Natalidade: Pais desistem dos filhos que planearam
Segundo um relatório divulgado este mês pelo Eurostat, o instituto de estatísticas da União Europeia (UE), em 2008 a população portuguesa registou um saldo positivo de apenas 310 pessoas: nasceram 104 590 bebés e morreram 104 280 pessoas.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) assinala, por seu lado, que 13 em cada 100 destes bebés tinham pelo menos um pai estrangeiro, o que revela que os imigrantes estão a ter um papel importante no aumento da natalidade no país: nasceram 13 808 bebés com pelo menos um pai estrangeiro e 90 786 crianças com pai e mãe portugueses.
Apesar de medidas recentes do governo no apoio à natalidade, o índice de filhos por mulher em 2008 foi apenas de 1,37 em Portugal, quando em França, o país da Europa onde se tem mais filhos, cada mulher teve, em média, 2,2 bebés, revela o Eurostat.
«Quando eles nasceram eu não os conhecia bem e queria conhecê-los melhor: queria ser eu a ensiná-los a falar, a comer e a serem autónomos», explicou esta jornalista.
Na altura, as pessoas estranharam muito esta decisão, porque «pelos vistos ninguém nunca tinha feito este pedido e a lei, de 1994, era praticamente desconhecida, até na própria Segurança Social».
Deixou de entrar um salário em casa, mas, feitas as contas, «não pagava infantários, nem transportes, nem comida fora de casa» e estava a ensinar os filhos a serem autónomos.
«Quando regressei ao trabalho, nunca ninguém me disse nada, mas olhavam para mim como se eu tivesse parado nas fraldas, principalmente os colegas masculinos», considerou.
Hoje, os gastos com três filhos «são comportáveis, apesar de exigirem muitas opções».
Um estudo da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, apresentado em Maio, diz que mais de cinquenta por cento das portuguesas gostariam de ter mais filhos do que aqueles que têm.
O mesmo estudo realça que os inquiridos «têm 'vincada a percepção de que os filhos são caros» e consideram como muito significativo ter um trabalho que permita acompanhar os filhos.
Rui, assistente administrativo, tem três filhas, a mais nova apenas há um mês, e gostaria de ter «mais um ou dois filhos, mas é inviável».
As crianças de Rui vão partilhar o mesmo colégio de uma instituição de Solidariedade Social, comparticipado pelo Estado, onde há descontos de cinco por cento na mensalidade ao segundo filho e de dez por cento ao terceiro.
«Temos ordenados médios, o orçamento tem de ser muito bem gerido e actualmente há coisas de que temos de prescindir. É inviável ter mais filhos», afirmou, salientando que os incentivos do governo à natalidade são «demasiado pontuais» e talvez sirvam «às pessoas de baixos recursos, mas não ajudam a classe média, que continua num impasse».
Foi o trabalho que fez com que Patrícia ficasse apenas com uma filha, actualmente com nove anos.
«Inicialmente, sempre idealizei a minha vida com vários filhos e quando a minha filha fez cinco anos voltei a ter vontade de ser mãe, mas o meu marido disse-me que não, devido aos nossos horários loucos de trabalho», contou.
O seu emprego como lojista em centros comerciais e o do marido numa fábrica têxtil ocupam parte dos fins-de-semana e cortam o tempo para a família.
«Neste momento nem me passa pela cabeça ser mãe novamente. Não é a questão económica: temos falta de tempo», explicou.
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