quinta-feira, 2 de abril de 2009

Crise da maternidade e razões de esperança


Sob o mote "Porque todos somos filhos", realizou-se nos dias 6 e 7 de Março, o 1º Congresso Português da Maternidade. Organizado pela Federação Portuguesa pela Vida e pelo Museu das Crianças, o congresso contou com a presença de vários especialistas que debateram a maternidade nos diversos campos da sociedade e apontaram caminhos para um papel que nem sempre é valorizado nos dias de hoje.

Assinado por Mariana Correia de Barros Data: 21 Março 2009

O mote foi dado pelo reitor da Universidade Católica, Manuel Braga da Cruz, ao falar do "afastamento dos valores da fertilidade e maternidade do horizonte familiar". Uma tendência igualmente referida por Isilda Pegado, Presidente da Federação Portuguesa pela Vida, ao salientar "a cultura individualista e pouco generosa com a vida" aliada à falta de apoios da sociedade para mães com carreiras profissionais, às falhas no urbanismo, no direito e na educação. Temáticas que foram desenvolvidas durante o congresso.

A maternidade como valor social foi apresentada por Lola Velarde, Presidente do Instituto de Política Familiar - Rede Europeia. A especialista analisou dados demográficos de uma Europa envelhecida: nível de fecundidade cada vez mais baixo, mulheres a terem filhos mais tarde, aumento do número de filhos fora do casamento e uma média de um aborto a cada 27 segundos no continente europeu. "Tudo isto demonstra que se vive uma crise da maternidade", declarou Lola Velarde, para quem outros problemas sociais e culturais contribuem para a crise: "os lobbies que pressionam o governos, uma agenda oculta que pretende controlar a natalidade e uma noção da maternidade como papel substituível". Porém, afirmou, há razões de esperança que residem "nalguns acordos universais que apoiam a família, como a convenção sobre os direitos da criança, e a força da família como instituição eficaz, com valores educativos fortes, e até como ajuda na crise económica".

Marcelo Rebelo de Sousa, professor universitário e comentador na RTP1, salientou que a crise da natalidade pode encontrar-se também na "falta de dinamismo e iniciativa". "Temos necessidade de estratégias de vida, porque a natalidade é indissociável da maternidade e paternidade", disse o professor de Direito da Universidade de Lisboa. "Tudo depende da educação, que começa com os pais ainda antes do nascimento e termina na morte. Os anos decisivos são principalmente os que rodeiam a educação pós-nascimento". Segundo Rebelo de Sousa, assisti-se ainda a uma crise nos "educadores clássicos" - família,Igreja e escola -, que hoje são substituídos pela televisão, internet e novas formas de associação e integração de jovens. "De todos estes, quem continua a ter o melhor papel educativo é a família, com a vocação da maternidade e paternidade, prolongado ao longo da vida". "Valeria a pena fazer um debate global sobre esta questão para que os legisladores optassem por um pacote de medidas coerente", salientou, defendendo o "optimismo" como arma "fundamental".
Maternidade e Economia
A economia também tem relações com a maternidade. Há um precioso "contributo para um crescimento económico, sustentado a prazo, que se centra na mãe", defendeu o economista Fernando Branco. O capital humano, cuja medição é feita em capacidades cognitivas (escolaridade, formação) e capacidades não cognitivas (ética, motivação), são potenciadas durante a infância. Segundo o economista, as soluções passam por "estimular condições para a maternidade de qualidade a longo prazo, dirigir a intervenção para crianças nascidas em meios desfavorecidos e colocar em cima da mesa, prioridades de política pública", já que o investimento nas crianças tem um alto valor económico e social.António Jorge Fontes, arquitecto, apresentou soluções urbanísticas para potenciar o crescimento da família. As cidades do futuro devem albergar comunidades mistas, não devem ser sectorizadas, mas antes um centro de serviços, habitação e trabalho, ao mesmo tempo que integram todas as comunidades sociais. Tendo como pano de fundo a perspectiva da criança, é preciso seguir alguns critérios na escolha de casa. Estar perto de um espaço comunitário ou para brinquedos, jardins, escola, entre outras. O arquitecto falou ainda da forma e dimensão do espaço e da importância da "flexibilidade para se ir agregando às funcionalidades e alargamento da família".
Sobre psicologia e maternidade falou a pedopsiquiatra Susana Farinha. "Dos pais, os filhos esperam uma história, um passado, memórias e tradições. Esperam uma identidade própria, serem reconhecidos como filhos e recolhem conteúdo que mais tarde os ensinam a ser pais. Esperam segurança e que os pais lhes mostrem o mundo real, ensinando-os a construir defesas. Os pais procuram nos filhos a continuidade, como um testemunho e a entrega".
Nas conclusões deste 1º Congresso Nacional da Maternidade António Maria Pinheiro Torres, da Federação Portuguesa pela Vida, realçou a importância de se criarem condições para uma efectiva maternidade e paternidade: o reconhecimento por parte dos poderes públicos da influência que um vínculo estável entre homens e mulheres proporciona à criança e da importância de tudo o que faz parte da experiência humana da maternidade e paternidade.

Mariana Correia de Barros

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