“Já não existem amizades como
antigamente” é uma frase que passa de boca em boca com alguma frequência e de
certo modo corresponde à realidade de quem as vivenciou em épocas anteriores.
Mas a sociedade mudou e os valores também se alteraram. Vive-se num período em
que a amizade é um meio para atingir um fim, um sentimento descartável; recorre-se
a ela quando há necessidade, atropela-se, esmaga-se se for preciso e “deita-se
no lixo” quando já não faz falta. Assim sendo talvez seja importante refletir e
encontrar a melhor forma de redefinir o conceito de amizade! Conceito esse que,
evidentemente assentará em princípios diferentes dos existentes há por exemplo
quarenta anos a trás.
Num velho livro gasto pelo
tempo consegue-se ler uma lenda árabe que descreve uma viagem de dois amigos
pelo deserto e que em determinado momento tiveram uma grande discussão. Não se
sabe o porquê da mesma. Mas o certo é que um deles de tão ofendido que ficou,
ainda que não lhe dissesse nada escreveu na areia: “hoje o meu melhor amigo
bateu-me na cara”.
Continuaram a caminhar e assim
que chegaram junto de um oásis não resistiram e foram tomar banho. O que havia
sido esbofeteado começou a afogar-se mas o amigo salvou-o. Ao recuperar, pegou
numa pedra e sobre outra pedra escreveu “hoje o meu melhor amigo salvou-me a
vida”. Intrigado, o amigo perguntou-lhe porque escrevera na areia quando lhe
batera no rosto e numa pedra quando o ajudara no oásis. Sorrindo o outro
respondeu-lhe que quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever na areia
o que o vento do esquecimento e do perdão se encarregará de apagar, porém
quando ele nos faz algo de grandioso, devemos gravá-lo na pedra da memória do
coração, que vento nenhum do mundo poderá apagar.
Todas as lendas são especiais porque
cada individuo que as lê sente-se mais ou menos tocado por elas.
Dalai Lama considera que “o
verdadeiro herói é aquele que vence a sua própria raiva e ódio… sem amor não
poderíamos sobreviver. Os seres humanos são criaturas sociais e sentir-se
valorizado pelos outros é a própria base da vida em comunidade”.
Seja na família, no trabalho ou
nos amigos há que apagar da memória os pequenos desentendimentos que surgem
diariamente. Por outro lado contrariar aquilo que normalmente acontece e que é
lembrar as coisas boas, falar sobre elas e porque não ter a humildade de
agradecer. Pois a tendência do individuo é criticar o que está menos bem partindo
do pressuposto que quando corre bem é quase uma obrigação daí a ausência de
agradecimento.
Fique-se com o pensamento de
Charles Chaplin “ às vezes só precisamos de alguém que nos ouça. Que não nos
julgue, que não nos subestime, que não nos analise, apenas nos oiça” que se
resume numa amizade incondicional.
anabelaviegasconceicao@gmail.com
Psicóloga Clínica
Sem comentários:
Enviar um comentário