domingo, 30 de novembro de 2014

A solidão dos sem família

 
 
"A Bíblia (....) recorda-nos que deveremos deter este isolamento e abrir a solidão a um contacto, a uma comunhão, a um encontro. É sugestivo que as casas do passado tinham as portas abertas para o pátio, onde as pessoas se cruzavam, dialogavam, murmuravam.
Pelo contrário, o emblema dos nossos condomínios anónimos é a porta blindada que separa totalmente do exterior, ao ponto de uma pessoa só poder morrer e durante semanas os vizinhos não darem conta.
O léxico bíblico da família impele-nos, por isso, a impedir o isolamento no medo, por vezes até legítimo, na solidão, na indiferença recíproca. «Ai do solitário que cai», adverte Qohélet/Eclesiastes (4,10), não tem outro para o levantar».
No isolamento subsiste também o risco do egoísmo, como brutalmente clamava o escritor francês André Gide: «Famílias, odeio-vos! Lares herméticos, portas trancadas, ciumenta possessão da felicidade!».
Reencontrar a vocação da família a ser a célula de um corpo mais vasto, um horizonte aberto que acolhe e se expande: é este o espírito de base da verdadeira comunidade familiar".
 
Card. Gianfranco Ravasi 
In "Famiglia Cristiana" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 27.11.2014 SNPCultura

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