Beijing 2008
Quando a China despertar, o mundo tremerá… A frase terá sido pronunciada por Napoleão Bonaparte. O autor do livro com essa mesma frase foi Alain Peyrefitte, ministro e escritor francês, falecido em 1999.
Alain Peyrefitte era ministro da educação do governo francês em 1968, aquando da revolta estudantil de Maio desse ano, tendo sido demitido pela sua posição demasiado conservadora, insuficientemente conciliadora. Mas foi em 1973 que o seu livro sobre a China foi publicado. Curiosamente nesse ano de 1973 o mundo, e em particular a economia mundial, estremeceram, não por qualquer acontecimento registado na Ásia, mas sim em resultado do 1º choque petrolífero, com a OPEP e os países árabes a determinarem um embargo às exportações de petróleo, tendo os preços do barril de petróleo quadruplicado em apenas 4 meses.
35 anos depois do 1º choque petrolífero, os preços do petróleo voltam a ameaçar dramaticamente a economia mundial, tendo desta vez quadruplicado, não em 4 meses, mas em 4 anos, ainda assim fazendo soar alarmes um pouco por todo o lado, em especial nas economias da OCDE.
35 anos depois, a China e a sua economia pesam cada vez mais na política internacional e no PIB mundial. A China tem hoje 20% da população mundial, 1,3 biliões de habitantes num total de 6,5 biliões. A União Europeia tem 500 milhões de habitantes, os EUA 300 milhões. Em termos económicos, o PIB chinês é estimado em cerca de 4 triliões (4 mil biliões) de dólares, contra 13 triliões dos EUA e 17 triliões da União Europeia, num total global do PIB mundial de 54 triliões, de acordo com os cálculos do FMI. Brasil, Rússia, Índia, Austrália, Canadá, Coreia, México, Turquia são países cuja dimensão económica gira hoje em torno de 1 trilião de dólares, enquanto que o Japão apresenta uma dimensão ainda equivalente à da China. Portugal tem um PIB de, ainda, aproximadamente 1/5 do desses países, 200 biliões (200 mil milhões) de dólares, ou seja, 20 mil dólares per capita, cerca de 1000 euros por mês e por habitante, em média.
35 anos após o livro de Alain Peyrefitte, a China, país anfitrião dos Jogos Olímpicos de 2008, é hoje um peso pesado na cena mundial. E é aliás apontada muitas vezes como o elemento pivot da economia internacional, responsável ora pelo encarecimento das matérias-primas, como actualmente, ora responsável pela desinflação antes verificada a nível mundial, ao longo dos anos 90, em boa parte devido às suas exportações baratas de bens manufacturados. A China tem hoje o estatuto de “fábrica do mundo”, mas outras potências ascendentes, como o Brasil e a Índia, apresentam economias mais diversificadas e equilibradas, com um espectro de produção de bens e serviços mais alargado. Além disso, a China, apesar do seu ritmo de crescimento muito elevado nos anos recentes, não está de forma alguma imune à crise económica internacional, tanto mais que é bastante dependente do exterior, quer a nível de fornecimento de matérias-primas e recursos naturais, quer a nível da saúde económica dos países seus clientes e do vigor dos seus mercados de exportação.
35 anos depois do livro de Alain Peyrefitte, e apesar da importância da China hoje, vale a pena, ainda assim, questionar vivamente um dos alicerces do sistema socio-económico chinês, a sua política demográfica, e em particular perguntar porque demorou a China tanto tempo a afirmar-se na cena internacional... Porque é que países europeus devastados pela 2ª guerra mundial se ergueram no espaço de uma geração (20 anos) e este gigante adormecido demorou 60 anos desde a Revolução de Mao Tse-tung, em 1949, a converter-se em potência mundial?
Não será que a atitude repressiva dos comunistas chineses para com a família funcionou como retardador do desenvolvimento chinês? Não será que a bárbara política de filho único decretada pelas autoridades chinesas atrasou em décadas o salto económico deste gigante? E não será que a obcecação dos governantes chineses com o controle de natalidade adiou sucessivamente o renascimento da China?
E do mesmo modo, simetricamente, não será também que as políticas ocidentais actuais, democraticamente definidas e tacitamente aceites, contra a família e a favor de toda e qualquer forma de controle de natalidade, estejam a provocar o recuo económico constante do ocidente? E que as nossas próprias políticas e práticas individuais a favor do filho único não estejam também a condenar as nossas sociedades a um prolongado Outono demográfico e a economia a um grave Inverno recessivo?
Neste Verão, e nestes jogos, pensemos nisso.
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