A população faminta ronda agora os 963 milhões (equivalente a quase cem vezes a população portuguesa). O suficiente para eliminar dez anos de progressos no combate ao flagelo.
Em 1990 o objectivo era claro: reduzir os números da fome a metade, nos vinte cinco anos seguintes. Durante quinze anos, até 2005, pensámos que seria possível. Aos poucos, embora mais lentamente do que se queria, a meta parecia cada vez mais alcançável. O número de famintos era cada vez menor.
Nos últimos dezoito meses, contudo, o retrocesso foi brutal. O ano passado, em pleno pico dos preços alimentares, 75 milhões (exacto: 75!...) vieram juntar-se ao exército dos sem comida.
Desde Janeiro deste ano, o preço dos alimentos reduziu-se a metade, mas continua tão alto que outros 40 milhões vieram engrossar o imenso exército dos com fome.
A população faminta ronda agora os 963 milhões (equivalente a quase cem vezes a população portuguesa). O suficiente para eliminar dez anos de progressos no combate ao flagelo. Mas há pior. A queda dos preços dos bens alimentares não bastará para inverter a situação. Algumas culturas poderão deixar de ser rentáveis e as produções podem tornar-se ainda mais escassas. A crise que começou entre os ricos da América e da Europa arrastará os mais pobres dos pobres para uma situação ainda pior.Segundo a FAO, um investimento de 30 mil milhões de dólares, nos países mais pobres da Ásia e da África, bastaria para tornar de novo possível o objectivo do milénio. O dobro do que a América se propõe gastar para apoiar apenas os três maiores construtores da indústria automóvel.
Eis o escândalo. Sessenta anos depois da Declaração dos Direitos do Homem, impõe-se dar cumprimento a um: o direito a não ter fome!
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