sábado, 30 de agosto de 2008

Voo TAP 537


Foi mais uma luta pela vida. Da unidade de cuidados intensivos do Hospital MÁV de Budapeste para a unidade de cuidados intensivos do Hospital de S. José, em Lisboa. Entre ambos distavam 4 mil quilómetros, 4 horas de avião, mais 1 hora de trajectos de ambulância. À aterragem em Lisboa, os passageiros irromperam numa forte e prolongada salva de palmas, pouco usual hoje em dia de tão banais que se tornaram as viagens de avião. Eram palmas para o Comandante, palmas para a tripulação, palmas para a equipa médica
José Eduardo, 76 anos, com uma grave hemorragia interna, com origem em varizes do esófago e do estômago, as quais já tinham sido objecto de uma complexa intervenção cirúrgica há 6 anos, vinha a bordo, sedado, ventilado, monitorado constantemente por um médico da Lusoambulâncias e pela enfermeira Paula Real, ambos muito experientes em operações de socorro em helicópteros do INEM..O José Eduardo e a esposa, Maria de Lourdes, encontravam-se em viagem pela Europa Central quando sucedeu a indisposição e uma primeira hemorragia. Tinham visitado Praga, Bratislava, Viena, estavam agora em Budapeste. Motivo da viagem: comemoração de 50 anos de casados. A cerimónia religiosa já ocorrera em Julho, na Igreja de Arroios, freguesia onde viveram desde o 1º dia de casados. Quanto à viagem, tinha tido luz verde do médico assistente, como outras em anos anteriores. Tudo correu bem até à véspera do regresso a Lisboa, dia em que se deram as perdas de sangue. No Hospital MÁV, os médicos húngaros tentaram estancar as hemorragias recorrentes mas não se mostravam disponíveis para considerar uma intervenção cirúrgica de alto risco. Só numa situação extrema avançariam com uma intervenção. Organizar a operação de repatriamento em contra-relógio também se revelava complicado, ainda assim a melhor opção para tentar uma recuperação com todos os recursos disponíveis e todos os dados clínicos em Lisboa.
Transformar uma pequena fracção de um avião comercial em avião hospital tentando causar o mínimo transtorno aos passageiros, e com os apertados timings da aviação civil, foi um trabalho árduo para a tripulação, médicos, e para as áreas operacionais da TAP envolvidas. Felizmente, o José Eduardo chegou em condição estável a S. José. Para trás ficam 5 dias de hospital na Hungria com um apoio muito dedicado dos médicos locais e também de algumas pessoas formidáveis, tanto portuguesas como húngaras que deram preciosas ajudas na tradução de documentos e no apoio à família. Como Antónia Kovacs, húngara, empresária local e muito activa nos circuitos turísticos entre Portugal e destinos da Europa Central, de uma generosidade ímpar. Como Katalin Kraftsik, húngara, funcionária superior do AICEP local, destacada para servir de interlocutora com os médicos do MÁV, suprindo assim o AICEP as naturais dificuldades da embaixada portuguesa, muito limitada em termos de pessoal. E como os muitos funcionários TAP Portugal que com grande profissionalismo viabilizaram esta corrida contra o tempo entre dois hospitais.

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