Declaração
final do Sínodo Extraordinário dos Bispos (18 de Outubro de 2014)
Existe, antes
de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento
da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do
stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida
familiar.
Assiste-se,
assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, em modo
apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da
reconciliação e também do sacrifício.
Os fracassos dão, assim, origem a novas relações,
novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares
complexas e problemáticas para a escolha cristã.
Entre estes
desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência.
Pensemos no
sofrimento que pode aparecer num filho portador de deficiência, numa doença
grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É
admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações
com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada
ou infligida, mas como alguma coisa que lhes é doada e que eles doam, vendo
Cristo sofredor naquelas carnes doentes.
Pensemos às
dificuldades económicas causadas por sistemas perversos, pelo “fetichismo do
dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo
verdadeiramente humano” (Evangelii Gaudium 55), que humilha a dignidade das
pessoas.
Pensemos ao pai
ou à mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias de
suas famílias, e aos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem
expectativas, e que podem tornar-se presa dos desvios na droga e na
criminalidade.
Pensemos também
na multidão das famílias pobres, àquelas que se agarram em um barco para
atingir uma meta de sobrevivência, às famílias refugiadas que sem esperança
migram nos desertos, àquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus
valores espirituais e humanos, àquelas atingidas pela brutalidade das guerras e
das opressões.
Pensemos também
às mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de
pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles
que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e aos membros de
tantas famílias humilhadas e em dificuldade.
“A cultura do
bem-estar anestesia-nos e (...) todas estas vidas ceifadas por falta de
possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma
alguma” (Evangelii Gaudium, 54).
(…..)
Cristo quis que
a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem excluir
ninguém.
(….)
Existe,
contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das
cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas
cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas.
Esta luz, na
vida nupcial dos cônjuges, acende-se com o encontro: é um dom, uma graça que se
expressa – como diz o Livro do Génesis (2,18) – quando os dois vultos estão um
diante o outro, numa “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca.
O amor do homem
e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser
si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre
e se revela no dom mútuo.
É isto que
manifesta em modo sugestivo a mulher do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é
para mim e eu sou sua...eu sou do meu amado e meu amado é meu”, (Cnt 2,16;
6,3).
Sem comentários:
Enviar um comentário