domingo, 9 de março de 2014

Nova geração de líderes precisa-se!

“A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”, afirmava Nelson Mandela.
A frase, sobejamente conhecida, serve para dar o mote ao artigo que se segue, escrito por Christopher Gergen, CEO da Forward Impact, professor de Inovação e Empreendedorismo na Duke University e membro do Center for Creative Leadership e por Lyndon Rego, director global do Center for Creative Leadership’s Leadership Beyond Boundaries, uma iniciativa que tem como objectivo conferir uma maior escala ao desenvolvimento da liderança no mundo.
“O que é possível fazer para desenvolver uma nova geração de líderes competentes e com espírito empreendedor nas nossas escolas? São muitas as palavras ocas que utilizamos ao serviço de ideias como a “aprendizagem do século XXI” ou o “desenvolvimento da liderança empreendedora”, mas a realidade é que a vasta maioria das escolas não prepara, de forma adequada, os seus estudantes para liderarem e colaborarem entre si de forma a criar uma mudança positiva no mundo. Felizmente, existem exemplos brilhantes de escolas com as quais é possível aprender – escolas que chamam a si a responsabilidade de preparar todos os seus alunos para virem a ser líderes ‘fazedores da mudança’.
Um exemplo destas escolas reside em Ahmedabad, na Índia. Um grupo de alunos do 5º ano da Riverside School trabalha numa fábrica, enrolando, de forma entediante, os paus de incenso tradicionais, ao longo de oito horas. E isto não é uma forma de trabalho escravo, mas uma importante lição curricular idealizada pela escola para ensinar empatia. As crianças deixam a fábrica exaustas, mas também despertas para as necessidades do mundo e, muitas vezes, sentindo o peso de se comprometerem em fazer algo sobre o trabalho infantil.
Em Joanesburgo, na África do Sul, líderes emergentes de todo o continente participam em sessões laboratoriais na African Leadership Academy, onde lhes é ensinado os princípios do “design thinking”, ao mesmo tempo que apreendem, de forma aprofundada, as necessidades das suas comunidades locais e desenvolvem e implementam soluções sustentáveis através do Student Enterprise Program que a escola oferece.
Saltando para um outro continente, na Ravenscroft School, em Raleigh, Carolina do Norte, os estudantes entre os 5 e os 18 anos são expostos a lições ou experiências nas quais treinam as suas competências de trabalho em equipa e colaboração, inovação e execução, capacidades inventivas e persistência adaptativa, enquanto se empenham a colocar os seus projectos de mudança em acção.
Na WeSchool e na iFEEL, uma escola de negócios sedeada em Bombaim, na Índia, um programa de sete meses denominado Global Citizen Leader oferece, como trabalho aos seus alunos do primeiro ano, uma compreensão aprofundada no que respeita à vida dos pobres e a co-criação de soluções para o alívio da pobreza. Uma avaliação formal realizada no final do programa comprovou que 92% dos alunos afirmaram sentir uma consciencialização social muito maior, bem como níveis de empatia muito mais elevados. Adicionalmente, 80% destes mesmos estudantes indicaram ter disponibilidade para abordarem desafios sociais sentindo, ao mesmo tempo, que tinham adquirido capacidades para criarem a mudança.
Os esforços pioneiros destas escolas estão, propositadamente, a incorporar a liderança ‘fazedora de mudança’ na jornada educativa de todos os seus estudantes através da implementação de uma estratégia integrada, profunda e sistémica, a qual, ao envolver todos os estudantes, os prepara para serem líderes motivados e movidos pelos ‘resultados’. Adicionalmente, estas mesmas escolas reconhecem que preparar os estudantes para se tornarem líderes efectivos e esclarecidos é crucial para as suas possibilidades futuras de emprego, para terem vidas plenas de significado e para oferecerem o seu contributo efectivo para uma sociedade que vive tempos crescentemente difíceis.

© DR
A necessidade de se pensar diferente no que respeita a preparar os mais novos para o futuro é estimulada por um conjunto de grandes forças. Uma é a da própria geração millenial. Cerca de metade dos habitantes actuais do planeta têm menos de 30 anos. Estas centenas de milhões de jovens nascidos na era digital são os mais informados e mais relacionados/interligados de sempre. Habituaram-se a viver numa era de democracia disseminada, com expectativas de liberdade e igualdade. Têm consciência e sentem-se angustiados devido ao estado ambiental, económico e político em que se encontra o mundo. A mudança é algo que ocupa significativamente a sua mente: o mundo que temos não é aquele que desejam. O interesse dos jovens em contribuir para a mudança está expresso no “surto” de programas de empreendedorismo social que existem em muitas universidades e no facto de irem, em massa, para as ruas, defendendo causas diversas: contra a disparidade económica no movimento Occupy nos Estados Unidos, pela representação política na Primavera Árabe, contra a corrupção em Lokpal Bill na Índia e pela educação acessível no Movimento Estudantil Chileno. Estes movimentos representam a prontidão dos jovens em se organizarem e vocalizarem as suas preocupações.
Todavia, e apesar de estes jovens desejarem e esperarem mais, as suas oportunidades são elusivas. O crescimento do emprego não está a acompanhar o ritmo das escolas e dos alunos com estudos superiores. O estado actual do desemprego jovem é igualmente dramático face à recessão económica que caracteriza muitos países europeus, com taxas de desemprego [jovem] superiores a 50% na Espanha e na Grécia, por exemplo.
A inexistência de empregos é agravada pela ausência de competências entre aqueles que têm bons níveis de educação. Os empregadores declaram, a nível global [veja o artigo no VER – Como sair do vale do desemprego – que se concentra exactamente nesta questão] que as instituições educativas não estão a preparar, de forma adequada, os jovens com as competências necessárias e exigíveis pelos empregos que se encontram disponíveis. E este défice é mais aprofundado na área das soft skills [também no VER, o artigo “O desencontro entre a oferta e a procura” foca também esta temática]. Em “Expanding the Leadership Equation”, um inquérito realizado pelo Center for Creative Leadership sobre as competências da força laboral, os executivos nomearam a automotivação, a comunicação, a agilidade na aprendizagem, o autoconhecimento e a adaptabilidade como as competências essenciais exigidas para o sucesso no ambiente laboral da actualidade. Adicionalmente, 90% dos entrevistados indicam que o desenvolvimento das competências de liderança deverá ser iniciado antes dos 18 anos.
Existe assim uma necessidade urgente de os jovens desenvolverem estas competências práticas exigidas pelos empregadores. Nas instituições educativas já mencionadas – tal como a Riverside School, a African Leadership Academy, a Ravenscoft e a WeSchool, - o enfoque é exactamente na agilidade em termos de aprendizagem e a aplicação prática dessa mesma aprendizagem. Mais importante ainda é o facto de estas escolas privilegiarem o envolvimento social como um meio de desenvolver a criatividade, a colaboração, a comunicação e a resiliência. Para os próprios estudantes, a “auto-clareza”, o relacionamento e a capacidade de colocar ideias em acção para uma mudança sustentável e positiva são as competências de que precisam para viverem uma vida bem direccionada e com significado.
Precisamos que mais escolas – ou melhor, que todas as escolas – se afastem dos modelos tradicionais de ensino “de cima para baixo”, com poucas oportunidades de experimentação de solução de problemas, autodescoberta e co-criação colaborativa. Precisamos de um novo futuro no qual o desenvolvimento de uma liderança empreendedora esteja integrado em qualquer que seja a faceta de aprendizagem, e para todos os alunos. As exigências do mundo são demasiado grandes para que se evite esta mudança. Temos já modelos que estão a funcionar bem. É tempo agora de interligar este trabalho e começar a implementá-lo, em grande escala e globalmente

Fonte: VER

Sem comentários: