domingo, 27 de janeiro de 2008

Ainda sobre o filme...


Este filme causa perplexidade e confusão a um crítico brasileiro que é a favor da legalização do aborto, com especial destaque para a cena do feto morto e ensaguentado que jaz, já sem vida, no chão da casa de banho:
(...)
Dito isso, meu amor colossal por crianças me leva a olhar com reprovação inquestionável (e mesmo revolta) o aborto, o que me coloca numa posição irremediavelmente contraditória e para a qual não consigo encontrar uma saída, por mais que reflita sobre o assunto (e o abrangente documentário Lake of Fire, dirigido por Tony Kaye e injustamente ignorado no Oscar deste ano, só me deixou mais confuso sobre meus próprios sentimentos). Assim, um filme como 4 Meses torna-se ainda mais bem-vindo por contribuir com o debate, já que retrata a dificuldade da jovem mãe sem perder de vista as conseqüências de seu ato – e duvido que algum dia eu consiga esquecer a imagem do chão do banheiro visto no longa. Neste aspecto, o longo e duro silêncio que se segue entre as garotas é absolutamente perfeito e demonstra a maturidade do filme: afinal, o que mais poderia ser dito àquela altura?

Emocionante, impactante e incómodo, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias me mandou para fora da sala abalado e angustiado. E aos poucos comecei a encarar seu título de uma maneira ainda mais devastadora: se a notícia da morte de alguém é sempre publicada com as datas de nascimento e falecimento ao lado do nome do indivíduo, este longa nos lembra que tudo se torna ainda mais trágico quando estas duas datas são as mesmas, transformando seu título em um estranho e inquietante obituário.

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