Cuidados paliativos e morte
Depois de 20 anos a trabalhar nesta área perdeu o medo de morrer?
Nunca estive a morrer, portanto tenho essa reserva. Mas mais do que medo de morrer tenho medo de não ser capaz de viver bem.
Quando as pessoas não querem falar ou pensar na morte não percebem que perdem
uma oportunidade para distinguirem entre o que é fundamental e o que é acessório.
Tenho lidado com milhares de pessoas em fim da vida e o que elas dizem é: “Se eu soubesse o que sei hoje, tinha feito de outra maneira.”
Diz que teria menos medo de morrer se tiver acesso a cuidados paliativos. Que balanço faz da realidade nacional?
Temos 10 a 12% dos portugueses com acesso a cuidados paliativos. Temos portugueses a receber cuidados paliativos que não têm qualidade digna desse nome. Temos zonas do país – Leiria, Aveiro, Braga, Portalegre – onde não existe uma unidade credenciada de cuidados intensivos. Temos sítios em Lisboa com filas de espera de dois meses e meio, onde metade das pessoas não chegam a ter vaga.
(...)
tenho uma vida melhor por trabalhar em cuidados paliativos. A noção de que um dia vou morrer ajuda-me a acumular património.
Isabel Galriça Neto
Entrevista i
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