Nos
últimos tempos, têm surgido alguns filmes sobre adolescentes heróis e
determinados que procuram ser um pouco o contraste daquilo que muitos
adolescentes são na realidade. Estou-me a lembrar da série “Twilight”
ou dos “Jogos da Fome”, todos com sequelas ou ainda do recente “The
Giver”.
Há poucos meses atrás
foi lançado mais um filme deste género, baseado nos livros de Veronica Roth – “Divergente”.
A história deste filme fala-nos de um futuro onde as pessoas são, desde a
adolescência, divididas em grupos de acordo com as suas características. Porém,
existem pessoas que têm um pouco de cada um desses grupos, os chamados
“divergentes” que põem em causa a harmonia do sistema e devem, por isso, ser
eliminados.
Esta história faz-nos
lembrar as várias personalidades de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos e do
facto de, todos nós, em momentos diferentes da nossa vida (às vezes, até do
próprio dia), assumirmos, por vezes, personalidades e modos de comportamento
diferentes ou até antagónicos.
O filme “Divergente”
foi um sucesso de bilheteira, mas uma das criticas que lhe fizeram foi o facto
do realizador ter investido um tempo excessivo na parte da preparação da
heroína Tris dentro do grupo dos “Intrépidos” (defensores da cidade) em que se
integrou. É que, após uma introdução acerca do contexto do filme, a maior parte
do tempo é gasto a mostrar os treinos, exercícios e testes a que a heroína e
outros iniciados desse grupo se sujeitam, sendo que a acção do filme acaba por
se dar apenas nos últimos 15/20 minutos.
Achei interessante que o
realizador tivesse colocado o assento tónico da questão da preparação e da
formação da heroína, dentro de um grupo onde se cultiva a virtude da “audácia”
numa dupla vertente, a física e a mental. Na física, pretende-se que o corpo
esteja preparado para lidar com condições difíceis, onde o músculo, a perícia e
a destreza sejam apuradas. Na mental, pretende-se sobretudo lidar com os
próprios medos e superá-los com mestria e coragem. Em ambas é o esforço, a
força de vontade e o sacrifício que fazem com que Tris prossiga e não seja
eliminada, apesar das suas limitações iniciais. A acção (violenta e alucinante)
só vem depois desta prepração.
A questão da preparação,
do treino e da educação é muito importante, não só a preparação física e
teórica, mas sobretudo a formação mental. Parece que poucas pessoas se
aperceberam ainda que a vida é um enorme campo de batalha onde, progressivamente,
somos confrontados com desafios ao nível pessoal, familiar, económico, social e
profissional. Quem não está preparado será facilmente trucidado e andará aos
caídos, sem rumo e sem competências pessoais e sociais que lhes permitam
singrar na vida. Outros há, poucos, que mesmo sem preparação conseguem vencer
ou sobreviver. Uma educação permissiva, frouxa e flácida dá-nos uma juventude
mole, sem resiliência e um país sem futuro.
Por tudo isto (e este
filme recorda-nos isso), é muito importante apostar na educação integral dos
mais novos que passe também por sujeitá-los a condições exigentes de auto-controlo,
de confronto com as frustrações exógenas ou endógenas e, sobretudo, de
superação dos próprios medos e fantasmas, mas sempre segundo ideais de
altruísmo e positividade. E este treino tem de se prolongar pela vida fora.
É uma questão de
sobrevivência não só pessoal, mas da própria espécie.
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