terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
É notório um prolongamento da idade
juvenil, que hoje se mostra de maneira precoce porque fortemente estimulada e,
simultaneamente, dilata-se exageradamente dado que a saída do meio parental
ocorre após a estabilidade afetiva e profissional, esta última perturbada pelo
desemprego crescente.
A instabilidade, que atinge diversas
dimensões essenciais da vida, da economia até à atividade profissional, da
vertente educativa à política, faz dos jovens, neste tempo "líquido",
a parte mais fraca e vulnerável da sociedade.
Os jovens são caixa de ressonância da crise da sociedade, com
conotações culturais diversificadas em função das condições, contextos e
formações.
O amadurecimento social não constitui uma aspiração
determinante dos jovens. Eles vivem um
"presentismo" sem futuro, onde a experiência tem valor em si
mesma, passando-se de uma a outra sem finalidade e sem distinguir os limites
entre objetivo e subjetivo, fazendo da experiência pessoal uma coisa pública,
criando relações globais que confluem numa "ciberidentidade". com a
possibilidade de aceder a outras visões do mundo e de produzir reflexões que
vão para além de si próprio e dos seus horizontes.
A tecnologia é um traço central da
identidade jovem, é uma força que dá centralidade à sua vida. O labirinto das
redes oferece espaço para novas procuras. Apoderam-se do saber sem olhar para a
autoridade. Os jovens tomam posição sem medo perante as informações, rompem os
sistemas hierárquicos, escolhem os temas e problemas mais significativos
segundo a própria subjetividade, guardam distância das lógicas das instituições
e dos partidos.
A experiência da construção de si
próprio assume contornos novos: as novas gerações tornam-se filhas de si
próprias, distanciando-se dos adultos, desde que elas se tornem companheiros de
uma vida partilhada e não obstáculos de autoridade de um processo de afirmação.
A afirmação da identidade no corpo é vivida muitas vezes
com forte tensão. O modo de vestir, o look,
as tatuagens ou os piercings fazem parte da construção da própria
personalidade, afirmações do domínio sobre o corpo. O modo como se apresentam é
uma linguagem, um distintivo. A relação com o corpo é um meio para marcar a
individualidade, expressão de autoestima.
O desconforto de ser si próprio, as
dúvidas sobre a própria identidade vivem-se e resolvem-se no grupo que oferece
modelos e suporte. O olhar de quem está próximo é essencial para a autoestima.
As culturas juvenis são uma visão
que nos ajudam a decifrar a vida em perspetiva do futuro. As tecnologias
intervém na experiência das pessoas e permitem a ampliação das potencialidades
humanas. O ambiente digital faz parte do quotidiano, é uma extensão do espaço
real da vida do nativo digital. Procuro, encontro, desfruto quando preciso.
Implica seleção, possibilidade de comentário e interação. Os jovens estão mais
prontos para a interação do que para a interiorização. Mas estas duas dimensões
devem ser conjugadas.
A dificuldade no desenvolvimento harmonioso das capacidades
de relacionamento consigo próprio e com os outros, de gerir e interpretar as
próprias emoções conduz à insatisfação e, por vezes, à depressão.
A ausência de uma conceção
integrada do amor e a facilidade de paixões fortes, unida a uma vida sexual
intensa constituem um desafio às comunidades educativas, a começar pela base
familiar, tantas vezes inexistente.
O equilíbrio emotivo entre
autonomia e dependência, entre escolha da felicidade e realidade sem saída,
gera ansiedade e angústia. Esta cultura possui uma linguagem que é preciso
entrar e que se exprime num género de música, de arte, com uma gramática
própria.
Carlos Azevedo
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