segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Preocupações inúteis

 
 
Sobra-nos pouco tempo para nos preocuparmos com o que merece a nossa atenção. É essa antecipação que fará diferença.
Andamos quase sempre muito preocupados com pouco. Desperdiçamos demasiado tempo com assuntos pouco importantes. O tempo limitado que temos neste mundo devia inspirar-nos a ser mais sábios na gestão das nossas prioridades, uma vez que nem sempre nos preocupamos com o que devemos. Tendemos a desprezar, muitas vezes, o que é importante. Porque nos parece que temos sempre muitas preocupações e lamentos.
A possibilidade de uma catástrofe é algo que angustia muitos homens. Mas será que esta ansiedade se justifica? A possibilidade da sua ocorrência é algo que nos ultrapassa por completo, pelo que pouco ou nada podemos fazer. Sofremos demais por males que nunca nos chegarão perto…
Também nos pesam as nossas más decisões no passado. Inquietação inútil. Podemos arrepender-nos, comprometendo-nos a um futuro em que o erro seja lição para rumar a melhor. Mas, por isso mesmo, a nossa preocupação deve ser para diante, não para trás.
A possibilidade de doenças e trágicos acidentes, com baixa probabilidade de ocorrência, leva-nos a um desassossego que nos faz descuidar de outros problemas que, não sendo tão sérios, podem realizar-se com maior facilidade. Somos responsáveis por prevenir as grandes tragédias, mas, mais ainda, as pequenas. Dado que a prioridade deve ser dada às que nos estão mais próximas.
Passamos, ainda, muito tempo a carregar o peso das ansiedades a respeito das pessoas que nos são mais chegadas, como se carregar as preocupações deles fosse uma missão nossa! A verdade é que cada uma dessas pessoas (incluindo as crianças!) é dotada de elementar bom senso, algo que lhes permite, a todos e a cada uma, salvaguardar-se de perigos comuns que conhecem. Mais, é bem possível que elas possam até estar melhor preparadas do que julgamos… melhor preparadas que nós! Talvez nos devêssemos preocupar em aprender mais com elas…
Sobra-nos pouco tempo para nos preocuparmos com o que merece a nossa atenção. É essa antecipação que fará diferença.
Não somos assim tão fortes que possamos carregar o gigantesco peso de todas as preocupações do mundo, as dos outros e ainda as nossas...
Quantas maravilhas nos passam ao lado, enquanto andamos perturbados com as tragédias que apenas se passam na nossa imaginação!
É preciso reconquistarmos a nossa paz a um campo que costuma ser ocupado por ansiedades e medos. Sem permitir que, a nossa ignorância sobre as causas do que nos sucede, nos torne reféns e incapazes de pensar em mais nada.
A vida não é para ser explicada ou compreendida. É para ser vivida e… bem vivida. Viver é buscar a felicidade, e isso passa muito por aprender a suportar, aceitar e esquecer.
A nossa cultura ensina-nos a enfrentar tudo. Assim, se algo se colocar entre nós e o nosso sonho, deve ser combatido até à destruição! Dizem-nos até que a nossa coragem, vontade e persistência são invencíveis! E que nós, por isso, também!
Mas há problemas perante os quais nada disto funciona. As adversidades como a morte, a doença grave ou uma tragédia mais séria, não se conseguem anular, faça-se o que se fizer. Aplicar aí a nossa coragem, vontade e persistência no sentido de destruir isso só terá um resultado efetivo: aniquila-nos, porque estaremos a tentar empurrar, não uma pedra pesada, nem sequer uma montanha, mas o próprio peso do mundo... sem termos os pés assentes em nada.
Há muitas adversidades que só se vencem se as suportarmos e aceitarmos tal como são, sem grandes explicações ou sentidos, sem perder tempo, nem forças, a tentar mudar o que não muda.
A nossa paz interior é essencial e preciosa. O silêncio e o discernimento, que se conseguem quando não há revolta interior, permitem-nos aceitar melhor as nossas dificuldades, escolher o caminho que queremos construir… enquanto vamos aprendendo a admirar as maravilhas deste mundo.
 
Por José Luís Nunes Martins
publicado em 11 Out 2014 Jornal "i"
 

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