadeiramente queremos que aprendam a respeitar a mulher e a si próprios. Frequentemente a informação que recebem a respeito deste tema dirige-se exclusivamente a evitar a gravidez. É recomendado o uso do preservativo; mas a sua segurança é relativa, dada a possibilidade de ruptura. Devemos ser nós os que lhes expliquemos que com o preservativo existe uma taxa de gravidezes de aproximadamente 15%, mas que nas mãos dos adolescentes poderá chegar aos 50%, pois requer habilidade, maturidade, autodisciplina, planificação e motivação. Os adolescentes - imaturos, impulsivos e arriscados – não parecem bons candidatos para praticar estas qualidades.

Porquê esperar?
Esta é uma das perguntas que tantos filhos costumam formular aos seus pais: Porquê esperar por estarmos casados se já nos amamos? Para começar, porque saber esperar é muito formativo: devem aprender a dominar-se, a conter-se, e há que explicar-lhes as razões pelas que merece a pena fazer este esforço. Se os pais não perdem a calma e se mantêm firmes, isso fará muito bem aos filhos. A educação pela espera equivale à educação da paciência e da fortaleza: esperar uns minutos que a mãe acabe de falar com uma amiga, esperar uns dias que se lhes compre umas sapatilhas de desporto que tanto desejam, esperar umas semanas ou meses para fazer uma viagem que lhes havia sido prometida, esperar uns anos para ter a idade apropriada para dispor de uma moto e finalmente, esperar durante o noivado e não ter relações sexuais até chegar ao casamento. E além disso, explicar-lhe que o acto sexual é expressão corporal do amor. A capacidade de amar é o que de maior e mais íntimo tem a pessoa humana. No amor sexual a intervenção do corpo dá um carácter irreversível à relação, porque ele se entrega de todo. Entregar o corpo sem se ter comprometido para sempre é o mesmo que prostituir-se. Para viver a sexualidade em plenitude, é preciso maturidade física e psíquica, compromisso, fidelidade e aceitação total do outro com uma entrega unida à transmissão da vida. Tudo isto não acontece nas uniões superficiais e sem nenhum compromisso.

PARA PENSAR…

- Não dá bom resultado convidar o adolescente para um passeio programado para “falar”. Quase sempre resistem a este tipo de informação sexual, por lhes ser violento.
- Procurar ser diplomatas e aproveitar situações espontâneas, como por exemplo, uma notícia da televisão ou uma cena de um filme, para tentar provocar uma conversa nesse sentido.
- Falar sempre com naturalidade de “relações sexuais” e não de maneira envergonhada de “fazer isso” ou de forma enjoativa de “fazer uso do matrimónio”. Utilizar nomes pouco comuns apenas provocará mau estar no filho que ouve.
-Para educar a afectividade e sexualidade também é necessário estar próximo deles, conhecer os seus amigos, controlar horários e hábitos. A felicidade dos filhos dependerá em grande medida de como aprendam a desenvolverem-se num ambiente mais permissivo e difícil.
Algo que os filhos devem compreender é que não faz falta a aprendizagem “técnica” das relações sexuais; sabem-no fazer até os animais, não é uma arte. A capacidade de realizar actos biológicos vai-se desenvolvendo espontaneamente: ninguém necessita aprender a respirar, a olhar, comer, andar, etc., porque são actos instintivos.

E ACTUAR
Adiantar-se nestes temas não só evita a desconcertação nos filhos, mas também os enche de segurança para enfrentar a nova etapa. Nestes temas sempre fala melhor o pai, ainda que, se o rapaz faz perguntas à mãe, ela também deve responder com clareza.

In HACER FAMILIA, Junho 2009, págs. 28 a 31.
Traduzido por Rui Amandi (Montemuro)

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