Textos Rádio Costa D'Oiro de 31 de Maio a 13 de Junho
Dia 31/05 –
Ouvi aí umas duzentas vezes o poeta Tonino Guerra citar o verso de um monge medieval: «É preciso ir além da banal perfeição». É isso mesmo: a perfeição pode ainda ser um caminho que trilhamos pela superfície ou constituir uma ilusão que nos impede de aceder ao verdadeiro e paradoxal estado da vida. Levamos tanto tempo até perder a mania das coisas perfeitas, até nos curarmos do impulso que nos exila no aparente conforto das idealizações, ou finalmente vencermos o vício de sobrepor à realidade um cortejo de falsas imagens!
O amor perfeito, o casamento perfeito, os pais ou os filhos perfeitos não existem.
Lembro-me de um filme de Nanni Moretti, acho que é “O quarto do filho”, em que uma personagem, estando a viver um duro luto, se coloca a arrumar no armário as chávenas de chá. Percebe então que uma tem um lado partido. Tenta disfarçar o facto, colocando visível apenas o lado intacto. Mas ela sabe que àquela chávena falta alguma coisa. Aquela chávena é o símbolo da sua vida, da nossa vida, que ela e nós temos de aceitar e redescobrir continuamente.
Dia 1/06 –
Há aquele mote de Samuel Beckett que, se o soubermos ouvir, derrama sobre os nossos embaraços grande luz.
Diz assim: «Errar, errar de novo, errar melhor».
O que é errar melhor? É saber que, no fundo, erramos sempre. Isto é: a perfeição encontrámo-la nos catálogos, mas não nos nossos gestos ou em nós próprios. Durante anos tive um cartaz com esta frase: «errando também se inventa».
A imperfeição, é uma história ainda em aberto, que conta ativamente connosco. Na imperfeição é sempre possível começar e recomeçar. A imperfeição humaniza-nos.
O mais sensato é mesmo adotar a humilde sabedoria de quem procura conscientemente o melhor, mas sabe que o seu melhor ficará ainda aquém. O que podemos aprender é, pois, a semear, num trabalho de confiança, de desprendimento e simplicidade cada vez maiores.
Estes textos são da autoria do poeta José Tolentino Mendonça
Dia 2/06 –
O frémito de terror de que exista um novo referendo sobre o aborto veio mais uma vez demonstrar como para alguns a tolerância implica sempre a exclusão de alguém...
As declarações de Passos Coelho no sentido de que nenhuma lei está livre de avaliação e que é uma das implicações da democracia aceitar que se alguém propuser um novo referendo este deve ter lugar foram suficientes para desencadear uma tempestade política que provou que o debate sobre o aborto não morreu e está bem vivo na sociedade portuguesa.
O que só espanta quem ainda não se deu conta que em 2007, conjungando as percentagens de abstenção com a votação do Sim, apenas 1/4 dos eleitores concordaram com a actual lei que liberalizou o aborto.
Por isso sem surpresa que numa recente votação telefónica, durante o programa Opinião Pública da SIC Noticias a realização de um novo referendo foi apoiada por 60% dos participantes...
Dia 3/ 06 –-
A pontualidade é uma forma de mostrar respeito e consideração com o próximo.
Infelizmente, é um hábito não muito comum entre a maioria das pessoas.
A pontualidade é uma virtude de pessoas civilizadas. Ser pontual não é se precipitar, chegando com muito tempo de antecedência no compromisso ou local combinado.
Ser pontual é chegar, pelo menos, 15 minutos antes do horário estabelecido.
A pontualidade pode ser obtida com controle, auto-disciplina e algumas precauções contra possíveis incidentes com transporte, trânsito, mau tempo etc. É ideal sair de casa sempre com algum tempo de antecedência para, assim, evitar imprevistos.
Por sua vez, ser pontual não é só chegar dentro do horário previsto, é também realizar as tarefas com sucesso.
A impontualidade na vida afetiva cansa, desgasta, chateia, aborrece, magoa e pode distanciar as pessoas.
A produtividade e o sucesso começam com uma boa pontualidade.
Dia 6/ 06 –-
Para as mulheres que tenham uma vida sexualmente activa, a questão do planeamento familiar tem de ser naturalmente considerada.
Por sua vez, o homem não pode assobiar para o lado e encolher os ombros. A prevenção de uma gravidez indesejada diz respeito ao casal e não responsabiliza só a mulher.
Por sua vez, a ocorrência de abortos repetidos na mesma mulher só demonstra que há descuido quer do casal, quer das entidades médicas.
O Centro de Saúde, o médico de família e o hospital distrital são entidades que podem e devem apoiar as mulheres, indicando-lhe e disponibilizando o método de planeamento familiar que melhor se adapta às características de cada uma.
Como diz o ditado “é melhor prevenir, do que remediar”. No século XXI, já não há justificação para os milhares de abortos que diariamente são praticados pelo mundo fora.
Dia 7/06
O verdadeiro amor (entre um homem e uma mulher que se comprometem numa relação para sempre ou entre os pais e os filhos ) dói.
Ele dói sempre.
Amar uma pessoa custa mesmo; é doloroso abandoná-la e deseja-se morrer por ela.
Quando as pessoas se casam, têm de deixar muitas coisas de lado, para se poderem amar.
A mãe que dá a vida a uma criança sofre muito"
Estas são palavras de Madre Teresa de Calcutá
Quer se queria, quer não, o amor verdadeiro assente no sacríficio e na dádiva e aquele que dá acaba sempre por receber de volta o que entregou
Dia 8/06 –
Quando nos debruçamos a pensar sobre a educação dos nossos filhos, pensamos claro está nas virtudes humanas, fala-se tanto na crise económica, mas arrisco-me a dizer que vivemos neste momento uma grande crise de valores, esses valores humanos que nos permitem a todos vivermos mais felizes como pessoas e socialmente mais completos.
Valores como a humildade, a generosidade, a obediência, a amizade, a audácia, a justiça, a paciência e a sinceridade entre tantos outros, são de extrema importância na educação das crianças, na formação do seu caráter.
Se nos focarmos nas crianças mais pequenas, podemos centrar-nos, desde logo, na importância do valor da obediência.
Ser obediente pode ser analisado não só no trabalho ou em contextos específicos de chefia, mas também no próprio lar, quando os pais pedem coisas um ao outro por exemplo. Como gerimos estes pedidos que nos fazem? Como os sentimos e que expressão fazemos quando os recebemos? Como lidamos com a autoridade?
Não esqueçamos que os exemplos começam em casa
Dia 9/06 –
Num estudo agora publicado em livro, dois investigadores norte-americanos argumentam que a visão tradicional que temos do carácter – ilustrada comummente pelo anjinho e diabinho alojados nos nossos ombros e cuja “voz” de um ou de outro escolhemos ouvir – está plenamente errada.
Em termos neuronais e para estes dois investigadores, o carácter é um produto em flutuação constante devido a impulsos beligerantes no cérebro, sendo que uma das “facções” se concentra em recompensas de curto prazo e a outra nas de longo curso.
Ou seja, em termos muitos gerais, esta guerra não tem necessariamente a ver com os conceitos de bem e de mal, mas sim com a situação ou com o momento particular em causa.
Por isso, diz um dos investigadores “não basta dizer a alguém que deve ser bom, que não deve roubar e assumir que essa pessoa seja capaz de fazer o bem apenas confiando na sua força de vontade.
Para o investigador, a educação moral tem de ter como base um conjunto de competências, e os pais deverão dizer aos seus filhos “não só qual é o objectivo, mas também como lá chegar, ou seja, que ‘partidas’ poderão as suas mentes lhes pregar e que estratégias devem estes utilizar para ‘convencer’ o seu carácter a mover-se na direcção adequada
Dia 10/06 –-
A rede social Facebook lançou uma ferramenta para auxiliar os professores a entenderem e a explorarem as potencialidades da rede social dentro das salas de aula. Esta nova ferramenta está disponível online e foi criada por três especialistas na área.
Os responsáveis acreditam que uma das ferramentas mais poderosas do ensino é a promoção do entusiasmo, impulsionando a uma aprendizagem activa. Neste sentido, os professores podem manter a sua privacidade e interagir profissionalmente com os alunos, utilizando recursos de grupos e páginas, sem a necessidade de se tornarem amigos.
Este guia está apenas disponível em inglês; no entanto, a rede social prevê disponibilizá-lo noutros idiomas.
Para mais informações consulte facebook for educators.org
Dia 13/06 –
Faz cada vez mais falta promover a alfabetização mediática dos cidadãos. E faz falta para que não comam e calem o lixo televisivo, as meias verdades do jornalismo, as pseudo-notícias repetidas até à náusea, o parti-pris apresentado sob a capa do rigor e o silenciamento do que incomoda ou que dá trabalho averiguar.
A alfabetização mediática tem sido definida, nomeadamente pela União Europeia, como “a capacidade de procurar, compreender, avaliar com sentido crítico e criar conteúdos nos meios de comunicação”. É uma definição insuficiente, por sobrevalorizar os conteúdos, em detrimento dos contextos, recursos, valores e referenciais éticos. Mas constitui um ponto de partida importante, que urge trazer para os lugares cimeiros das preocupações educativas e culturais, em tempo de fortíssima mediatização.
Este texto é da autoria do professor da Universidade do Minho Manuel Pinto.
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