Por vezes o entendimento entre
pais e filhos adolescentes não é fácil. O problema é antigo, embora se possa
talvez colocar agora com mais frequência ou de forma mais aguda, pela rápida
evolução que carateriza a sociedade atual. Em certas ocasiões, o problema surge
ao abordar-se o uso do tempo livre durante os fins-de-semana e em horários
noturnos
As diversões noturnas preocupam
cada vez mais os pais. É o tempo preferido pelos jovens para o descanso e a
diversão, constitui um negócio que oferece múltiplas possibilidades – por
vezes, não isentas de riscos para a saúde – e movimenta muito dinheiro.
Bastantes pais estão de acordo em que é difícil manter a paz e a disciplina em
casa ao tratar deste tema; as discussões sobre o horário das saídas do
fim-de-semana podem degenerar em batalha e não é fácil encontrar argumentos
convincentes para manter uma hora razoável de regresso a casa; como
consequência, a autoridade paterna pode debilitar-se. Diante deste panorama,
alguns pais procuram aumentar o controlo sobre os filhos; mas não tardam em
comprovar que esta não é a solução. Controlar não é educar.
Os filhos, ao chegar à adolescência, reclamam com veemência quotas de liberdade
que por vezes não são capazes de gerir com equilíbrio. Isto não significa que
se tenha de os privar da autonomia que lhes corresponde; trata-se de algo mais
difícil, é preciso ensinar-lhes a administrar a sua liberdade responsavelmente,
a que aprendam a dar razão do que fazem. Só então serão capazes de conseguir
uma abertura de horizontes que lhes permita aspirar a objetivos mais elevados
do que a mera diversão a qualquer preço. Por isso precisamente, educar
os filhos em liberdade significa que os pais, em certas ocasiões, hão-de
estabelecer limites aos filhos e impedir com firmeza que os ultrapassem. Os
jovens aprendem a viver em sociedade e a ser verdadeiramente livres, aprendendo
o sentido dessas regras, e explicando-lhes claramente que há pontos – deveres –
“não negociáveis”.
É possível e não há que ficar
surpreendido ao surgirem conflitos de obediência nos anos em que se forma de
modo especial o caráter e a vontade e se afirma a própria personalidade.
Em todo o caso, é importante
fazer-lhes perceber que os direitos que tantas vezes reivindicam – justamente,
por outro lado, em muitos casos – vão precedidos e acompanhados do cumprimento
dos deveres correspondentes
A educação dos jovens,
principalmente no que se refere à diversão, requer que se lhes dedique tempo,
atenção, falar com eles. No diálogo, aberto e sincero, afectuoso e inteligente,
a alma descobre a verdade de si mesma. Poder-se-ia dizer que a pessoa humana se
“constitui” através do diálogo; também por isso, a família é o lugar
privilegiado onde o homem aprende a relacionar-se com os outros e a
compreender-se a si mesmo. Nela experimenta-se o significado de amar e de ser
amado e esse ambiente gera confiança. E a confiança é o clima onde se aprende a
amar, a ser livre, a saber respeitar a liberdade do outro e a valorizar o
caráter positivo das obrigações que se têm para com os outros. Sem confiança, a
liberdade cresce raquítica.
Esse ambiente de serenidade permite que os pais possam falar com os filhos de
uma forma aberta sobre o modo como empregam o tempo livre, mantendo sempre um
tom de interesse verdadeiro, evitando o confronto, ou a criação de situações
incómodas frente ao resto da família. Evitarão assim abandonar-se à retórica do
“sermão” – que é pouco eficaz – ou a uma espécie de interrogatório –
habitualmente desagradável – ao mesmo tempo que semeiam «os critérios de juízo,
os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as
fontes inspiradoras e os modelos de vida»
[2], que
permitem fundar uma vida plena. Não faltarão ocasiões que permitam reforçar as
boas condutas; e pouco a pouco conhecerão em que ambientes se move cada um dos
filhos e como são os seus amigos.
Quando se cultivou a confiança com os filhos desde a infância, o diálogo com
eles é natural. O ambiente familiar convida a entabulá-lo, mesmo quando não
haja acordo sobre algumas questões, e é normal que o pai ou a mãe se preocupe
com as coisas do filho ou da filha. É oportuno recordar as palavras de São
Josemaria: dedicar tempo à família é
o melhor negócio. Tempo
quantitativo, feito de presença, aproveitando – por exemplo – as refeições; e
tempo qualitativo, interior, feito de momentos de intimidade, que ajudam a
criar harmonia entre os componentes da casa. Dedicar tempo aos filhos desde
pequenos facilita, na adolescência, manter conversas de certa profundidade.
Sem dúvida, é preferível antecipar
dois anos as soluções do que querer resolver os problemas um dia depois: se se
educaram as virtudes dos filhos desde pequenos, se estes experimentaram a
proximidade dos pais, é mais simples ajudá-los quando se apresentam os desafios
da adolescência. No entanto, não faltam pais que pensam que “não chegaram a
tempo”. Independentemente das causas, não conseguem propor um diálogo
construtivo ou que os filhos aceitem certas normas. E se acontecesse isto e se
caíssem no desânimo? É o momento de recordar que o trabalho de ser pais não tem
data limite de caducidade, e convencer-se de que nenhuma palavra, gesto de
carinho ou esforço, orientado para esse fim – a educação dos filhos – cairá em
saco roto. Todos – pais e filhos – queremos e necessitamos de segundas, terceiras
e mais oportunidades. Poder-se-ia dizer que a paciência é um direito e um dever
de cada membro da família: que os outros tenham paciência com os defeitos de
cada um; que cada um tenha paciência com os dos outros.
Para introduzir na família uma cultura inspirada na fé não basta, no entanto, o
diálogo. É também importante dedicar tempo à vida de família, planificando
atividades que se possam fazer em conjunto durante os fins de semana e nas
férias.
Às vezes pode tratar-se, por exemplo, de praticar algum desporto com os filhos;
outras, de organizar excursões e festas com outras famílias, ou de envolver-se
em atividades – culturais, desportivas, artísticas, de voluntariado –
organizadas por centros de formação, como são os clubes juvenis. Não se trata
de lhes entregar tudo resolvido, mas de fomentar a iniciativa dos filhos, tendo
em conta as suas preferências.
Passear num centro comercial,
comprar alguma roupa da moda, jantar num restaurante de comida rápida e ir ao
cinema é um itinerário de atividades muito habitual entre os jovens de hoje. A
oferta de ócio é dominada atualmente pela lógica do consumo. Se esse modo de se
divertir se torna habitual, é fácil que fomente hábitos individualistas,
passivos, pouco participativos e nada solidários. As indústrias da diversão e
do descanso correm o perigo de limitar a liberdade individual e desumanizar as
pessoas, mediante «manifestações degradantes e a vulgar manipulação da
sexualidade hoje tão preponderante». Na realidade, este fenómeno é totalmente
contrário à essência do lazer, que é precisamente um tempo libertador e
enriquecedor para a pessoa.
É muito aconselhável não dar aos
filhos muitos meios económicos, ensinando-lhes o valor do dinheiro e a ganhá-lo
por si próprios.
Hoje em dia, é relativamente
fácil que os jovens trabalhem, pelo menos em parte das férias. Convém animá-los
a que o façam, mas não só para ganhar dinheiro para as suas diversões, mas
também para poderem contribuir para as necessidades da família ou para ajudar o
próximo
J. Nubiola, J.M. Martín
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