Em cada dois dias desaparece um idoso
A perda de memória, a falta de orientação e a solidão levam muitos idosos a partir sem deixar rasto. Incapazes de encontrar o caminho de regresso, 180 pessoas com mais de 65 anos foram dadas como desaparecidas só no ano passado.
Em entrevista à Lusa, o director do Departamento Central de Informação Criminal e Polícia Técnica (DCICPT) afirmou que os casos de desaparecimento de idosos correspondem a cerca de dez por cento do total de desaparecidos em Portugal, sendo previsível que venham a aumentar nos próximos anos, em resultado da própria evolução demográfica.
"O que provoca o desaparecimento é, muitas vezes, a mudança do local onde sempre viveram para ir para um lar ou para casa de um familiar, onde se sentem totalmente desenraizados. Como ficam afastados do seu ambiente normal, entram em pânico e criam uma situação patológica de angústia que faz com que comecem a caminhar sem destino", explicou António Ramos Caniço.
Na origem do desaparecimento de idosos a taxa de crime é muito reduzida, tratando-se "na esmagadora maioria das vezes" de casos de desorientação provocados por doenças como Alzheimer ou outras formas de demência que afectam a memória.
Perante a participação de um caso, a Polícia Judiciária, que conta com uma unidade de prevenção para desaparecidos que "funciona 365 dias por ano", inicia o chamado "tracking" da pessoa, uma diligência que passa por determinar a rotina habitual do desaparecido, em termos das suas deslocações normais, para "estabelecer um perímetro onde possa estar".
"Normalmente, nas pessoas com mais de 65 anos, sobretudo se tiverem problemas de saúde devidamente diagnosticados, fazemos a divulgação para todas as autoridades e inclusivamente para o público, se necessário for, da fotografia da pessoa e dos seus dados para dar à investigação a maior rapidez possível", adiantou o responsável.
Apesar de ressalvar que "não é possível fazer médias estatísticas", Ramos Caniço assegurou que, habitualmente, os idosos são encontrados em cerca de 48 horas, sendo que dos 180 casos registados em 2006 só oito não foram ainda concluídos, permanecendo incerto o paradeiro das pessoas.
"Se não os encontramos nos primeiros dias, as coisas complicam-se muito e não augura nada de bom. Quando passa algum tempo, tenho sempre receio de vir a encontrar o corpo já sem vida, sobretudo no caso de desaparecimento de idosos", confidenciou.
Para evitar desfechos trágicos, o director do DCICPT deixa um pedido a toda a população: "quando virem na rua um idoso com sinais de desorientação, chamem imediatamente a polícia ou os bombeiros".
Aos familiares, Ramos Caniço deixa igualmente uma recomendação, aconselhando uma atenção redobrada nas fases de transição, por exemplo quando o idoso é transferido para um lar.
"Muitos idosos vêm para a rua sem o Bilhete de Identidade, sem qualquer papel com o número de telefone e a morada. As famílias devem fazer com que a pessoa tenha sempre consigo a sua identificação. É uma medida de precaução básica que pode fazer com que a pessoa seja mais fácil e rapidamente encontrada", avisou.
Joana Pereira Bastos, da agência Lusa
(20.08.2004)
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