Sabíamos que o português médio vê 25 horas de TV por semana. Isto é, em sete
dias, um dia e uma noite de olhos na TV. Se esse português viver 70 anos, 10
(dez!) anos, dia e noite, vê TV. A TV mostra-lhe tudo: primaveras árabes,
champôs, golos de trivela, tratados de paz, querida júlia e popotas. A
imaginação corre o mundo; o corpo fica sentado.
As estatísticas dizem agora que está também uma hora por dia online. Enfim, o
português médio quase é super-homem ou supermulher para aguentar tanto.
Os inventores prometem para breve surpreendentes simulações
digitais de cheiros e de outras sensações. O melhor é habituar-se, porque a
técnica gosta de cumprir promessas. Estaremos envolvidos na “realidade” virtual
com a mesma envolvência da “realidade real”.
O Ricardo Araújo Pereira fez o retrato numa rábula antiga. O pai apanha o
filho – uma joia de moço – a espetar-se com uma seringa num braço e diz: “come
antes uma peça de fruta que te faz melhor, rapaz...”. E ele: “’tá bem, mas agora
não, que estou a conversar com este gafanhoto gigante chamado José
António”...
Boa observação. Se me sinto bem entre gafanhotos gigantes virtuais, porquê
preferir a pera-rocha real? Porque é melhor a “realidade” que o
“imaginário”?
O mundo “imaginário” são os infinitos pequenos mundos subjetivos. É um mundo
criado pelo homem, espelho das suas limitações. O mundo real são as coisas
comuns dadas a todos. É uma prenda do criador. Como as outras prendas, fala
sobre quem dá e quem recebe. É um mundo criado por Deus, espelho do seu amor
louco pelos homens.
Pedro Gil
"É o Carteiro"
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