segunda-feira, 14 de maio de 2012

Homenagem ao Padre Arsénio


FOTO do Padre Arsénio com alguns dos colaboradores da Plataforma "Algarve pela Vida" na nossa rubrica da Rádio Costa D'Oiro

O padre Arsénio faleceu.

Cerca de 4 meses depois da ida para o Céu do Padre Júlio Tropa, o Algarve perde mais um grande sacerdote que deixa obra feita.

Lembro-me do padre Arsénio quando há cerca de 30 anos chegou a Portimão com a incumbência de fundar uma segunda paróquia para a cidade de Portimão.

E ele como bom Jesuíta que era, fê-lo com autêntico espírito de missão.

Lembro-me a este propósito do início do filme “A Missão” em que um Jesuíta sobre uma enorme escarpa rochosa para ir ao encontro da evangelização das tribos da Amazónia.

O padre Arsénio chegou a Portimão com uma mão à frente e outra atrás.

Começou por chocar algumas pessoas ao aceitar misturar-se com os pescadores no caís a carregar caixas de peixe para poder suprir ao seu sustento.

Alguns chamavam-no “o cigano” pela tez mais escura da sua pele. Mas ele não se importava e lançou-se à vida e à evangelização com uma força e uma dinâmica que ninguém o fazia parar.

Lembro-me das primeiras Missas, num armazém junto ao bairro dos pescadores. Lembro-me do fervor das suas homilias e da rapidez com que fugia no final da Missa para a porta da rua para poder cumprimentar, um a um, todas os presentes.

Lembro-me da forma como atraía os jovens e se misturava com eles, criando grupos activos e muito unidos.

Ninguém o parava e, assim, foi criando obra atrás de obra. Cada vez mais e cada vez maiores.

A Igreja de N. Sra do Amparo, o Centro Paroquial, a rádio Costa D’Oiro.

Foi ele que enterrou a minha avó materna com palavras muito gentis, apesar da pouca simpatia do meu avô pelo “cigano”.

Tinha uma predilecção pelos jovens e movimentava-se no meio deles como se fosse mais um, rapidamente ganhava a sua confiança e amizade.

Depois reencontrei-o novamente a propósito do referendo sobre a legalização do aborto. Fiquei espantado por o ver como mero jornalista no dia do lançamento do “Grupo Cívico Algarve pela Vida” e eu e outras pessoas criticaram-no porque, em plena campanha, dava voz a pessoas do sim ao aborto e a pessoas do não, em vez de tomar partido contra o aborto. De facto, ele tomou partido contra o aborto mas entendia que a rádio, apesar de pertencer à Diocese, deveria respeitar a liberdade de opinião e de expressão e que tinha de ouvir sempre a parte contrária ainda que tomasse partido por um dos lados.

Depois do referendo e da campanha quando muitos que fizeram campanha com o “Algarve pela Vida” pelo “não” parece que se esqueceram do tema da defesa da vida ele convidou-me 1º para uma entrevista e depois para um programa de rádio que, desde há quase 3 anos, está no ar, todos os dias da semana.

Quando lhe perguntei se tinha alguma coisa a dizer sobre o conteúdo da nossa rubrica dizia “deixo-vos um cheque em branco”.

Em Fevereiro de 2011, convidámos o Padre Arsénio paraagradecer a rúbrica diária que nos ofereceu na rádio “Costa D’Oiro” e ele láapareceu, com o seu colarinho, sinal da sua doença. Mostrou-nos as instalações do Centro Social , cheio de entusiasmo e ideias para o futuro, parecia uma criança “aqui faz-se isto, mas ainda se vai fazer aquilo”. A sua cabeça estava cheia de projectos e iniciativas.

Nesse dia contou-nos que há uns tempos atrás num encontro de jovens, perguntou o que é que eles achavam ser mais importante e que um deles respondeu “defender a vida” e que ele tinha ficado impressionado com essa resposta e nós também.

Entre o padre Arsénio, falecido hoje e o padre Tropa, falecido em Janeiro passado há um denominador comum:

Estavam na vida e no meio da vida mas com os olhos no Céu para onde, com muita alegria certamente, terão ido e sido recebidos em grande festa.

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