quinta-feira, 21 de maio de 2009

Código Da Vinci

The Da Vinci Code
Realizador: Ron Howard. Guião: Akiva Goldsman; baseado no romance de Dan Brown. Intérpre-tes: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Alfred Molina, Jürgen Prochnow, Paul Bettany, Jean Reno. 149 min. Adultos.(VXD)


As críticas demolidoras que tem recebido este filme após a sua apresentação em Cannes confirmam o que já tinham assinalado numerosos críticos e leitores inteligentes com respeito ao propalado best seller de Dan Brown. Primeiro: que é um produto comercial de ínfima qualidade. Segundo: que está ferido de falsidades históricas. E terceiro: que se tornam ofensivas e maçadoras a sua desmedida dessacralização de Jesus Cristo, a sua mistificação de Maria Madalena e a sua satanização da Igreja católica.

O romance e o filme seguem os passos do ingénuo simbologista dos Estados Unidos Robert Langdon e da recatada criptógrafa da polícia parisiense Sophie Neveu.

Após o misterioso assassinato do conservador do Museu do Louvre - avô da rapariga -, Robert e Sophie empreendem uma fuga em busca de respostas. Ser-lhes-ão dadas pelo perito historiador inglês Sir Leigh Teabing, que os esclarece sobre o culto ancestral da divindade feminina, o matrimónio entre Jesus Cristo e Maria Madalena - ambos de sangue real - e o demolidor afã da Igreja católica para ocultar esse facto, deformar a identidade do casal e perseguir os seus descendentes, protegidos ao longo dos tempos pelo Priorado de Sião, heróico guardião da verdadeira identidade do Santo Graal. Uns zelosos polícias franceses e um masoquista monge assassino do Opus Dei perseguirão este trio de modernos paladinos da liberdade.

Certamente, Ron Howard (Willow, Uma mente maravilhosa, Cinderella Man) dosifica melhor a intriga que Dan Brown, e consegue que resultem espectaculares as escassas sequências de acção e os fugazes flash-back pseudohistóricos. Por seu lado, o resto da excelente equipa técnica cumpre com vantagem, especialmente Hans Zimmer, cuja banda sonora sinfónica sustenta a narrativa até nos momentos mais grotescos, como as sangrentas flagelações do nudista monge Silas. O gravíssimo problema é que as personagens nunca superam a sua condição de títeres sem alma, movidos daqui para ali pelos rígidos fios ideológicos de Dan Brown no romance, respeitados e até fortalecidos no filme pelo guionista Akiva Goldsman.

Este motor de acção coxo, discursivo e entediante usa como combustível um corrosivo preconceito anticristão, umas gotas de ecleticismo, neo-paganismo e gnosticismo New Age - ainda que estas doutrinas excedam tanto o livro como o filme -, uma pitada de feminismo radical - um tanto hipócrita, pois o peso da acção está a cargo dos homens, e a heroína é uma indolente de primeira ordem - e, sobretudo, um potente depósito de ignorância sobre história, religião, política e, o que é pior, sobre a própria natureza humana. Em fim, os mais graves defeitos do pior cinema de Hollywood.
Jerónimo José Martín

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