segunda-feira, 16 de abril de 2012

A importância de brincar com os filhos




É necessário brincar para desfrutar da vida. Além disso aprende-se a ganhar e a perder, a usar a imaginação, a estar com os outros... e até mesmo a conviver com Deus.


Hoje em dia, em muitos países, o sistema educativo dá às crianças e jovens cada vez mais tempo livre, de modo que muitos pais são especialmente sensíveis à importância desses momentos para a educação dos seus filhos.


No entanto, por vezes, o principal temor é que “se perca o tempo” durante os períodos não letivos. Por isso, muitas famílias procuram atividades extra-escolares para os filhos; não é raro que estas possuam um certo recorte académico – um idioma ou um instrumento musical – que complete os seus estudos.

Sucede que o tempo livre possui virtualidades educativas específicas. 

Nessas horas diárias em que as obrigações académicas se interrompem, em maior ou menor medida, o jovem sente-se dono do seu próprio destino; pode fazer o que realmente quer: estar com os amigos ou com a família, cultivar hobbies, descansar e divertir-se do modo que mais o satisfaça.


Aí toma decisões que entende como próprias, porque se orientam para hierarquizar os seus interesses: o que me agradaria fazer, que tarefa deveria recomeçar ou qual poderia adiar... Pode aprender a conhecer-se melhor, descobrir novas responsabilidades e administrá-las. Em resumo, põe em jogo a sua própria liberdade de um modo mais consciente.


Por isso os pais e educadores devem valorizar o tempo livre dos que dependem deles. Porque educar é educar para ser livre e o tempo livre é, por definição, tempo de liberdade, tempo para a gratuidade, a beleza, o diálogo; tempo para todas essas coisas que não são “necessárias” mas sem as quais não se pode viver.


Este potencial educativo pode malograr-se, quer se os pais se desinteressam pelo lazer dos filhos – desde que cumpram as suas obrigações escolares – quer se apenas o encaram como uma oportunidade de “prolongar” a sua formação académica.


No primeiro caso, é fácil que os filhos se deixem levar pela comodidade ou pela preguiça e que descansem de um modo que lhes exija pouco esforço (por exemplo, com a televisão ou os videojogos).


No segundo, perde-se a especificidade educativa do tempo livre, pois este converte-se numa espécie de prolongamento da escola, organizada por iniciativa quase exclusiva dos pais. No final, infelizmente, a imagem de vida que se transmite é a de uma existência dividida entre obrigações e diversão.


Convém, portanto, que os pais avaliem, com frequência, como é que as atividades que realizam ao longo da semana contribuem para o crescimento integral dos filhos e se o seu conjunto contribui de modo equilibrado para o seu descanso e formação.


Um horário apertado significa que o filho fará muitas coisas, mas talvez não aprenda a administrar o tempo. Se se pretende que os filhos cresçam em virtudes, tem que se lhes permitir que experimentem a própria liberdade; se não se lhes dá a possibilidade de escolher as suas atividades favoritas, ou se são impedidos, na prática, de brincar ou estar com os amigos, corre-se o risco de que – quando cresçam – não saibam como divertir-se. Nessa situação, é fácil que acabem por se deixar levar pelo que a sociedade de consumo lhes oferece.


Educar no uso livre e responsável do tempo livre requer que os pais conheçam bem os filhos, porque convém propor-lhes formas de lazer que respondam aos seus interesses e capacidades, que os descansem e divirtam.


Os filhos, sobretudo quando são pequenos – e é o melhor momento para os formar neste aspeto – estão muito abertos ao que os pais lhes apresentam; e se isso os satisfaz, estão a lançar-se as bases para que descubram, por si próprios, o melhor modo de empregar os tempos de lazer.


Evidentemente, isto requer imaginação por parte dos pais e espírito de sacrifício. Por exemplo, convém moderar as atividades que consomem um tempo desproporcionado ou levem as crianças a isolar-se (como sucede quando passam horas frente ao televisor ou na internet). É melhor privilegiar aquelas que permitem cultivar relações de amizade e que o atraem espontaneamente (como costuma ser o desporto, as excursões, os jogos com outras crianças, etc).


Mas de todas as ocupações que se podem desempenhar no tempo livre, há uma que as crianças – e não só elas – preferem sobre todas as outras: brincar.

É natural, porque brincar associa-se espontaneamente à felicidade, a um lugar onde o tempo não é aborrecido, a uma vivência aberta à admiração e ao inesperado. A brincar cada um mostra a sua identidade mais própria: envolve-se com todo o seu ser, com frequência ainda mais do que em muitos dos seus trabalhos.


Brincar é, em primeiro lugar, uma prova do que será a vida: é um modo de aprender a utilizar as energias que temos à disposição, é uma avaliação de capacidades, do que podemos realizar. O animal também brinca, mas muito menos do que o homem, precisamente porque a sua aprendizagem estabiliza. As pessoas brincam durante toda a sua vida, pois podem continuar a crescer – como pessoas – sem limitação de idade.

A natureza humana serve-se da brincadeira para atingir o desenvolvimento e a maturidade. A brincar, as crianças aprendem a interpretar conhecimentos, a ensaiar as suas forças na competição, a integrar os diferentes aspetos da personalidade: brincar é um desafio contínuo.

Experimentam-se regras, que há que assumir livremente para brincar bem; fixam-se objetivos e exercitam-se na relativização das suas derrotas. Não pode haver brincadeira à margem da responsabilidade, de forma que a brincadeira contém um valor ético, ajuda-nos a ser sujeitos morais.

Por isso, o normal é brincar com outros, brincar “em sociedade”. Este caráter social está tão radicado, que mesmo quando as crianças brincam sozinhas, tendem a construir cenários fantásticos, histórias, outras personagens com quem dialogam e se relacionam. A brincar as crianças aprendem a conhecer-se e a conhecer os outros; sentem a alegria de estar e de se divertirem com outros; assimilam e imitam as atuações dos mais velhos.

Aprende-se a brincar, principalmente, na família. Viver é jogar, competir; mas viver é também cooperar, ajudar, conviver. É difícil compreender como se podem harmonizar ambos os aspetos – competir e conviver – à margem da instituição familiar. Brincar é uma das provas básicas para aprender a socializar.

Em resumo, o grande valor pedagógico de brincar reside em vincular os afetos à ação. Por isso, poucas coisas unem de um modo mais imediato pais e filhos que brincar juntos.


Os pais têm de ser amigos dos filhos, dedicando-lhes tempo. Certamente, à medida que os filhos crescem, haverá que se adaptar.

Mas isto só significa que o interesse dos pais pelo lazer dos filhos adotará novas formas.
Por exemplo, pode-se-lhes proporcionar que convidem amigos para casa, ou assistir a manifestações desportivas em que participam…
Iniciativas que, além do mais, permitem conhecer os seus amigos e as suas famílias sem dar a impressão errada de que se pretende controlá-los, ou de que se desconfia.

Pode-se também, com a ajuda de outros pais, criar ambientes lúdicos em que se organizem diversões sãs e cujas atividades se desenvolvam tendo em conta a formação integral dos participantes.

Em grego, educação (paideia) e jogo (paidiá) são termos do mesmo campo semântico. De facto, é aprendendo a jogar que se adquire, ao mesmo tempo, uma atitude muito útil para enfrentar a vida.

Embora pareça paradoxal, nem só as crianças têm necessidade de brincar. Pode até dizer-se que o homem deve brincar mais quanto mais velho for. Todos conhecemos pessoas a quem a velhice desconcertou; descobrem que não têm as forças que tinham antes e pensam que não podem enfrentar os desafios da vida.

Uma atitude que, de resto, podemos encontrar em muitos jovens, velhos prematuramente, que parecem carecer da flexibilidade necessária para enfrentar situações novas.

Pelo contrário, provavelmente já nos relacionámos com pessoas idosas que mantêm um espírito jovem: capacidade de se entusiasmar, de recomeçar, de enfrentar cada novo dia como se de um dia de estreia se tratasse. E isto apesar de, por vezes, terem limitações físicas notáveis.

Estes casos põem em evidência que, à medida que o homem cresce, tem cada vez mais importância encarar a vida com certo sentido lúdico.
Porque quem aprendeu a jogar sabe relativizar os resultados – êxitos ou fracassos – e descobrir o valor próprio do jogo; conhece a satisfação que dá experimentar novas soluções para ganhar; evita a mediocridade que procura o resultado, mas arruína a diversão. Disposições que podem aplicar-se às coisas “sérias” da vida, às tarefas habituais, às situações novas que, abordadas de outro modo, poderiam levar ao desânimo ou a um sentimento de incapacidade.

Trabalhar e brincar têm os seus tempos diversos; mas a atitude com que um e outro se planeiam não tem por que ser distinta, pois é a mesma pessoa que trabalha e que brinca.

As obras humanas são efémeras e por isso não merecem ser tomadas demasiado a sério.


J.M. Martín y J. Verdiá

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