quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Uma Porta Amiga- Tavira Entrevista à presidente

Entrevista


Breve nota biográfica da Presidente

Maria Joana Caralinda Nobre de Oliveira,
Sócia Fundadora da Associação “Uma Porta Amiga”.

1) Quando surgiu a Associação “Uma Porta Amiga” e quais os motivos que levaram à sua criação?

R) A Associação foi fundada no dia 29 de Dezembro de 2000 – Ao longo das nossas actividades profissionais e experiência diária, de ouvir jovens adolescentes e jovens adultos e respectivas famílias, deparamo-nos com experiências e vivências de vida, angustiantes, cujos resultados foram tantas vezes diferente daquilo que desejavam ser e ter, prolongando estados de insucesso, de desintegração, tristeza e dor para os próprios e para os seus. Quando não existe um perfil patológico, não se chega a delinquente, toxicodependente ou a marginal, por acaso. É um longo trajecto de mal-estar psicossocial que começa nos primeiros anos de vida. São histórias de abandono, negligência, maus-tratos, jovens cujos pais os abandonaram, ou que, quando estão presentes, não tem uma relação de boa qualidade emocional. Cresceram em total desamparo, com valores inversos e negativos, onde a revolta, a fuga, a agressividade contra si e/ou contra os outros não é mais que uma exteriorização de um sofrimento interior não cuidado. Muitos foram punidos, pesadamente pela vida e pela justiça.
Questionámo-nos se fazia sentido punir ou ser punido sem que antes se tenha tentado proteger, e educar?!!....

Em muitos destes jovens, destes pais, vimos o desejo de reparar o mal gerado, de crescer e amar com dignidade, equilíbrio e sem dor. Muitos tinham apoios mas, poucos eram aqueles que foram orientados ou ensinados, a fazer bom uso desse auxílio.
Confiante que, em toda criança existe a possibilidade de um grande homem, nasceu a vontade de ensinar, de educar e proteger de uma forma mais direccionada, e o desejo de ensinar que:
“Crescer é ser-se como um rio em que os pais serão as margens, se elas se tornarem apertadas, transbordará, se não as tiver, pode crescer em todas as direcções e, sendo assim, ser tudo é ser coisa nenhuma”.
As crianças são o património de valores de uma nação, mas todas elas são dependentes do investimento que a família e a sociedade faz no seu crescimento harmónico. Se a primeira dependência é da família, esta, tem que ser protegida, auxiliada, e quando necessário ensinada, para que possa e tenha condições de criar limites, regras, poderes, deveres e obrigações de modo a gerar riqueza de valores interiores, e não gerar jovens deformados que mais tarde serão adultos não rentáveis para si próprios e para a sociedade.
Foi neste espírito que nasceu esta Associação, com o objectivo de ser uma estrutura de apoio e escola para pais e filhos, procurando responder às muitas necessidades dos mesmos, criando oportunidades para todos, de forma que não sejam coisa nenhuma, mas sim sujeitos geradores de valores e riqueza social e humana, visando o seu bem o do outrem e de quantos lhe cercam o esforço. Contribuindo assim, para uma Sociedade bem melhor, e um futuro mais digno.

2) Quais as competências desta Associação?

R) São da competência desta instituição apoiar e orientar a criança e/ou jovem, promover a relação familiar, o estimular mudanças de atitudes e de comportamentos, fortalecer e aumentar as competências parentais e sociais. Desenvolver actividades que impeçam ou dificultem comportamentos de risco e estimulem a relação com o meio envolvente, entre jovens e adultos. Dar vida a iniciativas que promovam a integração, de modo a descentralizar o individuo de si mesmo e, reviver o sentimento de utilidade e de agente activo na sociedade.
Porque a prevenção reduz a incidência de futuros problemas intervimos prevenindo, tambem ao nível da primeira infância, para bem cedo fortalecer os laços familiares e consolidar a família, pois que, o lar é o melhor educandário, onde as lições ai ministradas são vivas, carregadas de emoção e força.

São ainda da competência desta instituição o apoio psico e sócio-terapeutico às crianças, jovens e família, apoiar na área da saúde e da educação.

3) Que projectos têm sido desenvolvidos e que balanço faz da actividade de “Uma Porta Amiga”?

R) Muitos são os projectos desenvolvidos ao longo dos anos, citamos alguns:
• Acompanhamento Social e Visitas Domiciliárias
• Apoio Escolar
• Acompanhamento Educativo
• Terapia da Fala
• Distribuição de Alimentos
• Estimulação Precoce
• Acompanhamento de Processos de RSI
• Atendimento Psicológico e Psicossocial a Crianças e Adultos
• Consultas de Pedopsiquiatria
• Intervenção nas escolas
• Ciclo de Conversas (onde são estimulados o convívio entre a população e a partilha de saberes e conhecimentos)
• Grupo de Ajuda (é prestado esclarecimento sobre os apoios dados pelo Estado nas mais diversas áreas assim como, outras informações pertinentes)
• Projecto “Pais à Conversa” (momento de partilha de receios, dificuldades, experiências e esclarecimentos)
• Actividades ao longo do ano: Atelier de expressão Plástica
Atelier de Ponto Cruz
Teatro
Hora do conto (para toda a comunidade)
Futebol de Rua (duas equipas)
Atelier Descobrir (trabalha-se os sentimentos)
Debates Temáticos
Atelier de Hip-Hop
Visitas a Espaços Culturais
Actividades ao Ar Livre
Participação em eventos promovidos pela Autarquia
Festejo de datas relevantes
• Actividades de Verão: idas à praia, museus, parques naturais e de diversão, jardim zoológico, quintas pedagógicas.

Todas as actividades e projectos, são gratuitos e têm o tempo de vida da própria instituição, alguns foram reformulados outros melhorados. Preconizando um balanço muito positivo na instituição e no servir a população.

4) Que outros projectos gostaria de ver concretizados?

R) Pelo número de jovens e de famílias que connosco partilham o nosso dia-a-dia e recorrem aos nossos serviços torna-se pertinente a concretização do projecto “Centro de Convívio” revertido no momento, no projecto “Associativismo Juvenil”como prevenção na redução de problemas e estimulação da autonomia, responsabilidade, alegria pela vida, prazer do convívio, sentimento de ser útil, de receber e de dar atenção às manifestações da vida e de pertença, duma forma mais persistente e regular. Para tal urge um espaço que dê resposta á criatividade e espontaneidade dos jovens.

Outro projecto que gostaríamos de tornar realidade no mais curto espaço de tempo sao os “Apartamentos de Autonomizaçao”, - apartamento inserido na comunidade local - destinada a apoiar a transição para a vida adulta de jovens que possuem competências pessoais específicas, através da dinamização de serviços que articulem e potenciem recursos existentes nos espaços territoriais, criando assim iguais oportunidades para todos.

Por ultimo iniciar com a Formaçao Profissional de acordo com a metodologia e perfil de intervençao a que instituiçao tem acarinhado e apostado para o Bem Estar dos jovens visados.

5) Quais as principais dificuldades com que se tem deparado?

R) Sem duvida a maior dificuldade tem sido o criar um trabalho de parceria e em rede, de forma a rentabilizar os recursos sociais existentes. Confundindo-se muitas vezes a partilha pelo fazer em espelho. Em detrimento do preencher uma malha social que necessita que sejamos alguma coisa e não tudo, para depois não sermos nada.

6) Como encara o trabalho realizado, em Tavira, em termos de acção social?

R) A sociedade sofre mudanças na forma, no estilo e sobretudo nos ritmos de vida das famílias-padrão, cientes de que a criança é sempre dependente, de algum modo, da qualidade humana dos adultos que a rodeiam, muito nos congratulamos pela oportunidade de poder contribuir para o desenvolvimento sócio-afectivo desta franja da população e sobretudo daqueles que são a Geração Futura. Apesar da aspereza do caminho é urgente a coragem de avançar para uma politica de prevenção que previna e se abandonem as pseudo-intervenções que, mais do que por em risco a percepção da eficácia das intervenções pontuais, poderão pôr em risco a percepção da eficácia da própria prevenção.


Porque os meus, os vossos e os filhos dos outros são nossos filhos também, nos empenhamos neste projecto. Muito Obrigada

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