FOTO do Padre Arsénio com alguns dos colaboradores da Plataforma "Algarve pela Vida" na nossa rubrica da Rádio Costa D'Oiro
O padre Arsénio faleceu.
Cerca de 4 meses depois da ida para o Céu do Padre Júlio
Tropa, o Algarve perde mais um grande sacerdote que deixa obra feita.
Lembro-me do padre Arsénio quando há cerca de 30 anos chegou
a Portimão com a incumbência de fundar uma segunda paróquia para a cidade de
Portimão.
E ele como bom Jesuíta que era, fê-lo com autêntico espírito
de missão.
Lembro-me a este propósito do início do filme “A Missão” em
que um Jesuíta sobre uma enorme escarpa rochosa para ir ao encontro da
evangelização das tribos da Amazónia.
O padre Arsénio chegou a Portimão com uma mão à frente e
outra atrás.
Começou por chocar algumas pessoas ao aceitar misturar-se
com os pescadores no caís a carregar caixas de peixe para poder suprir ao seu
sustento.
Alguns chamavam-no “o cigano” pela tez mais escura da sua
pele. Mas ele não se importava e lançou-se à vida e à evangelização com uma
força e uma dinâmica que ninguém o fazia parar.
Lembro-me das primeiras Missas, num armazém junto ao bairro
dos pescadores. Lembro-me do fervor das suas homilias e da rapidez com que
fugia no final da Missa para a porta da rua para poder cumprimentar, um a um,
todas os presentes.
Lembro-me da forma como atraía os jovens e se misturava com
eles, criando grupos activos e muito unidos.
Ninguém o parava e, assim, foi criando obra atrás de obra. Cada
vez mais e cada vez maiores.
A Igreja de N. Sra do Amparo, o Centro Paroquial, a rádio
Costa D’Oiro.
Foi ele que enterrou a minha avó materna com palavras muito
gentis, apesar da pouca simpatia do meu avô pelo “cigano”.
Tinha uma predilecção pelos jovens e movimentava-se no meio
deles como se fosse mais um, rapidamente ganhava a sua confiança e amizade.
Depois reencontrei-o novamente a propósito do referendo
sobre a legalização do aborto. Fiquei espantado por o ver como mero jornalista
no dia do lançamento do “Grupo Cívico Algarve pela Vida” e eu e outras pessoas
criticaram-no porque, em plena campanha, dava voz a pessoas do sim ao aborto e
a pessoas do não, em vez de tomar partido contra o aborto. De facto, ele tomou
partido contra o aborto mas entendia que a rádio, apesar de pertencer à
Diocese, deveria respeitar a liberdade de opinião e de expressão e que tinha de
ouvir sempre a parte contrária ainda que tomasse partido por um dos lados.
Depois do referendo e da campanha quando muitos que fizeram
campanha com o “Algarve pela Vida” pelo “não” parece que se esqueceram do tema
da defesa da vida ele convidou-me 1º para uma entrevista e depois para um
programa de rádio que, desde há quase 3 anos, está no ar, todos os dias da
semana.
Quando lhe perguntei se tinha alguma coisa a dizer sobre o
conteúdo da nossa rubrica dizia “deixo-vos um cheque em branco”.
Nesse dia contou-nos que há uns tempos atrás num encontro de
jovens, perguntou o que é que eles achavam ser mais importante e que um deles
respondeu “defender a vida” e que ele tinha ficado impressionado com essa
resposta e nós também.
Entre o padre Arsénio, falecido hoje e o padre Tropa,
falecido em Janeiro passado há um denominador comum:
Estavam na vida e no meio da vida mas com os olhos no Céu
para onde, com muita alegria certamente, terão ido e sido recebidos em grande
festa.
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