terça-feira, 21 de maio de 2013
Um grande choque cultural entre a geração atual e a de poucas décadas atrás está na forma de se vestir. A minissaia e os biquínis em que se fazem enorme economia de tecido já nem causam espanto. A moda agora, especialmente entre os adolescentes, é vestir-se de tal modo que se exiba propositadamente parte das roupas íntimas.
É inegável que a moda varia muitíssimo ao sabor do tempo, local e contexto histórico. Basta recordar fotografias antigas para notar quão ridículos nos parecem, hoje, nossos parentes e amigos com vestes que eram super fashion décadas atrás. Ou ainda podemos notar os hábitos no vestir das pessoas de alguns Países que ainda não cederam por completo – ao menos nesse aspecto – ao fenômeno da globalização, em especial entre alguns povos africanos e asiáticos, para concluir que a vestimenta tem toda uma conotação cultural.
Apesar de a moda ser um fenômeno eminentemente cultural, quando se nota um erotismo exagerado no modo de se vestir, podemos considerar isso como uma simples tendência, indiferente sob o aspecto ético? Ou esse fato terá reflexos na vida das pessoas enquanto seres humanos dotados de dignidade e que aspiram à plena realização e à felicidade?
Penso que a resposta a tal indagação depende de uma análise, talvez sob um enfoque antropológico, sobre o que é a intimidade para o ser humano.
Certa vez ouvi um palestrante que comparava o ser humano a uma “cebola”. E fazia essa analogia para explicar que temos várias “camadas” até se chegar ao âmago, ao centro. A casca (camada mais externa) é aquela que nos envolve e com a qual nos apresentamos em público. É a única que se faz visível a todos enquanto circulamos pela rua, ou nos apresentamos no local de trabalho e nas relações sociais.
Com os nossos amigos tiramos várias castas, de modo que sabem o que pensamos, o que fazemos e do que gostamos, ainda que não saibam tudo o que se passa no mundo dos nossos pensamentos e desejos. Com os nossos familiares, em especial entre pais e filhos, a intimidade é muito mais conhecida. Vestimo-nos à vontade, não nos preocupamos tanto com o que diremos, como nos portaremos etc. E, por último, chega-se ao maior nível de abertura da intimidade possível: com o nosso cônjuge. A ele (ou a ela) nos abrimos quase que por completo. Essa abertura, ao menos no que no aspecto corporal, tem a sua expressão mais sublime no ato sexual.
Mas mesmo entre os cônjuges a abertura da intimidade não é completa e não abarca em absoluto todo o ser do outro. Ainda se mantém na esfera individual muitos pensamentos e desejos que não queremos revelar. No mais profundo e íntimo da cada mulher e de cada homem – no miolo da cebola, como diria o palestrante – está a nossa consciência. E, nesse sacrário, cada ser humano tem o direito e a necessidade de estar a sós com Deus.
Por natureza, a nossa intimidade necessita ser preservada. Imaginemos como seria se alguém inventasse um aparato que possa ler ou ouvir tudo o que se passa em nosso interior. Estaríamos aniquilados. Necessitamos, pois, de uma proteção a essa intimidade para abri-la a quem quisermos e, principalmente, a quem mereça a nossa confiança.
Nesse sentido, podemos dizer que a moda é, em regra, um fenômeno meramente cultural. Porém, quando se tenta orientá-la numa direção que contraria a natureza do ser humano, escancarando irresponsavelmente a intimidade, então deixa de ser indiferente sob o aspecto ético, pois afronta a dignidade das pessoas, ainda que com o consentimento dessas, muitas vezes imposto por pressão do ambiente.
Fábio Henrique Prado de Toledo
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