Casar ou juntar-se ?
Nossa cultura não entende o matrimônio: contempla-o com uma simples cerimônia (quanto mais luxuosa e extravagante, melhor), um contrato rescindível, um compromisso...
Algo que, sem ser falso, torna-se demasiado pobre.
Em sua essência mais íntima, as bodas constituem uma expressão refinada de liberdade e amor. É, sim, um ato profundíssimo, inigualável, pelo qual duas pessoas se entregam plenamente e decidem se amar por toda a vida.
Vela a pena dedicar toda a vida a amar cada vez melhor e mais intensamente, porque só para isso viemos a este mundo.
Daí que, na realidade, essa seja a única coisa que merece nossa dedicação: tudo o mais deveria ser apenas um meio para consegui-lo; “Ao entardecer de nossa existência – repetia são João da Cruz – seremos julgados pelo amor”.
Pois bem, quando me caso, estabeleço as condições para me consagrar sem reservas à tarefa de amar.
Quando me junto, porém, tudo se torna inseguro: a relação pode se romper a qualquer momento. Não tenho certeza de que o outro vai se esforçar seriamente em me amar, em dividir as alegrias e superar os atritos e conflitos do trato quotidiano: por que haveria eu de fazê-lo?
Ante as dificuldades que com certeza surgirão, a tentação de abandonar a empresa se apresenta muito imediata, uma vez que nada impede esta deserção.
A simples convivência cria um clima psíquico que faz perigar o objetivo fundamental e entusiasmante do matrimônio: aumentar, intensificar e melhorar o amor e, com ele, a felicidade.
Os papéis, o reconhecimento social não são de modo algum o importante; mas com relação à confirmação externa da mútua entrega, tornam-se imprescindíveis.
É verdade que, à vista do exposto, muitos se perguntam: como posso eu me comprometer a algo para toda a vida, se não sei o que me espera?
Como posso ter certeza de que escolhi bem meu par?
Ao que acrescento que para isso aí está o namoro, um período muito bom, que oferece a oportunidade de conhecimento mútuo e de começar a entrever como será a vida em comum.
Depois, se sou como devo, já sei suficientemente o que acontecerá quando me casar: sei, na realidade, que vou colocar todo o esforço para amar a outra pessoa e procurar que ela seja muito feliz.
E se tiver sido um propósito sério, se tivermos sido prudentes e nos conhecemos o bastante, isso será compartilhado pelo futuro cônjuge: o amor chama o amor. Podemos, portanto, ter certeza de que vamos tentar por todos os meios. E então, é muito difícil, quase impossível, que o matrimônio fracasse.
Por outro lado, está estatisticamente comprovado que a convivência antes do matrimônio nunca produz efeitos benéficos: nunca!
Por exemplo:
a) os divórcios são muito mais frequentes entre os que conviveram antes de contrair matrimônio;
b) as atitudes dos jovens que começam a ter trato íntimo pioraram notavelmente e a olhos vistos, desde este momento; tornam-se mais possessivos, mais ciumentos e controladores, mais desconfiados e resmungões, inclusive mais desagradáveis.
O namoro um tanto “avançado” –, não só não proporciona dados confiáveis sobre seu futuro, mas que em muitos casos até os mascara.
Por isso, diante de uma opinião muito difundida, caberia afirmar que ”viver (e deitar-se) juntos” é a melhor maneira de não saber em absoluto como vai agir a outra pessoa durante o casamento.
De facto, é fácil darmo-nos conta de que a situação que se cria em tais circunstâncias é absolutamente artificial... e muito diferente do que será a vida em comum, dia a dia – não apenas “noite a noite” –, quando ambos estiverem casados.
Tomás Melendo Granados
Catedrático de Filosofia (Metafísica)
Diretor dos Estudos Universitários em ciência para a Família - Universidade de Málaga
www.masterenfamilias.com
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