domingo, 9 de novembro de 2014

Divergente ou o desafio da educação




            Nos últimos tempos, têm surgido alguns filmes sobre adolescentes heróis e determinados que procuram ser um pouco o contraste daquilo que muitos adolescentes são na realidade. Estou-me a lembrar da série “Twilight” ou dos “Jogos da Fome”, todos com sequelas ou ainda do recente “The Giver”.

Há poucos meses atrás foi lançado mais um filme deste género, baseado nos livros de Veronica Roth – “Divergente”. A história deste filme fala-nos de um futuro onde as pessoas são, desde a adolescência, divididas em grupos de acordo com as suas características. Porém, existem pessoas que têm um pouco de cada um desses grupos, os chamados “divergentes” que põem em causa a harmonia do sistema e devem, por isso, ser eliminados.

Esta história faz-nos lembrar as várias personalidades de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos e do facto de, todos nós, em momentos diferentes da nossa vida (às vezes, até do próprio dia), assumirmos, por vezes, personalidades e modos de comportamento diferentes ou até antagónicos.

O filme “Divergente” foi um sucesso de bilheteira, mas uma das criticas que lhe fizeram foi o facto do realizador ter investido um tempo excessivo na parte da preparação da heroína Tris dentro do grupo dos “Intrépidos” (defensores da cidade) em que se integrou. É que, após uma introdução acerca do contexto do filme, a maior parte do tempo é gasto a mostrar os treinos, exercícios e testes a que a heroína e outros iniciados desse grupo se sujeitam, sendo que a acção do filme acaba por se dar apenas nos últimos 15/20 minutos.

Achei interessante que o realizador tivesse colocado o assento tónico da questão da preparação e da formação da heroína, dentro de um grupo onde se cultiva a virtude da “audácia” numa dupla vertente, a física e a mental. Na física, pretende-se que o corpo esteja preparado para lidar com condições difíceis, onde o músculo, a perícia e a destreza sejam apuradas. Na mental, pretende-se sobretudo lidar com os próprios medos e superá-los com mestria e coragem. Em ambas é o esforço, a força de vontade e o sacrifício que fazem com que Tris prossiga e não seja eliminada, apesar das suas limitações iniciais. A acção (violenta e alucinante) só vem depois desta prepração.

A questão da preparação, do treino e da educação é muito importante, não só a preparação física e teórica, mas sobretudo a formação mental. Parece que poucas pessoas se aperceberam ainda que a vida é um enorme campo de batalha onde, progressivamente, somos confrontados com desafios ao nível pessoal, familiar, económico, social e profissional. Quem não está preparado será facilmente trucidado e andará aos caídos, sem rumo e sem competências pessoais e sociais que lhes permitam singrar na vida. Outros há, poucos, que mesmo sem preparação conseguem vencer ou sobreviver. Uma educação permissiva, frouxa e flácida dá-nos uma juventude mole, sem resiliência e um país sem futuro.

Por tudo isto (e este filme recorda-nos isso), é muito importante apostar na educação integral dos mais novos que passe também por sujeitá-los a condições exigentes de auto-controlo, de confronto com as frustrações exógenas ou endógenas e, sobretudo, de superação dos próprios medos e fantasmas, mas sempre segundo ideais de altruísmo e positividade. E este treino tem de se prolongar pela vida fora.

É uma questão de sobrevivência não só pessoal, mas da própria espécie.

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