As raparigas resistem mais às tentações
Projeto europeu lançou um manual que aborda a autorregulação de crianças, adolescentes e jovens quanto às tentações do meio envolvente. Os mais novos e os que vivem em zonas rurais são mais controlados. A monitorizarão parental faz diferença. |
É fácil tropeçar em várias tentações no dia a dia. O difícil é resistir, dizer que não e fazer escolhas alternativas saudáveis. O projeto europeu Tempest - Temptations to Eat Moderated by Personal and Environmental Self-regulatory Tools debruçou-se sobre várias matérias, sobretudo na capacidade de autorregulação de crianças, adolescentes e jovens. A ideia foi tentar perceber até que ponto essa capacidade de autorregulação é crucial para aprender a lidar com tentações relacionadas, por exemplo, com a alimentação e a inatividade física, e também com a dependência de tabaco, álcool, jogos e videojogos. O projeto decorreu entre 2009 e 2013 em nove países europeus - Portugal, Holanda, Polónia, Roménia, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Bélgica e Grã-Bretanha. E investigou-se em que medida a melhoria da capacidade de auto-regulação permite aos mais novos lidar com as tentações não saudáveis do meio que as rodeia. A 31 de janeiro, foi lançado o manual Tempest em Lisboa. Margarida Gaspar de Matos, da Universidade Técnica de Lisboa e Centro da Malária e Doenças Tropicais, que coordenou o projeto no nosso país, adianta que o próximo passo é estender os conceitos trabalhados - de autorregulação, de consumo exigente e informado, de coesão social para adoção de alternativas saudáveis - às crianças e jovens de todo o país. Nesse sentido, está a ser estudada uma parceria com a Secretaria de Estado do Desporto e da Juventude para que sejam realizados workshopsde formação a nível nacional em várias áreas, não só na alimentação e sedentarismo, mas também ao nível de outros comportamentos de saúde como consumo de substâncias, violência, risco sexual. O Tempest analisou realidades e verificou que as crianças mais novas resistem mais às tentações, nomeadamente no domínio da alimentação, do que os adolescentes e jovens. O papel da monitorização parental nas escolhas ajuda a explicar este cenário. Na adolescência, a autonomia social é maior e a acessibilidade a produtos, a influência dos amigos, a diminuição da influência da família e ainda a ativação hormonal própria dessa etapa do crescimento condicionam a autorregulação. Um dos grandes desafios passa precisamente por, na puberdade, transferir para o jovem uma automonitorização e autorregulação que anteriormente estava nas mãos dos pais. Há alguns problemas nesse caminho e que estão identificados: cérebro em maturação, turbulência hormonal própria da idade, maior circulação por contextos sociais mais vastos, menor supervisão parental, mais contatos com os amigos. Torna-se assim complicado resistir às tentações, sobretudo na presença dos colegas. Além disso, nessas idades, dá-se pouca atenção a punições e aos riscos associados a certos comportamentos considerados de risco. As crianças e adolescentes do sexo feminino apresentam uma capacidade de autorregulação superior. Resistem mais a atitudes menos saudáveis do que os rapazes que, por seu turno, demonstram uma melhor perceção da qualidade de vida. Outro dos grandes desafios passa exatamente por isso, ou seja, por resistir às tentações sem preocupações excessivas e sem perder a perceção da qualidade de vida. Por outro lado, as crianças que vivem em meios rurais apresentam uma capacidade de autorregulação superior, nomeadamente no domínio da alimentação. A menor oferta de tentações alimentares nos meios em que circulam, um maior contacto com alimentos naturais e saudáveis, um menor poder económico associado a essas regiões do país, sustentam esta realidade. Dizer não às tentações constantes, diárias, e adquirir e manter um estilo de vida saudável são tarefas difíceis e um teste às competências de autorregulação. Segundo o Tempest, nas crianças, estas competências estão ligadas à possibilidade de alternância rápida entre tarefas, de foco da atenção ou do controlo emocional. Nos adolescentes e jovens, a autorregulação remete para a capacidade de manter um equilíbrio interno e a longo prazo, de automonitorizar atividades, de manter a motivação e a resiliência no confronto com experiências negativas e em situações de insucesso. Pode ser difícil, mas não é impossível. Há algumas estratégias que podem ajudar crianças, adolescentes e jovens a melhorarem as suas competências de autorregulação e a resistir às tentações, mantendo um estilo de vida saudável. Criar e enraizar hábitos saudáveis a nível pessoal, familiar e entre amigos; evitar contextos propícios a tentações; manter as escolhas saudáveis; tentar distrair-se com outras atividades; planear ações definindo e fixando objetivos pessoais e desenvolvendo planos pessoais para os concretizar. Há também algumas dicas para resistir às tentações alimentares. Comer sentado à mesa e em grupo, tomar o pequeno-almoço em família, são alguns dos hábitos recomendados. O projeto europeu destaca igualmente a importância da regulação da exposição de anúncios publicitários e do preço dos alimentos saudáveis. Acima de tudo, o Tempest quer "educar consumidores exigentes, capazes de identificar riscos, geri-los, confrontá-los e fazer escolhas alternativas saudáveis". Daqui. |
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