Após a recente aprovação da lei do "casamento"entre homossexuais na Argentina, muitos são os valores e elementos culturais que entram em jogo: o conceito de família, os direitos das crianças e o eufemismo ao que recorrem constantemente os que aceitam este tipo de uniões: favorecer as minorias. Sobre este tema, ZENIT entrevistou o advogado argentino Guillermo Cartasso, diretor geral da Fundação Latina de Cultura, presidente do movimento eclesial Fundar, professor e diretor do Departamento de Extensão da Faculdade de Direito da UCA, membro do Departamento de Pastoral Universitária da Conferência Episcopal Argentina. Cartasso foi um dos principais líderes da campanha a favor da família que se realizou na Argentina durante as últimas semanas, na qual foram recolhidas 524 mil assinaturas que solicitavam ao Congresso Argentino a não-aprovação do "casamento" entre homossexuais. Igualmente, cerca de 200 mil cidadãos marcharam na Argentina no último dia 13 de julho, com a mesma petição.
ZENIT: A presidente Cristina Fernandez de Kirchner diz que, "agora somos uma nação mais igualitária que na semana passada". Isso é real ou se trata de um eufemismo falar do casamento como um direito do qual deveriam usufruir as "minorias sexuais"ou LGBT?
Dr. Guillermo Cartasso: A atitude da LGBT não foi a exigência de um direito, mas uma pretensão legislativa. Não há direito se não se compadece com as leis da natureza que são pré-existentes à vontade do ser humano. Aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo é desfigurar a realidade e abalar os filhos.
ZENIT: Por que "abalar os filhos"?
Dr. Guillermo Cartasso: Porque os filhos têm o direito de ser criados na diversidade natural do masculino e do feminino. Em casamentos entre pessoas do mesmo sexo, isso é impossível. Além disso, a lei aprovada obriga a registrar a criança como filhos dos "cônjuges" e isso priva do conhecimento da identidade biológica que toda criança possui. Ignoraram tratados internacionais de Direitos Humanos.
ZENIT: Como se pode prejudicar a sociedade em seu conjunto com a alteração do conceio de família?
Dr. Guillermo Cartasso: O que está em debate são dois paradigmas claros: um diz basicamente que o homem é autossuficiente e que tudo é uma construção cultural. Nós afirmamos, por outro lado, que a vida é um encontro de natureza e cultura. Não se pode desconhecer o "dado" ao homem que é pré-existente à sua vontade. Duas pessoas do mesmo sexo unidas em casamento não são uma família à luz da lei natural e isso afeta toda a sociedade porque vai impondo uma visão construtivista da vida, o que não é real.
ZENIT: Você acha que legalizar esse tipo de uniões é verdadeiramente um símbolo de vanguarda e modernismo?
Dr. Guillermo Cartasso: Estamos em uma época de crise cultural, na qual se perdem as referências objetivas. O progrelaicismo pretende impor um modelo de discurso único, culturalmente totalitário, no qual não se admite a tradição como se ela fosse um mal, quando na verdade é o antecedente que sufoca o orgulho de crer-se o "início" de tudo.
ZENIT: Vários meios de comunicação falaram da Igreja como a principal opositora desse tipo de uniões. O que está em jogo é somente uma questão religiosa?
Dr. Guillermo Cartasso: É uma questão civil, leiga. Obviamente, cada ser humano parte de uma cosmovisão. Mas a catolicidade foi, ao longo da história do nosso continente, construtora de institucionalidade e de civilização. Então, falar contra a Igreja é uma moda imperante, mas passageira, que não derrubará 2 mil anos de bem.
ZENIT: Qual foi o papel dos leigos na Argentina, nesta oposição?
Dr. Guillermo Cartasso: Este foi um trabalho dos cidadãos católicos. É verdade que os bispos opinaram, com legítimo interesse. Mas foram os leigos que levaram adiante este triunfo.
ZENIT: Por que isso é considerado um triunfo?
Dr. Guillermo Cartasso: Porque sem pressão do poder político, e grande e estudado, esta lei não teria saído. Essa é a maioria real no povo e no Congresso.
ZENIT: Que repercussões você acha que esta lei pode trazer para a América Latina?
Dr. Guillermo Cartasso: Nesta época de crise, desaparece o absoluto e impera o relativismo. Quanto mais relativista for a legislação que avança, mais será o desenfoque da nossa sociedade globalizada. O progrelaicismo relativista tentará, por meio de falácias, avançar com políticas desse tipo, que nõ reconhecem as tradições que levantaram nosso continente. Além disso, buscarão fundos do governo democrata dos Estados Unidos e tudo isso constitui uma forma de dependência.
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