A paciência é a força que nos permite suportar tranquilamente o que é doloroso, elevando-nos acima da tristeza nisso implicada.
Um olhar atento sobre o mundo humano fará perceber sem dificuldade que a paciência é a sabedoria posta em prática. Mais se conquista com a determinação de um fundo que não esmorece, do que com forças explosivas que tão depressa aparecem como se desvanecem sem deixar rasto. Qualquer caçador ou pescador, artista ou cientista, poeta ou general, saberá que os bons resultados demoram, sempre. É essencial pois dominar a ânsia de precipitar e manipular os tempos. O homem não é senhor do tempo, mas pode e deve ser senhor de si mesmo.
Os fardos da nossa existência carregam-se de forma mais tranquila quando nos damos conta do vigor que temos para os transportar. Quando percebemos que a força dos ombros é maior que o peso da cruz.
O tempo não se respeita senão a si mesmo, segue o seu ritmo sem cuidar de se demorar neste intervalo mais do que naquele... quase tudo passa, quase tudo cresce e quase tudo morre. Há tempo para tudo, saiba o homem aproveitar aquele em que lhe é dado ser... quase tudo!
Claro que parece sempre pouco o tempo de quem tarde se dá conta desta essência dinâmica da vida. Mas, ainda assim, será bem mais sábio ajustar-se ao ritmo natural da sua existência do que tentar recuperar tempos desperdiçados, numa lógica que abdica do hoje tentando sempre sem sucesso resgatar o ontem, não se dando conta do amanhã que também desaparecerá se se continuar perdido dentro da sua própria vida.
No amor (em qualquer relação com o outro) a paciência é a virtude essencial.
Cada homem é um ser no tempo.
Ninguém é o que é agora.
Um instante é sempre enganador, porque a nossa realidade profunda é dinâmica e duradoura, como uma chama ou uma nascente que só podem ser o que são no tempo, num perpétuo devir, que dura muito mais que um só momento. Por isso nos enganamos muitas vezes, quando à pressa, complicamos com imaginação aquilo que o tempo preencheria com simplicidade.
Amar é vincular-se a um infinito numa disponibilidade generosa para abraçar a vida de alguém.
Não se deve confundir a paciência com preguiças, medos ou impotências, pois a firme constância é uma virtude activa que persevera em nome do bem maior pelo qual aspira.
Mas uma espera obriga a suportar todo o tipo de ataques, exteriores e interiores. As esperas doem. As esperas fazem sofrem.
Quando vivemos na paciência, somos senhores da renúncia e escravos da liberdade... optamos por uma guerra profunda contra o pior de nós mesmos. Numa tranquilidade aparente que raras vezes permite adivinhar o heroísmo que nos vai dentro.
As esperas permitem descobrir e filtrar entre os homens aqueles que têm maior valor... são os que ficam, quando os outros, entretanto, se foram - levados por uma força qualquer daquelas que se alimentam das nossas fraquezas.
Os muros de solidão que crescem em torno de nós, sempre que desistimos de ter fé, são como muralhas de castelo que nos impossibilitam de ser o que realmente somos, que impedem que o nosso amor chegue aos outros... abortando-nos.
A esperança é a arte da espera. Há que ser paciente perante a dúvida, diante da pressa, face a face com os pesadelos reais.
O homem paciente vive acima do seu sofrimento. Constante na sua firmeza, sofre mas faz o seu caminho para diante. Carrega a vida e a dores com as suas esperanças, numa paz que é a suprema coragem.
José Luís Nunes Martins,
Investigador
in Jornal "I" de 6 de Abril de 2013
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